Autor Data 2 de Fevereiro de 2014 Secção Policiário [1174] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2014 Prova nº 1 (Parte I) Publicação Público |
UM MORTO NO RIBATEJO Beirão O
Sebastião apareceu morto. Naquele
local ermo e calmo, algures no interior do Ribatejo, em zona onde muitas vezes
os nevoeiros têm o seu reinado, um nome como o dele prestava-se a
brincadeiras a propósito da lenda que mostraria um Sebastião a aparecer numa
manhã de nevoeiro... Diziam-lhe
os amigos para ter o cuidado de nunca aparecer quando os nevoeiros tapassem a
planície, pois poderia acabar em rei... sem trono! Sebastião
não era rei de coisa nenhuma. Filho
de um modesto caseiro de uma propriedade abastada,
teve a sorte de vir ao mundo com dois palmos de cara e assim conquistar a
filha do senhor das terras, algo que não era, como é óbvio, muito bem
recebido por este. Daí
que estivesse proibido de aparecer na parte da casa dos senhores, o que não
impedia, ao que se dizia, alguns encontros furtivos. Naquela
manhã, Alarcão, proprietário e pai de Carolina, levantou-se cedo, cerca das 7
horas e como declarou mais tarde à polícia, não viu nada porque o nevoeiro
ali é mesmo cerrado e também não ouviu nada estranho, nem os cães deram
sinal, pelo que foi logo fazer aquilo que mais gostava, ou seja, tratar dos
seus cães, mas muito rapidamente porque era ainda muito cedo e o vento gelado
quase cortava a cara. O
casarão ficava na parte da frente do terreno, ainda a considerável distância
da estrada e era vedado em todo o seu perímetro por muros altos. Na parte de
trás do terreno, fora dos muros, estava a casa do caseiro, onde vivia
Sebastião. Todo
o terreno estava isolado de outros, uma vez que havia pinhais em toda a
volta, excepto na frente, onde passava a estrada.
Do lado direito, havia um caminho que dava acesso à casa do caseiro, ao longo
do muro compacto, de mais de 100 metros, apenas interrompido quase no seu
extremo, por um portão que era usado por todos os que da casa do caseiro iam
ou vinham para a casa do Alarcão. Foi
por volta das 8 horas que a mãe do moço deu com ele sem vida, quando o foi
chamar para o pequeno-almoço. Os
pais de Sebastião não deram por nada, segundo declararam, o mesmo acontecendo
com os moradores da casa de Alarcão. Os vizinhos mais próximos, do outro lado
do pinhal, disseram que apenas ouviram os cães em grande algazarra, por volta
das 7 e meia, como sempre faziam quando o seu dono regressava a casa depois
de alguma ausência e o vento estava de feição. O
padeiro da aldeia, que circulava por ali, como sempre fazia por volta daquela
hora, na faina de levar o pão de porta em porta, declarou que não deu nota de
nada e que só viu, ao olhar da estrada, o senhor Alarcão a caminhar em direcção a sua casa, vindo dos lados da casa do caseiro,
ainda não eram 8 horas. A
polícia interrogou-o durante algum tempo, sabia-se que o Sebastião namorara
com a filha dele durante muito tempo e que chegaram a ter data marcada para
casamento, mas a chegada da filha de Alarcão fez cair por terra todos os
planos, mas o interrogatório não revelou muito mais. A
filha do padeiro, por seu lado, declarou não saber nada sobre o assunto, já
que nessa madrugada e manhã estivera com a mãe a fazer o pão que o pai levava
a casa das pessoas, o que se confirmou. Alarcão
manteve a sua história e mostrou-se muito ofendido por alguém alimentar
sequer a suspeita de que ele seria capaz de fazer tal atrocidade ao moço,
mesmo querendo, como ele queria, que ele largasse a sua filha, de vez. O
Inspector não precisou de muito tempo para
descobrir que alguém não dizia toda a verdade nesta história e que apesar do
Sebastião jamais poder surgir do nevoeiro, esse alguém também não o poderia
fazer durante muito, muito tempo... Caro
detective: Elabore um relatório sem se esquecer que
não basta dizer quem mente. É preciso justificar, apresentando as provas. |
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© DANIEL FALCÃO |
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