Autor

Casal Cicuta

 

Data

25 de Outubro de 1979

 

Secção

Mistério... Policiário [240]

 

Competição

Torneio “Novos" e “Iniciados” 79

Problema nº 9

 

Publicação

Mundo de Aventuras [316]

 

 

…AQUELA SEXTA-FEIRA, 13…

Casal Cicuta

 

Sexta-feira, dia 13. Onze horas da manhã.

Como todos os dias fazia, Alfredo Pereira encontrava-se no seu gabinete trabalhando. Era um actor consagrado e o público acorria, com gosto, a ver as suas peças. Por essa altura soou um tiro que sobressaltou todos quantos se encontravam em casa, e o corpo do actor caiu sobre a secretária, sem vida.

 

TrriimmTrriimm

– Está? Quem fala? Daqui é do escritório do «Casal Cicuta»

– …

– Suicídio? Certo, já aí vamos.

 

Depressa chegámos à «Vivenda Pereira», pois situa-se perto da Quinta do Amparo, local onde residimos, e lá esperavam-nos a esposa e os filhos do morto. Circundámos o terraço onde estava situado o lavadouro e onde existia um pequeno floral no centro, de onde pendia um cartaz, dizendo: «Não pisar. Cimentado de fresco». Fomos conduzidos pela parte externa da casa, por um caminho extremamente apertado, tendo o cuidado suficiente de não pisar o cimento. Entramos pelas traseiras, tendo subido imediatamente ao segundo piso, pois era aí que se localizava o escritório do popular actor.

Alfredo Pereira encontrava-se sentado numa cadeira com os braços e a cabeça apoiados na secretária. A cabeça repousava sobre um «dossier» que viemos a saber ser onde ele guardava as críticas aos papéis que representava. A pequena distância da mão direita e numa posição absolutamente normal e correcta estava um pequeno revólver.

Pouco depois chegou um grupo de polícias chefiados pelo nosso amigo inspector Albano que removeram o corpo após terem sido tiradas as fotografias da praxe.

Por nosso turno interessamo-nos pelo «dossier» de críticas. Pegámos nele para o inspeccionar com o cuidado suficiente de não tocarmos em alguma das manchas de sangue que se encontravam espalhadas pela secretária e sob o «dossier». Demos-lhe uma vista de olhos, mas entre as cerca de 100 folhas, nada encontrámos de esclarecedor. A esposa da vítima chorava, amparada na filha, dizendo:

– Não sei como pôde ele fazer tal coisa. Matar-se, calculem! Seria por a sua interpretação de Mcbeth não ter sido bem aceite pela crítica? Mas o público gostou tanto…

Por mera rotina quisemos interrogar todos os presentes na casa por altura do suicídio, ao que o inspector Albano não se opôs. Os depoimentos obtidos foram os seguintes:

Amália Pereira (esposa da vitima) – Estava mudando a roupa das camas e fazendo a limpeza dos quartos quando aquilo se deu. Corri para o escritório onde sabia que meu marido se encontrava. Quase desmaiei ao ver aquele espectáculo… Ai, meu Deus… Porque fez ele aquilo?!

Marta Pereira (filha do morto) – Encontrava-me a substituir as peónias, da sala do rés-do-chão, por umas novas que havia colhido do floral nessa altura, quando soou o tiro. Ao chegar ao escritório do meu pai já a minha mãe lá estava. Entrei de rompante e deparei com aquele cenário. Pouco tempo depois chegou o meu irmão.

Carlos Pereira (filho do morto) – Estava pintando a parede da cozinha que por sinal fica mesmo debaixo do escritório. Quando soou o tiro estava a subir o escadote para pintar o tecto. O estampido foi mesmo sobre a minha cabeça e, com o susto, deixei cair a lata da tinta. Quando cheguei ao escritório já lá estavam a minha mãe e a minha irmã.

 

Além da porta, o compartimento tinha uma janela que dava para o terraço e se porventura fosse assassínio, o criminoso não podia fugir por aí, pois além da altura que era grande, as pegadas ficariam marcadas no cimento pois ainda estava fresco.

 

Sábado, dia 14. Conversávamos sobre o caso do dia anterior, pois ainda estava fresco na nossa memória, e contávamo-lo a um vizinho pedindo-lhe a sua opinião.

– Aí houve marosca… Ele ia matar-se porquê? – perguntou.

– Segundo a mulher disse, foi porque a crítica não o recebeu bem…

– Pode ser… Mas continuo na minha. Aí houve marosca

 

Deixamos o caso ao vosso critério, perguntando:

1 – Que acham? Crime ou Suicídio?

2 – Exponham, clara e conscientemente, as razões da vossa escolha.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO