Autor

Columbo

 

Data

6 de Setembro de 1979

 

Secção

Mistério... Policiário [233]

 

Competição

Torneio “4 Estações 79” | Mini C - Verão 79

Problema nº 10

 

Publicação

Mundo de Aventuras [309]

 

 

UMA REUNIÃO “JACARENIANA”

Columbo

A todos os Escuteiros de Portugal com amizade

Três horas da tarde. A patrulha «jacaré» principia mais uma das suas monótonas e maçadoras reuniões, que os «jacarés» realizam todas as sextas-feiras. A folha da agenda de serviço encontra-se em branco, o que equivale a dizer que não há assuntos a tratar.

– Então o que é que estamos aqui a fazer?... – vocifera indignado Sales, apoiado pelos restantes elementos.

– Se há uma reunião todas as semanas, temos de a realizar, haja ou não assuntos a resolver. Ainda para mais, às cinco horas, o Helder vem cá para falar connosco – responde com autoridade Zé-Tó, guia da patrulha perante a estupefacção dos seus colegas que nem sabiam o que dizer.

O Helder, dirigente de grupo, viria de bicicleta do Valcovo, localidade do concelho do Bombarral, situada desta a três quilómetros. Ele partiria de lá por volta das 16,50 horas, conforme dissera a Zé-Tó, o que tornava desnecessário procurá-lo no Bombarral para lhe perguntar o que desejava. Só se houvesse algum imprevisto é que ele não viria e se não estivesse às cinco horas em ponto na sede não valeria a pena esperá-lo.

Realmente não se compreendia a atitude tomada atrás por Zé-Tó, pois se não havia assuntos a resolver, qual seria a razão de os rapazes estarem ali entre quatro paredes sem nada para fazer?... Bastaria só as suas presenças na sede às cinco horas para ouvir o que o Helder lhes tinha a dizer!

– E se fossemos jogar a qualquer coisa?!... – propõe José Francisco, esboçando um sorriso gozoso endereçado a Zé-Tó.

– Boa ideia! Vamos jogar à «Enciclopédia»?!... – propõe Zé-Tó, confiante no êxito da sua moção.

Sem objecção de ninguém, a patrulha iria passar duas longas horas, tempo que faltava para o término da reunião e, simultaneamente, para a vinda do Helder, jogando à «Enciclopédia», jogo interessante e ao mesmo tempo, muito instrutivo, diga-se de passagem.

Lá fora, milhares de pessoas continuavam no seu rotativo e monótono vaivém de cada dia de trabalho. Uns, os adultos e, infelizmente, algumas crianças, exercendo as suas profissões, os seus «ganha-pão»; outras, as crianças que, ora brincando, ora estudando, iam contribuindo para o bem-estar e equilíbrio da sociedade. Estas encontravam-se divididas, temporariamente, em dois sentidos bem distintos… Enquanto que umas se encontravam em suas casas mergulhadas em intenso estudo, pois se achavam em épocas de exame, outras, as já afastadas dos inquietantes problemas escolares, saboreavam os primeiros dias de Verão e também, pois a Primavera tinha primado pela abundância de chuva e de frio, os primeiros raios quentes deste presente ano, embora interrompidos em espaços regulares pelos cúmulos felpudos que manchavam o cerúleo cristalino dessa parte do espaço em forma de abóbada a que se dá o nome de céu…

Sessenta minutos após o começo do jogo, inicialmente indicado como «passatempo», já o mesmo tinha adquirido uma directriz completamente diferente. As rivalidades dos elementos da patrulha tinham vindo à superfície, como azeite quando misturado com água… No fim de cada dois minutos e meio, tempo limite para cada letra, a gritaria e a confusão era tanta que um transeunte que passasse a quinhentos metros do local seria capaz de ouvi-la perfeitamente…

– Capitais: Zurique…

– Zurique não é capital!...

– Vejam este! Não é capital? Isso é que é!...

– Pois não é. A capital é Berna…

– É capital e mais nada. Ouviu!...

– POUCO BARULHO! – grita Zé-Tó.

Tudo se cala…

– Bem… – continua o guia da patrulha… – para se tirarem as dúvidas, só existe uma solução; verificar no «Atlas». Vai à biblioteca buscá-lo, Ramiro!...

– Vais ver se sou ou não sou eu quem tenho razão…

– Veremos… Então, Ramiro, isso vem hoje?...

– Mas eu não o vejo…

– Abre os olhos… – diz José Francisco, dirigindo-se para a biblioteca, seguido dos restantes elementos.

Depois de terem visto e revisto todas as prateleiras verificaram que Ramiro tinha razão: o livro não se encontrava na biblioteca.

– Alguém o deve ter levado. Ainda ontem estava cá… – afirma José Vítor.

– Mas não sabem que é proibido levar livros desta biblioteca? – diz Faustino.

Os exames estão à porta e alguém que estaria precisando do livro para estudar o deve ter levado, sem que ninguém desse por isso.

– Quem esteve ontem na biblioteca? – pergunta Zé-Tó com ar de detective.

– Esteve cá só a nossa patrulha com a excepção de ti e do Faustino – responde Sales «armando-se em inocentinho».

– Ora bem… – diz Zé-Tó – vou fazer-vos umas perguntas de rotina só para o caso de os chefes me perguntarem pelo sucedido. Começo por ti, Sales. O que é que estiveste a fazer aqui ontem?

– Vim para cá por essas três horas e estive a ler a «Origem das Espécies», do Darwim, para tirar apontamentos para o exame de Ciências. Saí por essas cinco horas…

– Eu vim tirar uns apontamentos de Geografia para estudar para o exame que tenho segunda-feira – responde José Francisco.

– Estive a ler alguns exemplares da revista portuguesa «Tintin» para tirar apontamentos a fim de fazer um teste de «Banda Desenhada» para o «Mundo de Aventuras». Estive também a ler uma história que achei bastante interessante do Buck Danny. Só mexi nos «Tintin». Saí por essas seis horas… – afirma José Vítor.

– Não tens exames? – pergunta Ramiro.

– Não, dispensei… – responde, orgulhosamente, José Vítor.

– E tu, Ramiro?... – Estive a ler o livro «Rebeca», de Daphne de Maurier, tenho a impressão…

– Muito bem. Acho que não foi ninguém da nossa patrulha que tenha levado o livro. Talvez tenha sido alguns dos chefes ou das outras patrulhas. Que horas são?...

– Faltam vinte minutos para as cinco –responde Sales, consultando o seu rico relógio de pulso.

Faltava ainda uns longos vinte minutos para o Helder chegar. O cheiro a tabaco queimado que empestava o ambiente provocava tosse a José António que logo se apresta a abrir a janela e respirar o ar puro tão desejado.

O sol ainda emitia os seus brilhantes e quentes raios que durante a Primavera não se tinham feito sentir. Os ninhos baixos e acastelados serviam várias vezes de obstáculo intransponível aos radiosos feixes de luz que o astro-rei enviava para alegria de todo o mundo, como diriam os brasileiros?

A patrulha «jacaré» debruçada nos parapeitos das janelas assistiu, regalada, a este maravilhoso espectáculo que a natureza nos oferecia.

De súbito, Zé-Tó sai, repentinamente, da janela dirigindo-se para a porta de saída, dizendo:

– Vamos embora. O Helder já não vem…

 

PERGUNTAS:

1 – Qual seria o imprevisto que tinha acontecido ou iria acontecer para que Zé-Tó tenha dito que o Helder já não viria? Justifique a sua afirmação.

2 – Quem teria levado o «Atlas» da biblioteca? Justifique a sua afirmação.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO