Autor Data 5 de Maio de 2013 Secção Policiário [1135] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2013 Prova nº 4 (Parte I) Publicação Público |
TEMPICOS E O BACALHAU À PRESSUPOSTO A. Raposo & Lena Chegara
a Primavera. Tempicos descansava na sua otomana
favorita, apreciando a vista do alto do último piso do edifício Amoreiras.
Via-se ao fundo o Tejo e o Cristo Rei. Um
copo, umas pedrinhas de gelo miúdo a tilintar. Um velho Kentucky Bourbon a
dar-lhe cor. A mão esquerda a percorrer suavemente a coluna da Geraldinha. Um engate da véspera. Uma loira exuberante
que lhe prometera acabar com o jejum da carne que atravessara… Pela
sua conspícua mente passava a confeção de uma receita de bacalhau. Quem
diria? Tempicos
congeminava o que deveria vir a ser o “bacalhau à
pressuposto”. Um prato adequado à época que se estava a viver. Um
bacalhau que não levava bacalhau! Só batatinhas assadas a murro. Do bacalhau
era só um cheirinho dado que o fiel amigo estava pelo preço do ouro. Porém... (há sempre
um porém) a cena desfaz-se, o telemóvel toca e lá se vai o bem bom e fica a
“receita” por desvendar. Tempicos fora chamado a
resolver mais um caso bicudo. Meteu-se a caminho. Vestiu a gabardina à
Bogart, o chapéu mole e o inevitável cachimbo. Num
dos poucos resistentes “chalés” de Campo de Ourique, vivia o capitão
Possidónio. Vivia, vírgula, porque acabara de ir para os anjinhos. O
capitão, segundo constava do telefonema recebido, jazia morto, no corredor
que dá acesso à porta da rua. Tempicos recebera um
pedido de ajuda da sua governante às 13,35h. Tempicos
bateu à porta, surgiu-lhe a governanta. “Que grande desgraça Sr., Inspetor (Tempicos fora visita da casa, em tempos) o patrão está
ali deitado no chão mais morto que vivo. Só não percebo se foi ele que se
matou se algum malandro o fez. Eu estava no andar de cima quando ouvi um
estrondo. Vim para baixo devagarinho porque estas pernas já não ajudam, e dei
com o patrão deitado a escorrer sangue da cabeça e com um pistolão na mão.
Sem se mexer. Aqui no corredor, junto à porta da rua. “ Tempicos perguntou-lhe
pela pistola. “Olhe,
apanhei-a e limpei-a e voltei a guardá-la na panóplia das armas do Capitão
aqui na sala de estar, não fosse alguém aleijar-se pois o patrão dizia que
estão sempre carregadas…e no chão não havia senão sangue. Lembrei-me e
telefonei-lhe logo”. Tempicos notou que a
senhora – já bastante avançada na idade e meio taralhouca – tentou fazer o
melhor e acabou fazendo o pior. Eliminou as eventuais impressões
digitais. Tempicos foi analisar a
panóplia da parede onde 4 armas de fogo diferentes se perfilavam. Com
o capitão Possidónio, além da governanta, viviam
também dois sobrinhos (aliás os únicos herdeiros) o Luizinho e o Paulinho
rapazes modernos e amigos da esbórnia. O
Paulinho tinha ido almoçar ao restaurante “Cataplana” da Rua Ferreira Borges
e estivera lá das 13 às 14.Tempicos confirmou no Restaurante. Luizinho
contou que se levantou tarde, tomou um lauto pequeno-almoço e por volta do
meio-dia foi até ao jardim da Parada e leu o seu jornal num banco de jardim.
Depois foi espreitar os “velhotes” a jogar às cartas no outro lado do jardim.
Ficou por ali a observar, os miúdos a brincar e, por volta das duas da tarde
regressou a casa. Para
complicar tudo, o capitão tinha na véspera feito um disparo com uma das armas
da sua panóplia a um gato que saltara o muro do quintal. Felizmente não
acertara mas a bala ficara incrustada no muro e fora recuperada pelo inspector. Este facto foi-lhe contado pela governanta. A
polícia científica confirmou a hora da morte, por volta das 13h e as 13,30h
de domingo. A
porta da rua estava fechada à chave quando Tempicos
chegou ao local. A governanta abriu-a quando ele tocou, com a sua chave que
mantinha sempre no avental. As
armas da panóplia eram: 1 – Revólver: calibre .45; 2 – Pistola: calibre – 6,35 mm; 3 – Pistola: calibre .32; 4 – Pistola: calibre – 9 mm. A
bala que fora extraída da cabeça da vítima era de 6,35 mm. e
a extraída do muro do quintal era de 9 mm. As
armas na panóplia estavam todas com os respetivos cartuchos exceto uma onde
faltava uma bala de calibre.38 e que fora disparada recentemente. Às 3ªas
feiras o capitão tratava da armaria. Limpava, oleava e repunha todos os
cartuchos, se necessário. Ganhara vários prémios em concursos de tiro. A
solução do caso poderia ser, como diria La Palisse,
suicídio ou crime, mas isso compete ao amigo leitor resolver e contar, o que
se passou… Tempicos estava baralhado
mas visivelmente bem-disposto. O seu Benfica já levava 4 pontos de avanço
sobre o rival. Este ano é que a vitória não iria fugir e a ser assim… Tempicos iria a pé a Fátima com a faixa de campeão
comprar uma medalhinha de Francisco, o Papa. |
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© DANIEL FALCÃO |
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