Autor Data 22 de Outubro de 1988 Secção Sábado Policiário [146] Competição Prova nº 4 Publicação Diário Popular |
Solução de: AS PÉROLAS DA BARONESA Asterix Tratou-se
de uma encenação de assalto com roubo e agressão, montada pelo barão e pela
sua mulher. Era
impossível existir um assaltante, porque este não teria caminho de fuga. A
janela do compartimento maior dava sobre uma esplanada movimentada, onde não
se verificava qualquer agitação que um salto do 3º andar provocaria. A janela
da casa de banho estava fechada. A porta estava fechada e trancada; nenhum
assaltante em fuga a fecharia e trancaria por fora. Para além disto, o
vizinho de baixo veio para a escada, antes ainda da hipotética agressão, pois
o barão só gritou depois daquele ter saído de casa. As
pérolas não se encontravam em casa, pelo que tinham mesmo sido levadas por
alguém. O
barão mentia porque, se o agressor o atacou de frente, ele não podia ter um
galo na nuca, dado que nem sequer esboçou um gesto de defesa. Se foi agredido
à entrada e desmaiou de imediato não podia ter ficado caído a meio do
compartimento, que tem três metros de lado. Se o assaltante tinha uma barra
de ferro nas mãos, como podia o barão saber que ele levara as pérolas? Mesmo
que elas estivessem à vista, o barão não podia saber, ainda mal acordado, que
as pérolas tinham sido levadas. Também não podia saber que só as pérolas tinham
sido roubadas, pois as jóias encontravam-se no armário
da casa de banho, longe do local onde ele teria sido agredido. Na
sua estória, o barão teria de mencionar a escrivaninha tombada, pois esse
facto deu-se pouco antes de ele gritar, quando estaria a entrar em casa ou
muito perto da porta. Se o vizinho de baixo ouviu, ele também ouviria. A
escrivaninha tombada serve para tentar dar um ar mais real à estória do
assalto. A
baronesa era cúmplice porque se as pérolas tinham sido levadas de casa, ela
estava ao corrente do facto, pois era a sua proprietária e daria pelo
desaparecimento. O primo, chegado das Arábias, não podia saber o que se
passava, a não ser que alguém o informasse. Quando chegou a casa do barão
demonstrou saber da agressão e do roubo. Se o investigador nada tinha dito à
baronesa, para além de que tinha havido um assalto, e ela transmitiu ao primo
mais do que essa informação (ela era a única pessoa ligada ao caso que tivera
contacto com o primo), isso significa que ela estava a par da estória que o
barão contara à Polícia, e que já se provou ser falsa. O
vizinho de baixo não pode ser acusado de cumplicidade, pois nada há que o
prove e a sua actuação é normal e não contraditória.
A sua presença, sozinho, à porta da rua, não impede que a pessoa ou pessoas
que o acompanharam, quando o barão gritou, estivessem num dos patamares
superiores, tentando ainda saber o que se passara. Fora ele quem telefonara,
é normal que fosse ele quem esperava pela Polícia. O
primo também não pode ser incriminado, pois não se duvida de que chegou efectivamente das Arábias. O telefonema para o aeroporto,
a fim de localizar a baronesa, teve êxito porque se sabia em que avião ele
chegava, facto que facilmente se comprovaria. Como não estava a par da tramóia dos primos, descaiu-se
com a revelação de um conhecimento que não deveria possuir mas que não sabia
que era comprometedor naquela ocasião. Estes
são os factos decisivos para a classificação das soluções enviadas. A presença
de um garrafão no quintal serve para demonstrar que as pérolas não estavam
nesse local. O galo na nuca do barão pode ter sido provocado por ele próprio
ou pela baronesa, antes de sair. Nada garante que o barão estivesse realmente
desmaiado. |
© DANIEL FALCÃO |
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