Autor Data 10 de Novembro de 2021 Secção O Desafio dos Enigmas
[129] Competição Torneio
de Iniciação A. Raposo Prova nº 7 Publicação Audiência GP Grande Porto |
REALIDADE OU FICÇÃO A. Raposo & Lena Se
nos contassem não acreditávamos. Sem
motivo nenhum aparente, à Tertúlia Policiária da Liberdade começaram a chegar
donativos, principalmente do estrangeiro, de universidades e fundações
americanas, aparentemente todas ligadas à influência judaica naquele país. O
envelhecido, mas sempre empreendedor, núcleo duro da Tertúlia reuniu e chegou
à conclusão que o povo judaico leva tempo mas acaba por cumprir o seu dever.
Não sei se se recordam que em maio de 2009, em Cabanas de Viriato, fizemos
uma grande homenagem ao nosso Aristides, que tantas vidas salvou,
principalmente de judeus. O
dinheiro ia chegando e o nosso guarda-livros ia depositando. Como a verba já
era grossa, alguém – e bem – sugeriu construir uma casa que simbolizasse a
catividade policiária nas suas muitas vertentes. O
Búfalo macho, mal ouviu a história, começou logo a desenhar o edifício. Cloriano, o tesoureiro, começou a contar os tostões.
Peter Pan mandou vir por conta uma sangria
fresquinha para afinar a garganta e afastar o maldito fastio. A Detetive
Jeremias a contra gosto deixou escorregar mais um pastelinho de bacalhau,
para dar base ao estômago, como preventivo. Tempicos, que se
encontrava desempregado há muito e já andava farto de gatas, ofereceu-se
(contra uns trocados) para ficar responsável pela sala dos enigmas. Assim
sempre fugia da praia, do sol e principalmente das inglesas de meia-idade que
o não largavam, não se sabia muito bem porquê… Era
essa sala que serviria de exame a quem quisesse entrar para sócio efetivo da
Tertúlia. Criámos,
também, para dar prestígio, o sócio contribuinte, que só pagava e não tinha
direitos. Até
hoje ainda não se inscreveu ninguém. Porque será?,
perguntou o Nove com um ar trocista. Não
queríamos que entrasse uma multidão para sócio, pois assim o nível geral
intelectual do conjunto baixava. Só queríamos gente com dois dedos de testa e
uma boa dose de células cinzentas. Não é pedir muito, caramba! Queríamos
ser, de certa forma, uma elite para representar Portugal no mundo. Sem outras
vaidades para além das nossas, que não eram desprezíveis. O
projeto foi aprovado, a casa feita e à porta da sala dos enigmas lá estava o
“polícia” Tempicos, a fazer as provas aos
candidatos. Aqui
levantou-se uma grande celeuma. A confrade Jeremias
entendeu “amarrar o barco”. Pelo facto de ter sido vice-campeã nacional no
policiário pensava ter o direito a ter a chave da porta da sede. Tempicos, mais uma vez – com o charme habitual – deu a
volta ao problema. Pegou numa chave que tinha guardado da porta de outro
edifício e ofereceu-a à nossa Detetive. Não sei se ela ainda anda com a chave
ao pescoço, mas se descobre a marosca… Tempicos deixava entrar um
candidato e acompanhava-o até aos fundos, onde estava a porta de saída. O
candidato tinha 48 horas para apresentar a solução a um enigma figurado a que
fora sujeito durante o trajeto. Parecia simples… Tempicos aproximou-se de
um relativamente pequeno aquário onde, com espaço suficiente, diversos peixes
nadavam. Com ar de conhecedor, apontou as variedades que se iam aproximando
da sua mão, à medida que largava um pouco de alimento. Disse:
São peixes, todos eles, do estuário do Sado. Este é o alcoraz,
nome popular, ali aquele é o Mulus surmuletes, o outro é o Boops boops, e por fim a saborosa Anguilla
anguilla, como lhe chamava Linnaeus
nos velhos tempos de 1758. O
candidato tomou nota num pequeno caderno e seguiram para a sala seguinte. Uma
prateleira comprida tinha várias estatuetas. Oito bonitas figuras em madeira.
Encontravam-se pela seguinte ordem: uma Rena, um Tigre, um Leão, uma Zebra,
uma Águia e um Urubu. Duas estatuetas de Índio ladeavam o Leão. Seguia-se uma
simples carta de jogar com uma única pinta. O
candidato, que não era nada parvo, reparou que duas estatuetas tinham sido
trocadas da normal sequência, pelo pó que a prateleira apresentava. Na
parede da sala seguinte dois quadros pendurados. O primeiro representava um
céu onde voavam várias lulas. O segundo tinha pintado à esquerda um monte de
cinza. À direita a frase “de quarenta a noventa”. Pareciam ser quadros do
tipo de Salvador Dali. Mas eram mais do género de enigma figurado. Ambos os
quadros estavam assinados. Nada de gente famosa. O primeiro por “U.Menos”, o segundo por “A.Menos”.
A seguir aos quadros havia um painel pintado com um ponto de interrogação. Tempicos despediu-se do
candidato e desejou-lhe boa sorte. Boa sorte também nós desejamos aos
concorrentes. Desta vez não terão para resolver casos de sangue, facadas,
tiros e mortes. Para variar, o policiário também tem lugar para outras áreas
onde se podem utilizar as células cinzentas. “O bestunto”, como às vezes, sem
querer, diz o amigo Tempicos quando já está
“bem-disposto” com uns copitos do maduro. O amigo concorrente, com um pouco de
paciência, sabedoria, estudo e inteligência, também poderá entrar para a
Tertúlia. Para isso tem que passar neste teste e responder acertadamente ao
enigma que o seu amigo Tempicos apresenta.
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© DANIEL FALCÃO |
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