Autor

Búfalos Associados

 

Data

15 de Dezembro de 2013

 

Secção

Policiário [1167]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2013

Prova nº 10 (Parte II)

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

A TIA LAURINDA E O ALBERGUE ESPANHOL

Búfalos Associados

 

A Tia Laurinda não teve dificuldade em detetar que o colega mentiroso não podia deixar de ser:

A – O Alberto.

O assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, executado por um comando da LUAR sob as ordens de Palma Inácio, deu-se no dia 17 de Maio de 1967, uma quarta-feira. Foi pois esse o dia em que o colar da Bárbara desapareceu. Mesmo que se possa duvidar da sinceridade da rapariga ou da honestidade do rececionista do “hostal”, há uma mentira que faz imediatamente suspeitar de outra personagem.

O roubo só pode ter sido feito durante a ausência do rececionista, portanto entre as 19.50h e as 20.05h, evidentemente hora espanhola. Alguém, conhecedor da existência do colar e de qual era o quarto da Bárbara, teria retirado a chave do quarto 15 do chaveiro, executado o roubo, e voltado a colocar a chave no seu sítio, antes que o rececionista voltasse. Um quarto de hora seria mais do que suficiente. Ora nos anos sessenta, tal como hoje, a hora espanhola estava adiantada uma hora em relação à hora portuguesa, portanto em Portugal seriam nessa altura entre as 18.50 e as 19.05h. Foi nesse intervalo que se deu o furto.

Notemos agora que os amigos do Alberto para quem ele telefonou afirmaram que o telefonema terminou depois das 20 horas, hora portuguesa e hora de início do telejornal da RTP. Ou seja, o telefonema deu-se pelas 21 horas em Espanha, o que destrói o alibi do Alberto. A essa hora já o colar teria sido roubado, exatamente uma hora antes. Logo o Alberto mentiu quando afirmou que "no período de tempo em que lhe disseram que o rececionista esteve ausente do seu posto, tinha a certeza de ter estado ao telefone" com os amigos de Lisboa. Pode ter roubado o colar ou não, mas a verdade é que mentiu. Era o que se perguntava.

Repare-se ainda que, tanto o Gastão como o Celso, podem não estar a mentir, uma vez que em Espanha os horários da tarde do comércio e dos museus, depois do longo intervalo para almoço e sesta, vão das 17 horas até às 20. Era na altura, e ainda hoje, prática comum. Quanto ao Ernesto, resta-nos desejar que volte a conquistar a Filomena, para segurança do seu órgão hepático.

 

Notas de rodapé:

Arthur Schnitzler, dramaturgo austríaco, escreveu em 1892 “Liebelei”, peça de teatro traduzida para português com o título de "Dança de roda", em que se descrevem 10 cenas amorosas a dois, em que os amantes se vão encontrando sucessivamente com o par que voltará a aparecer na cena seguinte com outro parceiro, percorrendo a história um círculo perfeito.

Miguel de Unamuno, escritor espanhol que lecionou na Universidade de Salamanca, editou em 1911 “Por tierras de Portugal y España” em que se comentam muitas das características do povo e dos intelectuais de Portugal. Autor e livro infelizmente muito pouco divulgados no nosso país.

© DANIEL FALCÃO