Autor Data 19 de Julho de 2019 Secção Competição Torneio
"Solução à Vista!" – 2019 Prova nº 3 Publicação Audiência GP Grande Porto |
O ESTRANHO CASO DA FALSA MOBILIDADE Bigode O agente Gazua regressara
de mais uma missão da luta contra o crime. Esperava no jeep que o camarada,
subchefe Alavanka, viesse do bar com as cervejas e
o farnel para o lanche. Festejavam o sucesso da missão e o 45.º aniversário
do 25 de Abril. Revivia mentalmente algumas
das peripécias e argúcia utilizada, para desmembrar a subtil rede ilegal, quando
o ajudante entrou com o petisco, para o lugar do pendura. – Podemos seguir – disse
para o superior hierárquico. Meia hora depois entravam
na esquadra. Na receção, à espera,
estava uma senhora atraente. Interpelou o agente Gazua deste modo peculiar: – O senhor é o agente
Gazua? – O próprio, dona...? – Maria. Gazua apercebeu-se do ar
inibido do subchefe, que presenciava a conversa, e para desanuviar o
ambiente, tomou a iniciativa de proceder às apresentações estendendo o braço: – O subchefe Alavanka, meu ajudante. – Muito prazer... – disse Maria com um sorriso. Alavanka retribuiu o cumprimento e acabou de
arrumar a merenda no frigorífico do bar, sentando-se depois à secretária para
continuar a fazer, com afinco, um relatório interrompido. – Senhor Gazua, venho participar o desaparecimento do meu cônjuge. – Lamento muito, dona
Maria. Quando foi que o caso se deu? – perguntou, enquanto abria a aplicação no computador. – Fez um ano, no passado
dia 2 de Abril. O subchefe e Gazua
entreolharam-se surpreendidos. Fleumático como uma enumeração, perguntou: – E só agora comunica a sua
ausência? – Sim. Na altura, falou-me
irritado numa mudança do local de trabalho, de Beja para Cuba. No princípio
não parecia uma coisa descabida, porém a situação criada pelo bloqueio… – Continental? –
Interrompeu Alavanka, que escutava com atenção. – Não! Da amizade no facebook. – Dona Maria, desculpe o meu ajudante. Em tempos, foi mestre de
história, e por vezes o trajeto do seu método de investigação tem alguns
desencaminhamentos pelo passado. Teclou alguns apontamentos,
e continuou. – Qual a profissão do seu
marido? – Funcionário público. – O bloqueio da sua amizade
no “face”, como referiu, foi a ponta do iceberg de algo inesperado? O rosto moreno de Maria
lampejou. – Foi o emergir de uma
traição bem camuflada. O agente sentiu alguma
apreensão. – Possui alguns dados concretos
que estejam na raiz dessa suspeita? Maria pensou. Acendeu um
cigarro e fitando o teto com um olhar vago, a tocar ao de leve o azedume,
afirmou: – Não, mas há uma mentira.
Soube por uma amiga que ele no dia da mudança não trabalhou. Gazua desarticulou
ligeiramente uma repentina letargia e concentrou-se solidamente no assunto. Entretanto o subchefe
perguntou: – A senhora recorda-se de
mais alguma coisa? – Disse também com
despropósito que iria ver o Fialho, que não conheço e não faz parte do nosso
círculo de amigos. Uma dúvida genérica
perturbou a ambiência da esquadra. Dona Maria continuou a
relatar o caso. – Porém, senhor agente, preciso que ele assine os papéis do divórcio e não sei
onde o encontrar. Gazua, compreensivo, disse
com assentimento: – Esteja tranquila minha
senhora. Vamos agir dentro do que a nossa área de atividade permitir, a fim
de recolher a assinatura do seu – ainda – consorte, para que consiga alterar
o seu estado civil. Caros confrades: a) – A Maria terá razão
quando diz que no dia indicado pelo seu marido ele não foi trabalhar? b) – Qual será a
identificação do Fialho? c) – Assinalem as eventuais
incongruências que detetem no enunciado do problema. DESAFIO AO LEITOR: Caro leitor, responda às três alíneas, através de um relatório
justificativo das suas deduções. |
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© DANIEL FALCÃO |
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