Autor

Bispo Negro

 

Data

27 de Janeiro de 1977

 

Secção

Mistério... Policiário [98]

 

Competição

Torneio "Primeiro Passo Deductivo"

Problema nº 5

 

Publicação

Mundo de Aventuras [174]

 

 

Solução de:

CRIME EM PASS BULL RIVER

Bispo Negro

 

1.o – A súbita transição de Georges FoIlman de «Está bem!… Está bem!…» para « Está mal!… Está mal!…», foi resultante de se ter apercebido da anomalia da situação que se lhe deparava, dado os dois intervenientes deste «caso» terem pormenores trocados. A sua argúcia descortinou-os, num instante, e, daí, a rápida mutação do monólogo…

2.o – Com efeito, são várias as discrepâncias verificadas na «apresentação» do (suposto) diplomata Jackie Oliver e do (pseudo) pastor. Vejamos: o corpo que estava dentro do carro tinha «as unhas sujas e partidas», «um anel com safiras ficava largo no dedo», «a camisa mal abotoada»; por sua vez, o fugitivo apresentava «as mãos limpas e bem tratadas», «os cabelos estavam penteados».

Logo, pela análise de tais circunstâncias, Follman chegou às seguintes conclusões:

a) O morto não era Jackie Oliver, porquanto, se de um diplomata se tratasse, as suas noções de higiene, decerto, não lhe permitiriam ter as unhas naquele estado; além disso, a camisa desabotoada, também não abonaria a sua compostura e, por outro lado, o anel valioso, a «dançar-lhe» no dedo, consequentemente sujeito a perder-se, dá a ideia de não estar no dedo para quem foi concebido…

b) Aquele que a princípio supôs tratar-se de um pastor, certamente não tinha essa profissão, porquanto, esta, não será sinónimo da «brancura» e «brilhantina» verificada no indivíduo em questão…

Portanto, o corpo que estava dentro do carro não pertencia ao diplomata, tal como o outro «cavalheiro» era um falso pastor; verifica-se, pois, uma troca de identidades. Jackie Oliver não se suicidara!… A cara, «disforme, sanguínea, irreconhecível», que o morto apresentava era prova evidente disso mesmo, posto que, num suicídio, dificilmente ficaria com os «sintomas» indicados… O disparo seria feito numa das regiões laterais da cabeça, o que não tornaria a cara irreconhecível…

Partindo de tais premissas, foi fácil a Follman fazer uma reconstituição deste «mistério»:

O diplomata tinha «elevado número de dívidas, devido à atribulada e boémia vida que levava», e, por tal facto, «já por três vezes tentara suicidar-se». Desta feita, pensou simular um suicídio… O «sistema» seria vantajoso, pois outro ocuparia o seu lugar, enquanto ele encetaria uma nova vida noutro local…

Assim, «arquitectou» o seu plano e, no momento considerado oportuno, colocou-o em prática… Com «argumentos válidos» (talvez a promessa de grossa maquia e muita «conversa» à mistura, quiçá «adormecendo-o» com uma «mocada», caso o pastor não quisesse «colaborar»…), o diplomata conseguiu a troca de vestuários. Seria fundamental que o tiro se efectuasse só após a troca de vestimentas, pois, se fosse antes, corria o risco da roupa genuína do pastor ficar manchada de sangue…

Depois baleou o outro no rosto e, por meios que não interessa aprofundar, tornou-o irreconhecível… Meteu o corpo no carro e preparou o «cenário», isto é, transferiu o seu anel para a canhota do outro e «encaixou-lhe» a arma na dextra… Talvez que quem viesse investigar a «sua morte» chegasse à conclusão de que à quarta vez ele conseguira os objectivos já demonstrados nas três anteriores ocasiões. Se aquela «encenação» não desse resultado e o investigador recorresse às impressões digitais para comprovar a identificação do corpo, tudo seria descoberto, é certo, mas, entretanto, já ele estaria longe…

© DANIEL FALCÃO