Autor Data 18 de Dezembro de 1987 Secção O Detective [38] Publicação Jornal de Almada |
NATAL! Big Ben Silenciosa
e rapidamente, o vulto avançava na obscuridade do corredor. O seu objectivo estava perto!... Na sala onde se encontrava
colocada a árvore simbólica da época natalícia, relampejavam,
a espaços regulares, as luzes que enfeitavam o pinheiro. Aquele
«acende-apaga» era o seu guia… O
vulto parou à entrada do compartimento, perscrutando o interior… As lâmpadas
cintilaram e, embora fugidiamente, viu aquilo que pretendia: lá estava, junto
ao pinheiro, a prenda tão desejada! O
vulto pulou. De contentamento… Mas, nessa altura, foi infeliz; o seu incontível salto fê-lo esbarrar contra a mesinha atrás de
si, no corredor, e onde se encontravam o telefone e uma grande jarra. No
silêncio da noite, ouviu-se um estardalhaço medonho, que teve como epílogo a
jarra a desfazer-se em estilhas no pavimento de tacos. Célere, o vulto correu
para o seu quarto… Pai
Dinis acordou com o barulho. É certo que ainda há pouco se deitara, pois
estivera à espera que os filhos adormecessem para ir buscar à mala do carro
as prendas que lá estavam escondidas. Mas, a verdade, é que «ferrara» logo no
sono; no entanto, em flagrante contraste com sua esposa, despertava com
facilidade. Acendeu
o candeeiro da mesinha-de-cabeceira e olhou o
relógio despertador: duas e picos da manhã! «Que diacho
seria aquela barulheira toda?», interrogou-se. Mirou a esposa, que continuava
a dormir, sem dar por nada. De imediato, saiu da cama e foi investigar… Começou
pelo quarto dos filhos, não fosse dar-se o caso de algum deles ter caído da
cama. Não seria a primeira vez… Acendeu a luz do «hall»,
para onde abriam as portas dos quartos – do seu e dos seus filhos. Assim,
teria claridade e não os despertaria… Dirigiu-se,
primeiramente, ao quarto da Zezinha, cinco anos lindos e rabinos. Quedou-se à
entrada, olhando, amorosamente, a cena que se lhe deparava: de faces rosadas,
quase da cor da sua camisinha de noite em tafetá, agarrada à boneca favorita,
a filha dormia a sono solto. Pelo menos, assim parecia… Foi,
depois, ao quarto do Nandinho, dez anos bastante desenvolvidos em idade e
inteligência. Como já esperava, encontrou-o enrodilhado na roupa, quase
totalmente destapado, frio. Que mau dormir tinha aquele rapaz! E o costume
que ele apanhara de não querer dormir com o pijama vestido. Cuidadosamente,
consertou-lhe a posição do corpo e aconchegou-lhe a roupa, entalando-a bem no
fundo da cama, enquanto o filho resmungava um «hum-hum» sonolento. Pelo
menos, assim parecia… Pai
Dinis prosseguiu nas suas «investigações» e só voltou à cama depois de
descobrir a origem da barulheira que o acordara. Aliás, não foi difícil… Manhã
cedo ainda, os gritos de contentamento da Zezinha acordaram a casa toda. Como
um furacão, entrou no quarto dos pais, abraçando-os e beijando-os,
agradecendo-lhes a grande boneca e o respectivo
carrinho para a passear. Aquilo era, o seu sonho! Seguiu-se-lhe
o irmão. Também ele entrou de rompante e, «louco» de alegria, rivalizava com
a mana na gratidão pela prenda recebida: uma bicicleta. «Aquilo» era o seu
sonho! E
toda a família Dinis se uniu num forte abraço. De felicidade!... …
No entanto, algo estava por esclarecer… Qual o «elemento» causador de a jarra
ter caído? Querem
os leitores-solucionistas d’ «O Detective» dar uma
ajuda ao pai Dinis? Julgo que só eles o poderão fazer… |
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© DANIEL FALCÃO |
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