Autor

A. Raposo & Lena

 

Data

1 de Outubro de 2021

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [126]

 

Competição

Torneio de Iniciação A. Raposo

Prova nº 4

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

Solução de:

TEMPICOS E OS IRMÃOS SHERIF

A. Raposo & Lena

 

O preso na PJ era Hermann Sherif, o europeu, enquanto o muçulmano atuava em Frankfurt. Descobre-se isso por duas vias.

Um verdadeiro muçulmano não bebe álcool nem come carne de porco e, por isso, não iria pedir ao carcereiro uma sandes mista (queijo+ fiambre) e a cervejola. Note-se que, embora se faça fiambre com carne de peru, este só é servido se for expressamente solicitado.

Um verdadeiro muçulmano, quando faz as suas orações diárias, também sabe orientar-se e dirigir a sua cabeça para Meca, lugar sagrado dos muçulmanos, que fica a oriente de Lisboa. Ora no texto diz-se que, naquele fim de tarde, quando o preso se ergueu após a oração, a sua cara ficou com os quadradinhos desenhados pelo sol que entrava pela janela gradeada. Isto indica que ele estava voltado mais para os lados do poente do que do oriente, ao contrário do que um bom e verdadeiro muçulmano faria. Vê-se que o Hermann não estava habituado a orientar-se para fazer as orações prescritas pela religião muçulmana.

Mas por que motivo, nos assaltos, os Sherif se preocupavam em não deixar qualquer dedada ou resíduo orgânico e, simultaneamente, pareciam não se importar de abandonar um alicate ou uma chave de parafusos com as impressões digitais do irmão encarcerado? Bom, dentro do esquema de um dos gémeos se fazer prender para fornecer um álibi ao outro, a descoberta do ADN, em qualquer resíduo orgânico atribuível ao ladrão, levaria à acusação do mano em liberdade. É fácil ver porquê. Eles, como gémeos monozigóticos, têm o mesmo ADN, que é um aspeto potencialmente vantajoso para os dois, enquanto delinquentes, por poder conduzir a alguma indecisão. Contudo, no presente esquema, isso nada ajudaria, visto ser evidente que, face à descoberta do ADN do larápio, só ao mano em liberdade podia ser imputada a autoria do assalto. No que respeita às impressões digitais o problema é diferente. Os gémeos monozigóticos têm impressões digitais muito semelhantes, mas distinguíveis entre si. Deste modo, o truque das ferramentas marcadas, que eles com certeza trocaram previamente, tinha em vista baralhar por completo as polícias, que se viam a braços com uma prova apontada a um indivíduo que, afinal, se encontrava à sua guarda!

Convenhamos que os manos Sherif devem ter querido, acima de tudo, troçar da polícia em geral, uma vez que acrescentaram riscos desnecessários aos bem preparados assaltos que levaram a cabo. Esqueceram-se de que, para além dos inevitáveis erros, lhes podia aparecer pela frente um arguto e matreiro Tempicos, na circunstância representante de uma plêiade de policiaristas, sempre disposto a descobrir as mais pequenas falhas.

© DANIEL FALCÃO