Autor

Bob Tavis

 

Data

27 de Janeiro de 1983

 

Secção

Mistério... Policiário [385]

 

Competição

Torneio “Dos Reis ao S. Pedro” - 83

Problema nº 2

 

Publicação

Mundo de Aventuras [485]

 

 

A NOITE DO CRIME…

Bob Tavis

 

Mário de Andrade era um homem rico, poderoso e acima de tudo, honesto. Era dono de uma cadeia de supermercados e também de algumas firmas de construção de maquinaria agrícola. Vivia no seu enorme casarão com a mulher e duas das filhas, não contando com os inúmeros criados que serviam a família. A sua outra filha era casada com um empresário de uma marca de carros e, devido a uns negócios com o lançamento de um novo tipo de carro, sogro e genro não se davam lá muito bem… Assunto já ultrapassado, segundo se dizia, e foi precisamente o seu genro que naquela noite ali foi pedir guarida, pois andava em viagens de negócios e não lhe ficavam em caminho os hotéis mais próximos. Mário de Andrade acolheu-o por essa noite, porquanto, acima de todos os problemas pessoais e de dinheiros, tratava-se do marido de sua filha.

Mal sabia, no entanto, Mário de Andrade, o plano imaginado por Hank, o seu genro…

 

Depois de se certificar que todos em casa dormiam, incluindo os criados e o próprio sogro, Hank saiu do quarto e de casa, em meias grossas, de lã, pela porta das traseiras., indo até à estrada de alcatrão, a pouca distância… Aí, calça umas enormes botas que levava ao pescoço atadas pelos atacadores e, mesmo sabendo que a terra estava endurecida esforçou-se por deixar o máximo de pegadas que parecessem naturais, desde a estrada, até ao celeiro, donde tirou uma escada de madeira de 15 degraus, separados uns dos outros por uma distância de vinte e cinco centímetros…

Dali, seguiu, com a escada às costas, até debaixo da janela do escritório do sogro, onde colocou a escada dirigida a essa ampla janela do primeiro andar, subindo por ela até à janela e voltando e descer…

Deixando aí a escada, atravessou o terreno, semiquintal, semiajardinado, até à frondosa árvore junto à estrada de alcatrão, onde iniciara a sua «viagem nocturna»…. Aí, descalçou-se nas calmas, e voltou, de novo em meias, para o casarão, entrando outra vez pela porta das traseiras donde saíra, fechando-a, agora, atrás de si…

Dentro do casarão, subiu pela escadaria até ao primeiro andar e daí até ao escritório do sogro… Abriu a porta com muito cuidado, servindo-se de uma gazua – muito embora sabendo que ninguém o ouviria pois os quartos ficavam, todos do outro lado do casarão… Entrou… Aproximou-se da única e ampla janela e, com uma pedra que trouxera do quintal/jardim propositadamente para isso, partiu o vidro e a seguir abriu-a de par em par…

Procurou e retirou os papéis que lhe interessavam e mais alguns para despistar… e também todo o dinheiro ali existente. Depois, despejou todas as gavetas para o chão… Tirou quase tudo das prateleiras… Enfim, virou o escritório de pernas para o ar, como se costuma dizer! Depois, para completar o seu óptimo plano, com uma faca afiada cortou as botas que ainda levava dependuradas pelos atacadores, atados, ao pescoço, e que usara para as tais pegadas no terreno, e, deitando-as aos poucos para a sanita, e puxando o autoclismo, fê-las desaparecer…

Arrumou num local próprio da sua pasta os papéis roubados, despiu-se, arrumou os fatos utilizados e deitou-se, apagando a luz, e ficando, no escuro, a pensar no seu bem engendrado plano… Que bem executado fora… Nenhum inspector, por mais vivaço que fosse, seria capaz de suspeitar dele… E adormeceu, satisfeito.

Com tudo certo e realizada metodicamente até aqui, iniciou a última parte da plano

 

No dia seguinte, manhã cedo, e como era de esperar… Mário de Andrade ao dirigir-se ao escritório, saiu logo de lá a gritar que tinha sido roubado…

Imediatamente se chamou o inspector Bob Tavis, que pouco demorou, acompanhado do seu ajudante.

Foi-lhe contado o sucedido e ele de imediato passou à investigação dos indícios… Observou atentamente o quintal/jardim… Reparou nas pegadas… Viu a escada… Foi até à frondosa árvore junto ao alcatrão e voltou… subindo ao escritório onde tomou nota de todos os pormenores… Depois foi à janela e olhou para baixo. A seguir, paulatinamente, regressou à sala onde todos o esperavam… Ia pensativo.

 

O seu adjunto já interrogara todo o mundo, mas ninguém sabia de nada, nem ninguém tinha ouvido nada durante a noite.

Posto ao corrente, foi então que Bob Tavis falou:

– Meus senhores… (enorme pausa…) Já tenho algumas conclusões… e o caso não é tão difícil como parecia… A minha primeira conclusão é que, como não seria de esperar, o ladrão está aqui em casa, certo é que dos que passaram cá a noite ainda ninguém saiu! Pois não houve ninguém que viesse da estrada de alcatrão até aqui, para roubar… e saísse por onde viera!…

 

Hank ficou de repente pasmado, de olhos esbugalhados, a olhar para o inspector… Como era possível?… Como teria o inspector chegado àquela conclusão?… Onde estaria a falha do seu bem engendrado e realizado plano?

 

Pois é!…

A pergunta pode ser a mesma: – Que teria Hank feito de mal no seu bem engendrado plano?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO