Autor

Bigode

 

Data

9 de Fevereiro de 2019

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [63]

 

Competição

Torneio "Solução à Vista!"

Prova nº 7

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

IDA AO TEATRO

Bigode

 

Beltrão apanhara o comboio precisamente à tabela.

Sentado na carruagem, rumo a Lisboa – para ver a revista “Passa por mim no Rossio” – lia avidamente, um livro policial, no frenesi de descobrir o criminoso. Trazia debaixo de olho uma bonita e distinta senhora, e não sabia agora onde estaria sentada. Fez uma pausa na leitura e mirou discretamente em volta à sua procura.

– Ah! Ei-la ali, de perna traçada – pensou para si próprio.

Encontrava-se outra vez embrenhado no enredo do livro, quando anunciaram a chegada à estação de Santa Apolónia.

Desceu da carruagem e foi até ao bar, tomar um café retemperador.

Saiu, e porque se estava a aproximar a hora, chamou um táxi que o levou até ao Politeama. No fim do espetáculo encontrou à saída a dama – esteticista – que tinha visto no comboio. Companheiros de viagem, trocaram impressões sobre a revista.

– Foi esplêndido – disse Beltrão.

– Sim – concordou a senhora. E cantarolou, com voz melódica:

– Quando o pano sobe…

Respondeu Beltrão num tom desafinado:

– …e o espetáculo começa…

Cada um se fazendo de “surdo” à sua maneira prosseguiram. O cavalheiro achou conveniente mudar de assunto, e perguntou se a senhora gostava de futebol.

– Detestava futebol senhor… – como é o seu nome?

– Beltrão. – Respondeu.

– Maria – retorquiu a senhora. E continuou:

– Mas desde que este ano assisti à final do Mundial de Futebol de Juniores, entre os rapazes de Portugal e os do Brasil, em que fomos campeões pela segunda vez, que me rendi à magia desse desporto.

– Que alegria os putos nos deram – retorquiu Beltrão.

Neste momento dobravam uma esquina, quando, saídos de um vão de escada, dois delinquentes aparecem a barrarem-lhes o caminho, e a ameaçarem-nos.

Maria assustada deu um berro estridente, e Beltrão aproveitou o momento para aplicar uns golpes de karatê e neutralizar os assaltantes. Uma patrulha da polícia estava perto, ao ouvir o grito da senhora e o barulho da escaramuça, acudiu também.

Foram todos para a esquadra. Apresentada a queixa, Beltrão e Maria seguiram em paz.

Novamente de Táxi viajaram até ao hotel. Fora de horas para jantar, mas com apetite para a ceia.

Degustando um portuguesíssimo bacalhau à Zé do Pipo, acompanhado com um não menos português tinto do Cartaxo, chegou-lhes ao ouvido uma conversa na mesa ao lado.

– Amigo, lhe estou dizendo, seu Ayrton, dobrou, bicampeão de Fórmula 1.

– É isso aí, cara, no sábado.

Acabada a refeição, chegou a hora de Beltrão acender o seu charuto e saboreá-lo, beberricando o whisky enquanto Maria bebia também o seu.

Disfarçava a perturbação que a mulher loira lhe causava, e que Maria intuiu naturalmente. Sem assunto uma vez mais, Beltrão indagou à colega sobre literatura.

– Gosta de ler? Quais os autores preferidos?

– Sou fã como você, de literatura policial, Agatha Christie. Gosto também de Eça, Tolstoi, Saramago, Érico Veríssimo, John Dos Passos…. “As Palavras” é agora o meu livro de cabeceira.

– Ainda não ouvi falar – confessou Beltrão.

– É do Nobel deste ano. Perceberam ao mesmo tempo que bocejavam. Foram-se deitar. O vale dos lençóis recebeu-os para o merecido descanso.

O enigma proposto contém quatro erros de palmatória, que importa descortinar.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO