Autor Data 30 de Dezembro de 2009 Secção Competição Problema nº 4 Publicação O Almeirinense |
Solução de: O QUINTETO ERA DA CORDA Búfalos Associados 01.
Tal como os “Três Mosqueteiros” eram, afinal, quatro, assim os componentes
deste Quinteto da Corda eram, afinal, seis: além dos cinco instrumentistas,
havia ainda o técnico de som, elemento essencial para as boas prestações
artísticas do conjunto. 02.
As notas recolhidas pelo Sargento Pais permitiram ao Inspector
Garrett fazer um rápido esboço das plantas dos três pisos, localizando as
habitações dos intervenientes no caso. (ver figura no problema) 03.
Garrett sabia que não podia ainda contar com provas concretas; no entanto,
alguns indícios apontavam já numa direcção. Por
isso, dissera: Já calculo quem matou o
pianista. 04.
Para começar, tudo indicava que o assassino estaria entre os cinco
sobreviventes do grupo, uma vez que ninguém mais tinha entrado no Hotel antes
da hora provável do crime e os turistas alemães não tinham qualquer razão
para ser culpados. A própria recepcionista não
poderia ser o homem que correu do quarto 205 para as escadas ao fundo do
corredor. 05.
Os palpites de Garrett começaram exactamente pela
pequena folha de bloco algo amachucada encontrada no local do crime. Nela
constava o nome de cada um dos componentes, seguido de um número que
certamente seria o do respectivo quarto. Só que
nessa relação faltava um nome: o de Damião, o técnico de som. 06.
David, o contrabaixista, declarou que tinha o telemóvel desligado, como de
costume. Muita gente o faz durante a noite, para não ser incomodado no
decorrer do sono. Mas, na manhã seguinte, todos teriam de acordar cedo por
causa da longa viagem que iriam fazer. O baterista Cornélio disse que havia
sempre um elemento do grupo encarregado de acordar os outros, e desta vez não
era ele. Sabendo que há pelo menos um (o David) que dorme com o telemóvel
desligado, o mais seguro seria que o acordar de todos fosse feito através dos
telefones fixos existentes nos quartos, o que até sairia mais barato para o
contemplado com o serviço de alvorada. Portanto,
a lista de nomes e números em que falta o Damião serviria certamente como
“aide-mémoire” para acordar todos os restantes. Sabendo ainda que apenas o
quarto 309 (o que não consta na lista) pedira para ser despertado às 7h30,
podemos concluir que é esse o quarto do Damião e que o papel lhe pertencia.
Teremos encontrado o criminoso? 07.
Junto a esse papel de bloco apareceram dois recibos também amachucados: um de
portagem de auto-estrada com data do dia anterior e
outro de gasóleo. Como sabemos que era o Damião quem conduzia a carrinha
(para os artistas não se cansarem…) é mais um indício que pode incriminar o
Damião, que poderia ter perdido os papéis na precipitação da fuga após o
crime. 08.
Mas há mais. A recepcionista recebeu ordens para
ligar para os quartos dos componentes do grupo, dizendo apenas que esperassem
nos seus quartos. Nenhuma informação sobre o crime, como é de boa regra. O
próprio David confirmou que o telefonema recebido dizia apenas que não saísse
do quarto, embora tivesse perguntado o que se passava. Muito suspeito é,
pois, que o Damião já andasse no corredor, agitado, aos gritos de: Parece que
esfaquearam o Quim! O Damião, no seu 3º andar, só podia saber do crime se
o tivesse cometido. 09.
O ciúme deve ter sido o móbil do crime. O ambiente tenso no grupo tinha razão
de ser nos rumores de que o Quim, fazendo jus à sua fama de conquistador,
andaria metido com a mulher de outro colega. Essa seria, provavelmente, a
mulher do Damião. 10.
Como se terão passado as coisas? O
Damião andaria já com a pedra no sapato. O ciúme por sentir-se enganado e
atraiçoado pelo chefe do grupo, de mistura com algum álcool a mais durante a
lauta ceia, tê-lo-iam cegado, desencadeando os acontecimentos. Sorrateiro,
escondeu num bolso a faca dos bifes embrulhada num guardanapo de pano e
voltou ao Hotel decidido ao crime, pouco passaria das 2h30. O Quim já estava no
quarto, que ele sabia qual era, pois tinha no bolso a lista dos quartos
ocupados. Era o 205, no 2º andar. Os efeitos da bebida não lhe permitiram
aperceber-se de que um dos músicos ainda não estava no quarto: o Cornélio
estava no piso 0, a ver televisão. Talvez invocando as suas funções de
motorista, terá ido bater à porta do Quim, dizendo que lhe convinha receber o
dinheiro da portagem e do gasóleo, já que era o pianista quem também se
encarregava das contas do grupo. Com esse pretexto, ou qualquer outro, entrou
no quarto e, após uma violenta discussão, empunhou a faca que escondera no
bolso, utilizando o guardanapo para evitar deixar impressões digitais, e
apunhalou violentamente o Quim directamente no
coração, provocando-lhe morte quase imediata. Seriam 3h00 da manhã e terá
ouvido o elevador parar naquele andar. Era o Cornélio que chegava.
Precipitado, correu em direcção às escadas do fundo
do corredor, subindo ao seu andar, o 3º. Pelo chão do quarto ficaram o
guardanapo ensanguentado e os três papéis amachucados que o viriam a
denunciar. Note-se que Telo, o trompetista, no quarto 305, por cima do do Quim, ouviu a violenta discussão em baixo e pouco
depois, quando foi à casa de banho, alguém correndo no corredor e fechar uma
porta. Era o Damião, fugindo para o seu quarto, 309, onde terá ficado até ao
telefonema da recepção. 11.
“Muito bem, Inspector Garrett! Parece não haver de
facto outra explicação para os acontecimentos. Mas quanto ao nome do conjunto
creio que descobri. Trata-se de um aproveitamento do título português de um
filme inglês que fez grande sucesso nos anos 50 e que se chamava “O Quinteto
era de cordas”. Acertei?” – “ Só em parte” retorquiu Garrett. “Esse filme,
que se chamava no original “The Lady
Killers”, realizado pelo Alexander
Mackendrick e com Alec
Guinness e Peter Sellers entre os seus intérpretes,
foi, de facto, um grande êxito da comédia inglesa. Mas há ainda outra
explicação. Não reparaste que o nome do grupo aproveita a primeira sílaba do
nome de cada um dos componentes: QUIM, o pianista, TE de Telo, TO de Tomás,
DA de Damião, COR de Cornélio e DA de David? Aí tens! Elementar, meu caro Paes…” |
© DANIEL FALCÃO |
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