Autor Data 3 de Abril de 1980 Secção Mistério... Policiário [262] Competição Torneio
“4 Estações 80” | Mini A – Inverno Problema nº 6 Publicação Mundo de Aventuras [339] |
A TESTEMUNHA… Cobalt 60 O
homem era baixo, calvo, e mostrava-se excitado. Percorria a sala de um canto
ao outro, olhando, de quando em quando, franzindo a
testa, para os outros ocupantes do compartimento. Estes, sentados em cadeiras
de madeira, não deixavam de o fitar… Paulo Ramos, por detrás dos seus óculos
de lentes grossas… Joaquim Fernandes, sempre imperturbável, apesar de ter uma
mosca a pousar-lhe constantemente no nariz… Apenas duas pessoas não ligavam
ao homenzinho. Sentados numa das pontas da sala, José Sampaio, que tinha um
penso na cara, e Pedro Magalhães, entretinham-se a identificar os inúmeros
artistas cujas fotografias se encontravam dentro dos enormes (tal como os
outros algarismos) zeros do calendário, na parede do outro lado do
compartimento. Zeros, apesar de tudo, menores que os outros números. O
baixinho aproximou-se da janela… A claridade daquele dia quente e abafado
penetrou ainda melhor quando ele abriu completamente a persiana e olhou lá
para fora… de olhos semicerrados… Ficou assim um momento, até que a porta
castanha da sala se abriu. Por ela entrou o comissário Magretas,
com um «boa-tarde» seco, a que
todos corresponderam sem saírem dos seus lugares. – Ah! Comissário, até que enfim! Eles já
estavam a ficar nervosos com a sua demora – disse-lhe Joaquim Fernandes, seu
ajudante habitual. –
Tive outros assuntos a tratar. Vamos então a este caso. Sentou-se
na sua secretária. –
Bem, já que está sentado mesmo aqui ao pé de mim, vou começar por você. Qual
é o seu nome? –
José Sampaio… –
Fernandes, peço-lhe que saia com esses senhores.
Quero interrogá-los separadamente. Saíram
todos do gabinete, onde tinham passado a última meia hora. –
Bem, senhor Sampaio, com certeza não ignora que é suspeito de ter cometido um
crime de furto e agressão? –
Não o ignoro, mas posso garantir-lhe que estou inocente. Não fui eu quem
roubou as jóias à senhora. –
Bem, isso é o que vamos ver. Só quero saber o que estava você a fazer no dia
22 deste mês, às 5 horas da tarde. O
interrogado hesitou um pouco. –
Bem… Nesse dia… Sim, creio que é isso!... Fui ao cinema… Ora deixe-me ver…
Fui ver o filme «Superman».
–
Sozinho ou acompanhado? –
Fui sozinho. Foi pena não ter guardado o bilhete. Costumo fazê-lo, porque sou
coleccionador, dos fanáticos, mesmo! –
Pode sair. Faça-me o favor de chamar o inspector
Fernandes e fique um pouco mais lá fora, à espera. No
corredor estão todos muito sérios. Joaquim Fernandes entra no escritório e
sai pouco depois. –
Pode entrar você agora – diz ele para Paulo Ramos. O
comissário entrou directamente no assunto. Não
adiantou grande coisa. –
Nessa altura estava a ver um jogo de futebol – foi a resposta lacónica que
obteve a sua pergunta. –
Sozinho? –
Vou sempre sozinho ao futebol. Não
se podia tirar mais nada dele. Por isso, Magretas passou
ao interrogatório de Pedro Magalhães. Este não deu tempo ao comissário de
falar. Começou logo por dizer: –
Saiba, comissário, que estou muito aborrecido com tudo isto. Apenas sei que
me acusam de roubo, mas não sei de que roubo se trata ao certo. Não nos
explicaram nada… –
Sim, na realidade apenas a Polícia sabe o que se passou. Foi o seguinte: uma
senhora foi agredida com um pau, na rua das Flores. Tiraram-lhe a mala onde
transportava jóias de grande valor. Foi levada para
o hospital, onde se encontra em estado gravíssimo. Vocês foram vistos nas
proximidades do local, por isso são suspeitos… –
Mas eu não cometi o crime. Apenas me encontrava por esses lados porque
costumo dar grandes passeios a pé, todos os sábados, com um percurso
variável. É natural que tenha passado nessa rua… –
Pode provar o que diz? –
Posso. Várias pessoas minhas conhecidas me viram passar… –
É tudo por agora. Pode sair. O
inspector Fernandes entrou. Magretas
disse-lhe então: –
Vamos lá à sua «bomba»…
Mande-o entrar. E
entrou então na sala o homem baixinho. –
Senhor Saraiva, sente-se e conte-me tudo o que disse
ao inspector Fernandes. –
Vou contar-lhe tudo, senhor comissário, mas preferia ficar de pé. –
Como queira. Não vou obrigá-lo a nada… Ele
começou então a contar a sua história: –
Bem, é o seguinte: no passado dia 22, há 3 dias atrás, andava eu a fazer um
pouco de marcha (ordens do médico) quando vi uma senhora ser atacada por um
indivíduo mascarado exactamente a dez metros do
sítio em que me encontrava… Atacou-a à paulada, mas ela resistiu um pouco e
conseguiu mesmo arranhá-lo na cara… Foi quando ela lhe fez isso que o lenço
com que ele tapava a cara lhe caiu. Nessa altura, por brevíssimos instantes,
vi perfeitamente o seu rosto. Como se passou tudo muito rapidamente e não
posso correr, ele deu o golpe sem que eu pudesse intervir. Acho que nem
chegou a ver-me. Ainda gritei, mas ninguém pareceu ouvir. Então telefonei à
Polícia, e o resto o senhor já sabe. –
E agora, outra pergunta muito importante: seria capaz de reconhecer o
assaltante? –
Certamente! E digo-lhe mais: ele está ali fora! O
comissário não ficou muito surpreendido com esta afirmação. Dir-se-ia que já
a esperava. –
Só outra coisa, senhor Saraiva; são elementos para o meu relatório… Gostaria
que me dissesse em que dia viu tudo isso e em que data estamos hoje. As datas
completas, por favor… Surpreendido,
Saraiva atravessou o gabinete, aproximou-se do calendário para o ver melhor,
e disse, apontando-o: –
No dia 22 de Setembro de 1979, um sábado, vi o assalto. Hoje é dia 25,
terça-feira… O
comissário escreveu qualquer coisa no caderno onde já registara os
depoimentos dos suspeitos. –
Agora vou mandar entrar os três suspeitos, e quero que me diga qual deles é o
criminoso… Quando
todos entraram a testemunha olhou para eles e, imediatamente, disse: –
Foi ele! – o apontado era José Sampaio! Agora
que já sabe tudo, responda: 1
– Acha que o testemunho do senhor Saraiva é de confiança? Explique da maneira
mais completa que puder como chegou a essa conclusão. 2
– Qual dos suspeitos lhe parece que seja o assaltante? Explique, aqui também
o melhor possível, a razão da sua resposta. |
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© DANIEL FALCÃO |
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