Autor Data Maio de 2006 Competição Episódio nº 1 Publicação (em Secção) |
O ENIGMA DO GUARDA-CHUVA DESAPARECIDO Daniel Falcão Quando
acordei, naquela manhã de sábado, tive imediatamente a sensação que algo
especial me iria acontecer. Não me peçam que explique racionalmente o que
realmente senti, porque não sou capaz. Essa mesma sensação perseguiu-me
durante toda a manhã, sem que eu conseguisse divisar até onde ela me levaria.
No entanto, a manhã decorreu com normalidade e nada de relevante aconteceu. O
momento especial estava reservado para a parte da tarde. Tal como fora
previamente combinado com o meu grupo de amigos, pouco passava das duas e
meia quando nos dirigimos à Quinta da Caverneira,
onde iria realizar-se uma palestra intitulada “O detective
que há em cada um de nós”. Assim que tomara conhecimento da palestra e porque
achei o título muito cativante, tratei logo de arregimentar um grupo de
amigos para me acompanharem. Se bem que nem todos tenham cedido
imediatamente, a minha vontade acabou por ultrapassar todos os obstáculos. Foi
no preciso momento em que transpus a porta de entrada que a vi. Os seus olhos
verdes ficaram, por escassos segundos, fixos nos meus. Julgo que os nossos
olhos se afastaram exactamente ao mesmo tempo,
embora a sua imagem tenha perdurado na minha memória por mais tempo. Quem
seria aquela bonita rapariga? Como viera ali parar? Quando
voltei a olhar para o sítio onde a vira antes, ela já havia desaparecido.
Teria sido uma miragem? Seria a minha fértil imaginação a pregar-me uma
partida? A mim, que sempre sonhara com um momento daqueles? Não,
não era uma miragem. A rapariga era bem real, pois lá estava ela sentada numa
das cadeiras da parte central do auditório. Sentei-me na última fila, onde
podia estar atento à palestra e, simultaneamente, observá-la. Embora,
de vez em quando, os meus olhos se dirigissem para um local específico na
parte central do auditório, centrei a minha atenção no senhor que estava a
falar. Dizia ele: «(…) Imaginem a
situação seguinte: A professora de inglês participou ao director
de turma o desaparecimento do seu guarda-chuva, que ela havia colocado, após
entrar na sala de aula, encostado à parede junto à porta de entrada. Ela
sabia que três dos seus alunos tinham por hábito pregar algumas partidas aos
colegas e desconfiava que naquele dia, muito possivelmente, a tinham
escolhido como alvo das suas brincadeiras. O
director da turma ficou incumbido de averiguar,
junto dos três alunos suspeitos, se algum deles fora o autor daquela brincadeira
inocente. Chamou-os ao seu gabinete e, estando os três sentados à sua frente,
atirou a seguinte pergunta: “Quem foi o malandro que, ontem de manhã, levou
para casa, sem querer, um guarda-chuva que não lhe pertence?” Os
rapazes entreolharam-se, sorridentes, assim que o director
de turma se calou. Nenhum deles parecia querer ser o primeiro a responder.
Até que o Vítor se decidiu: “Professor, eu ontem levei para casa o mesmo
guarda-chuva que de lá trouxera. Se alguém disser que me viu pegar num
guarda-chuva, tem toda a razão. Só que, tratava-se do guarda-chuva da minha
mãe.” Depois
do colega, os outros dois lá se decidiram também a responder à pergunta. O
segundo foi o Duarte: “Assim que terminou a aula de inglês, dirigi-me ao
sítio onde tinha colocado o meu guarda-chuva, peguei nele e saí. Não toquei
em mais nenhum guarda-chuva.” Seguiu-se o Guilherme: “Eu não toquei em nenhum
guarda-chuva. Por acaso, ontem nem sequer trouxe guarda-chuva para a escola e
muito menos levei qualquer guarda-chuva para casa.” Como
devem imaginar, depois de os escutar, chegara a vez do director
da turma sorrir… Algum
de vós quer dar a sua opinião sobre esta situação que acabei de vos expor?» O
inevitável silêncio em momentos como este, fez-se
naturalmente sentir. Uma certa vergonha tolhe sempre as pessoas. Até que,
calma e discretamente, um braço se ergueu. “Levante-se, se faz favor, e
diga-me o seu nome.” Ela levantou-se e sou capaz de jurar que, por escassos
centésimos de segundo, os seus olhos estiveram voltados na minha direcção: “Chamo-me Bruna!” “Muito
bem Bruna, não se intimide com o auditório e apresente a sua opinião.” DESAFIO
AO LEITOR: O
leitor, tal como a Bruna, também tem uma opinião sobre quem pode ter levado
para casa, inadvertidamente!, o guarda-chuva da
professora. A
– O Vítor. B
– O Duarte. C
– O Guilherme. D
– Nenhum dos três. |
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© DANIEL FALCÃO |
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