Autor Data 29 de Dezembro de 1977 Secção Mistério... Policiário [146] Competição Torneio
“Tertúlia Policiária do Palladium" O «Tira-Teimas…» Publicação Mundo de Aventuras [222] |
OUTROS TEMPOS, OUTROS VENTOS… Constantino Nuvens
sulcam o ar, muito brancas, num azul muito azul. Aves
cortam as nuvens, saudando o Sol lá longe, a despontar. Entre
verdes festões, mil flores – paleta de cores que a Natureza criou, sonho dos
pintores dum quadro do Paraíso. No
verde primaveril das plantas, no multicolorido das flores, no dourado do Sol
entre as ramagens, as aves vêm, em bandos, pousar junto do velho tronco de
carvalho, erecto e sólido, com seis ramos apontados
ao infinito, em círculo, como um gigantesco candelabro. Postas
de parte as divergências políticas, de ordem económica ou de simples
sobrevivência, seis aves vão discutir entre si a escolha dum juiz e o chefe
da polícia, posteriormente novos cargos seriam criados, para que as dez mil
espécies de aves vivas pudessem conviver em harmonia. Quando
as aves devidamente credenciadas em referendo universal anterior, ocuparam os lugares devidamente designados, cada uma em
seu ramo, faz-se silêncio, silêncio que domina igualmente a paisagem como se
todas as árvores tivessem deixado de conversar perante a solenidade do
momento. No
entanto, um pouco de desconfiança reinava ainda. A pega não se sentia muito à
vontade ao lado das duas aves de rapina. Estas, lado a lado, iniciaram um
diálogo irónico-raivoso: –
Seu gafanhoto atrevido! – atirou a ave colocada em
frente do pássaro azul. –
Sua margarida desfolhada! – respondeu a ave à
direita daquela. –
Silêncio, caros “megarefes”! – impôs
o estorninho, piscando um olho atrevido ao melro, que se desviou mais para o
seu lado, arrepiando-se entre as terríveis garras do seu outro vizinho. O
míope mocho encheu-se de brios e, senhor da sua fama de pensador, discursou em pios agudos e compassados, distribuindo por
fim os boletins de voto que lhe foram passados pelo tímido chapim. O
mais pequeno dos pássaros, contados aqueles, pediu desculpa e afastou-se em
voo leve. A
ave branca e negra estendeu a ponta da asa ao pássaro que estivera sempre na
sua frente, e, com uma reverência felicitou: –
Parabéns, meu caro chefe, trate de merecer a sua fama de esperto! – E com uma
saudação respeitosa ao novo juiz, um bom dia alegre aos restantes, voou em
companhia da ave emigrante. Um
dos candidatos vencidos, que se quedara cabisbaixo entre o novo juiz e o
chefe da polícia, acabou por encolher os ombros e com um rápido bater de asas
foi empoleirar-se no cimo dum alto pinheiro. Os
vencedores sorriram e voltaram-se para a assistência, erguendo a asa direita
numa saudação. Um
uníssono chilrear e bater de asas foi a inequívoca mensagem de aceitação. Naquele
tempo tinha, na realidade, sucedido o inefável – o segredo para viver em paz
com todos e que consiste, pura e simplesmente, na arte de compreender cada
qual segundo a sua individualidade. Afinal,
«outros tempos, outros ventos», diz
o provérbio. Pergunto: 1.o
– Quais as aves reunidas nos seis galhos, indicando os seus lugares em
relação a cada uma das outras. Justifique. 2.o
– Quem foi nomeado juiz e chefe da polícia, respectivamente.
Justifique. |
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© DANIEL FALCÃO |
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