Autor Data 2 de Junho de 2007 Competição Prova nº 6 Publicação CLUBE DE DETECTIVES |
Solução de: UM MORTO NA MADRUGADA Daniel Falcão Todos concordam que a história
do Zé-Viseu está repleta de pormenores bizarros. O primeiro dos quais surge
imediatamente com a expressão utilizada pelo locutor da rádio: “Passam dez
minutos da uma hora da manhã.” Impossível, dirão os mais atentos. A conversa entre os
elementos da Comissão Coordenadora do Torneio “Sete de Espadas” teve lugar
dois dias antes da divulgação da apresentação da quinta prova do torneio, ou
seja, no dia 2 de Abril de 2007, e a acção da narrativa é localizada no
fim-de-semana anterior, mais precisamente na madrugada de domingo, ou seja,
no dia 25 de Março de 2007. Como é sabido, foi precisamente nesse dia 25 de
Março que entrou em vigor a hora de Verão, pelo que à uma hora da madrugada
passou a ser duas horas da madrugada; logo, se passavam dez minutos da uma
hora da manhã, o locutor teria dito que eram duas horas e dez minutos. Quanto à narrativa
restante, claro que foi tudo inventado pelo Zé-Viseu com o intuito de colocar
à prova os nossos detectives. Caso contrário, temos a certeza que os dois
“polícias” tudo fariam para que o Zé-Viseu ficasse a fazer companhia ao
terceiro homem que jazia no chão. Para começar, desconhece-se
que género de iluminação existiria naquele local que parece ser relativamente
ermo. De uma coisa temos a certeza, naquele dia 25 de Março de 2007 estava-se
em pleno Quarto Crescente Lunar, o que torna possível a existência de alguma
luminosidade natural. A observação dos elementos
narrados pelo Zé-Viseu também não nos deixa qualquer dúvida sobre as
inconsistências na história contada pelos dois “polícias”. A saber: (a) a diferente forma dos
ferimentos da testa e da nuca, um característico da entrada da bala e outro
da saída; (b) a forma e a auréola do
ferimento da testa, comprovando que o tiro foi desferido a curta distância; (c) a entrada da bala pela
testa, contrariando a tese da fuga; (d) a impossibilidade da
cápsula respeitar ao revólver; (e) a cápsula junto do
corpo, confirmando que o disparo foi realizado naquele local; (f) a trajectória da bala
(de cima para baixo) e a posição da vítima (de bruços e não de costas),
significando que a vítima estaria agarrada e de joelhos (ou agachada) quando
foi baleada, um elemento mais a contrariar a tese da fuga; (g) a estranha ausência de
viaturas dos supostos polícias; (h) a incompreensível iluminação
que permitiu ao Zé-Viseu fazer observações tão precisas (mesmo um belo luar
não chegaria e naquela noite a Lua estava em Quarto Crescente); (i) a evidente encenação do
revólver na mão da vítima, depois de se mostrar que foi dominada e abatida à
queima-roupa; (j) a milagrosa e calma
saída de cena do Zé-Viseu, que seria praticamente impossível, caso aquilo
tivesse sido verdade; (k) o facto, estranho, dos
polícias não se terem identificado com o crachá ou um documento adequado,
deixarem o Zé-Viseu andar a observar e darem explicações desnecessárias. (l) a despreocupação dos
“polícias” quanto ao estado da vítima, não perguntando se o Zé-Viseu era
médico, não se debruçando sobre o baleado, não falando de socorro que tenha
sido pedido. Por fim, atentemos no tal
papelinho que os “polícias” mostram ao Zé-Viseu: tratava-se de um “mandato de
prisão” para proceder à detenção do meliante. É verdade que muito
frequentemente, especialmente na legendagem dos filmes, se diz/escreve
“mandato” quando se pretende dizer “mandado”; seja mandado de prisão, mandado
de captura, mandado judicial. Acreditamos que mesmos polícias reais possam
cometer este erro, mas estamos certos que os nossos detectives, sempre muito
atentos, não deixarão escapar incólume esta incorrecção. |
© DANIEL FALCÃO |
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