Autor

Daniel Falcão

 

Data

Junho de 2006

 

Competição

Torneio “Clube de Detectives

Episódio nº 2

 

Publicação (em Secção)

O Lidador… das Cinzentas [26]

 

 

O ENIGMA DAS FORMAS DA LUA

Daniel Falcão

 

Os enigmas e os mistérios sempre me fascinaram. O primeiro romance policial que li despertou-me de tal forma o interesse, que passei a dedicar muito do meu tempo à leitura deste género de literatura, por vezes considerada marginal. Durante estes momentos de leitura, sentia que uma pequena detective crescia dentro de mim.

Qual não foi a minha surpresa, quando uma amiga me deu conhecimento que iria realizar-se uma palestra, no sábado seguinte, dedicada ao tema “O detective que há em cada um de nós”.

“Sandra, não posso perder essa palestra. E tu vais comigo!...”

Foi, pois, na companhia da Sandra que cheguei à Quinta da Caverneira, na freguesia de Águas Santas, no concelho da Maia. Nunca poderia ter adivinhado que nada voltaria a ser como antes, depois daquela tarde de sábado.

Estava eu aguardando o início da palestra, faltavam poucos minutos, quando o vi aproximar-se. A forma como se deslocava, a maneira como se dirigia aos amigos que o acompanhavam, atraiu imediatamente a minha atenção. Quando dei por mim, estava olhando-o fixamente. De repente, vejo que os seus olhos captaram a direcção dos meus. Poucos segundos passaram até que, com alguma timidez, os desviei, embora tenha ficado com a sensação que ele tivera uma reacção muito semelhante.

Retirei-me da porta de entrada, puxando a Sandra pelo braço, que mostrava a sua surpresa olhando para mim como se eu tivesse sido picada por alguma vespa. “O que aconteceu?”, perguntou-me a minha amiga. “Viste-o? Reparaste nele?”, contra-interroguei. “Em quem? Mas afinal, que bicho te mordeu?”

Enquanto nos dirigíamos para o interior do auditório e escolhíamos os lugares onde nos iríamos sentar, falei-lhe naquele rapaz e contei-lhe o que sentira quando o vi chegar. A partir daquele momento, a Sandra apenas pretendia que eu lhe indicasse quem era o rapaz. Ficamos, então, distraidamente atentas às pessoas que iam entrando no auditório, até que ele reapareceu: “É aquele que está a entrar neste momento!”. A Sandra estudou-o, como só ela sabe fazer, e exclamou, imediatamente antes de o palestrante começar a falar: “É giro!”

«(…) Como sabem, as praias do mar das Caraíbas são, desde há muito tempo, um dos destinos de férias escolhidos por pessoas oriundas de vários pontos do globo. Por isso mesmo, não é de estranhar que dois casais, que nunca se tinham visto antes, mas que falam a mesma língua, se tenham encontrado numa dessas praias paradisíacas.

É neste ambiente que vamos encontrar, numa amena conversa, o casal Duarte e o casal Capelo, enquanto assistem às brincadeiras dos filhos no curto areal. O tema da conversa é, como não podia deixar de ser, as férias. Ou, mais precisamente, umas férias em especial em que os destinos dos casais foram o país de origem do casal amigo. Esqueci-me de vos dizer que o casal Duarte tem nacionalidade portuguesa e o casal Capelo tem nacionalidade brasileira.

Dizia o Paulo Duarte que, nessa ocasião, pouco tempo depois de o seu avião levantar voo, tivera a oportunidade de usufruir de uma visão única da Lua. Vista através da janela do avião, a Lua Cheia, perfeitamente redonda, ocupava um imenso espaço no céu nocturno. Ficara de tal modo impressionado que, no regresso, uma semana depois, logo após o avião levantar voo, voltara a procurar a Lua e reparara que, desta vez, ela assumia uma forma parecida com a letra D.

“Curioso!”, exclamara de imediato o Bruno Capelo. Pois com ele passara-se uma coisa muito semelhante. Quando viajara para Portugal, também usufruíra da mesma visão que o amigo tivera da Lua. Pouco depois do avião levantar voo, a Lua perfeitamente redonda parecia iluminar a noite. No regresso, também uma semana depois, a visão da Lua já era pouco interessante: assumia agora uma forma parecida com a letra C.

Imaginem-se refastelados na praia mas atentos a estas duas descrições. O que podem adiantar sobre a verosimilitude das descrições feitas pelos pares masculinos dos casais?»

Tal como antes, o auditório ficou momentaneamente em silêncio, até que uma voz soou: “Eu acho que posso adiantar qualquer coisa! E, já agora, chamo-me Hugo.”

“Rapaz destemido! Faça lá justiça…”

 

DESAFIO AO LEITOR:

O leitor, sempre atento aos enigmas que vamos propondo, não vai deixar de nos dar a sua opinião sobre a verosimilitude das descrições feitas pelo Paulo Duarte e pelo Bruno Capelo.

A – Apenas a do Paulo Duarte não é verosímil.

B – Apenas a do Bruno Capelo não é verosímil.

C – Nenhuma delas é verosímil.

D – Ambas são verosímeis.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO