Autor Data 28 de Agosto de 2011 Secção Policiário [1049] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2011 Prova nº 7 (Parte II) Publicação Público |
Solução de: MANUAL DE INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS Búfalos Associados A
resposta correcta é: C – o Dâmaso. Os Maias,
de Eça de Queiroz, é possivelmente o romance mais lido e mais apreciado de
toda a literatura portuguesa. Muita
gente continua a fazer dele a sua leitura de cabeceira, com sempre renovado
prazer. É
o caso do Inspector Garrett, acontecendo-lhe, por
vezes transportar as personagens da obra para sonhos recheados de imaginação
inspirada. O sono apanhou-o em pleno Capítulo IX. De
facto, é a Dâmaso Salcede que devemos atribuir as
suspeitas deste crime imaginário. Consultando
o romance, verifica-se que a espada que Ega usou no seu disfarce de
Mefistófeles fora-lhe emprestada por Carlos da Maia nessa mesma manhã, não
estando até aí à vista de ninguém. Encontrava-se ainda encaixotada no andar
de cima da casa, desde a última mudança. Mas
não é preciso ler Os Maias para
concluir que Dâmaso não conhecia a espada. No
nosso sonho, quando Ega chegou a casa dos Cohen levando consigo a espada, o
Dâmaso ainda lá não estava, pelo que não podia tê-la visto. Declara mesmo não
ter visto nada lá em casa e só ter ouvido toda a gente em correrias a dizer:
”Mataram a Srª. D. Raquel à espadeirada!” E saiu
logo para se juntar aos outros. Como pode então descrever a espada assassina
com tanto pormenor? Certamente porque mente e só pode ter sido ele a usá-la. Talvez
se tenha cruzado com Ega quando este se retirava ofendido, nervoso e
embriagado, pelo que não terá reparado que Dâmaso lhe surripiara a arma. Por
que motivo, mataria ele a Raquel? Talvez por ciúme, sentindo-se preterido nas
suas pretensões pela bela Cohen. Claro
que, no romance, Eça não “matou” a Raquel. O marido limitou-se a pregar-lhe
uma coça e no dia seguinte partiram para Inglaterra. Ega ficou furioso quando
de tal soube: “Uma coça! A bengala purifica tudo! Que canalha!” E lembrava-se
da bengala do Cohen, um junco da Índia com uma cabeça de galgo por castão. “E
aquilo zurzira-lhe as carnes que ele tinha apertado com paixão! E assim
terminava reles e chinfrim, o romance melhor da sua vida! Aquilo acabava em
arnica!” Duas
notas, mais: o livro que desperta a atenção de Carlos em casa de Maria
Eduarda, chama-se exactamente
Manual de Interpretação dos Sonhos;
a primeira obra de Conan Doyle
em que surge Sherlock Holmes foi editada em Londres
em 1887 (A Study
in Scarlet) exactamente
um ano antes da publicação de Os Maias. Não
seria pois estranho que Craft, inglês e culto, se
mascarasse de Sherlock Holmes, no sonho de um
declarado admirador de ambos os autores. |
© DANIEL FALCÃO |
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