Autor Data 20 de Outubro de 2013 Secção Policiário [1159] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2013 Prova nº 7 (Parte I) Publicação Público |
Solução de: A TIA LAURINDA E A MORTE DE DONA PERPÉTUA Búfalos Associados Grave
erro cometeu a polícia ao não recolher o telemóvel encontrado debaixo do
corpo da falecida Perpétua. Ficou assim privada de obter a informação que
determinou a suspeita da Tia Laurinda sobre quem poderia ter sido o autor do
crime. Para já não falar de eventuais impressões digitais reveladoras da
identidade da proprietária. Na
realidade, ao verificar que na lista de contactos gravados apenas constavam
nomes conhecidos e expectáveis com exceção dos da vítima e da filha Mercês, é
lógico supor que o telemóvel deverá pertencer a uma dessas duas personagens.
Mas a Tia Laurinda sabia bem que a perecida Perpétua era avessa a todas as
modernas tecnologias, portanto não possuía certamente telemóvel. No caso
contrário até nem seria natural que faltasse na agenda de endereços o nome de
apenas uma das filhas. Assim sendo, o aparelho de comunicação aparecido
debaixo do corpo da finada Perpétua não podia deixar de pertencer à Mercês,
certamente tombado durante a discussão e a luta corpo a corpo testemunhadas
pelo jardineiro. Que
pode ter acontecido? As mensagens lidas no telemóvel pela Tia Laurinda
revelavam problemas no pagamento de avultadas dívidas, o que a fez então
desconfiar de que o conflito daquela noite entre mãe e filha poderia bem ter
origem, além da música ouvida demasiado alta, na exigência por parte da
Mercês de apoio financeiro para a liquidação das mesmas. Não se esqueça que
ela estava desempregada. O adiantado da hora, a existência muito provável de
quezílias anteriores e os efeitos produzidos pela ingestão de whisky em doses
exageradas, terão mesmo levado a Mercês a mostrar à mãe o testemunho das
mensagens gravadas. Os ânimos exaltaram-se, o telemóvel terá caído, o
atiçador da lareira estava ali mesmo à mão, e pronto: a ocasião faz a
agressão! Depois o grito da agredida Perpétua, a queda do corpo sobre o
telemóvel, o alarme provocado pela voz assustada do Zenóbio que nem sequer
deu tempo à desnaturada filha para recuperar o aparelho e a fuga precipitada
pela escada acima. E foi certamente ela que, perturbada pelo acontecido, nem
terá tido a lucidez de mudar de roupa e terá descido a escada sem dar mostras
de ter estado a dormir, pois apareceu vestida como tinha andado durante o
dia, tal como constatou a Umbelina. Concluindo,
mercê da Mercês verifica-se que não há nada que seja verdadeiramente perpétuo
e que ainda não foi desta vez que nem o mau feitio de uma dona de casa
desesperada, nem os maus resultados do Sporting, nem uma janela aberta nas
traseiras, provocaram um crime. |
© DANIEL FALCÃO |
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