Autor

Belém Valente

 

Data

9 de Fevereiro de 1978

 

Secção

Mistério... Policiário [152]

 

Competição

Torneio “Tertúlia Policiária do Palladium"

Problema nº 12

 

Publicação

Mundo de Aventuras [228]

 

 

Solução de:

A CRÍTICA…

Belém Valente

Solução apresentada por Mota Curto

Primeiramente, li o texto milhentas vezes; tentei dezenas de hipóteses como, por exemplo, ler o texto saltando sempre uma ou duas linhas e ler as palavras ao contrário… Só depois disso é que comecei o ler o texto com mais cuidado procurando qualquer pista que eventualmente poderia ter sido deixada pelo autor (Um bom autor, deve deixar sempre uma pista, «Sete»). Assim, no princípio do 2.o parágrafo do texto escreve-se: «O começo da leitura de uma obra teatral, mormente para o leigo, e não só, cai fatidicamente numa apresentação incompreendida pelo leitor…». Traduzindo isto «por miúdos», vê-se que já aqui o autor nos está a indicar que existe algo no texto e que esse algo é difícil de descobrir…

Na frase seguinte o autor diz-nos, indirectamente, que a «chave» está na pontuação… «A pontuação é um segundo modo de escrever». Esta frase é muito elucidativa. Embora ao princípio ela não tenha despertado muito a atenção. Agora é que se vê bem, que aquela frase está mesmo o dizer onde é que nós devemos procurar. Quando Belém Valente fala numa «boa dicção», faz-nos pensar logo em sílabas… Ele dá-nos, portanto, a ideia da divisão de letras numa mesma palavra…

«Não digo que esta seja tudo, faz falta também o acentuar de certos começos de palavras depois da, inspiração de cada pontuação».

Ele aqui, praticamente, diz qual a «chave» do problema. Embora continue a dar aquela ideia de sílabas, que eventualmente poderá levar os solucionistas em erro… Pois não são as sílabas, mas apenas as primeiras letras das palavras.

«A pontuação das primeiras letras, não deve ser desabusada, recusar-se-ia assim a verdadeira espontaneidade da representação».

É incrível como Belém Valente ao longo de todo o texto, está constantemente a indicar o «caminho». Mais, fá-lo de uma maneira tão perfeita, que estou convencido que poucos chegariam a tal perfeição. Naquela frase eu parei a pensar. Ela foi uma das que me levou à descoberta da mensagem. «A pontuação das primeiras letras (?)». Fiquei um pouco baralhado com esta afirmação, mas agora percebo que ele nos estava a dizer que, ao contrário do que poderíamos pensar, não eram as sílabas, mas sim as letras que se seguiam aos sinais de pontuação…

No 2.o parágrafo o autor dá-nos as pistas, os elementos necessários para a resolução do problema. Tudo! Está lá tudo! Agora, depois de decifrada a mensagem, ao lermos outra vez o texto, é que vemos claramente a sua «outra face»… Agora, ao lermos o texto, já não lemos uma crítica teatral, lemos sim, a solução do problema, clara como a água, e de uma simplicidade extraordinária. E como se isto não chegasse, no 3.o parágrafo o autor «dá-se ao luxo» de nos avisar que «talvez» nos tenhamos enganado… Não são as sílabas mas sim as primeiras letras que contam… O autor adivinha o caminho errado pelo qual, muitos dos possíveis solucionistas tenham seguido, e incita-os a não desistirem. Continuar, e não desistir… Belém Valente chega ao ponto de brincar com os concorrentes… Não só nos dá as pistas necessárias à resolução do problema (no 2.o parágrafo) como adivinha o caminho errado que muitos solucionistas poderiam ter seguido, e incita-os a continuar (no 3.o parágrafo). O autor, com medo de não ter sido suficientemente claro no 2.o parágrafo, compensa-se no 3.o.

Um outro pormenor que ajudou bastante foi a vírgula (,) situada a seguir à palavra «da» na 21.a linha do texto… «…depois da, inspiração de cada pontuação…».

Aquela vírgula despertou-me logo a atenção pois ela está «bestialmente» mal colocada. Direi mesmo que é ilógico colocar ali uma vírgula. Por isso estranhei logo que «dei por ela»… Depois lembrei-me de experimentar tirar uma letra, a seguir a cada sinal de pontuação e… deu resultado.

Agora, cada vez que leio o texto… sinto-me estúpido. Como já escrevi atrás, agora, o texto, para mim já não é uma crítica teatral, é sim, a solução «chapada» do problema. É fantástico como este problema consegue ser tão difícil (porque o é!) e ao mesmo tempo… tão fácil. É um problema muito bem construído (eu, em três anos, nunca tinha visto nenhum igual!) e julgo que deve ser mais ou menos difícil escrever uma «coisa» no género. É que o texto, no fundo, são dois, e não um. E são dois bem escritos e perfeitamente legíveis.

Depois da descoberta da mensagem é fácil dizer tudo isto, mas é preciso não esquecer que, antes de decifrar o problema, eu li-o «dezenas» de vezes… e apenas vi uma crítica teatral mais ou menos bem feita. Nada mais. A «segunda parte do texto», a parte escondida… É como a face escura da lua… Dá muito trabalho a descobrir.

NOTA do SETE. O que acabaram de ler, é a 3.ª parte da sua (Mota Curto) solução. Na 1.a também fala na falta do tal «e», para «golpe», admitindo «gralha» que comeu a vírgula (e é verdade!), mas que em nada altera visto que «golp» também se lê…

[NOTA do CLUBE DE DETECTIVES. Como na solução apresentada está ausente a mensagem escondida no texto, esta é: A POLÍCIA COMEÇA A DESCONFIAR TEMOS DE DAR O GOLP[E] AMANHÃ EM LISBOA. A ausência do E deve-se à gralha referida pelo SETE em “Podemos, e devê-lo-emos …”]

© DANIEL FALCÃO