Autor Data 16 de Agosto de 2017 Secção Competição Prova nº 7 Publicação Audiência GP Grande Porto |
UM ENIGMA… Daniel Falcão As nossas reuniões (quase)
quinzenais ocorriam na primeira e terceira sexta-feira de cada mês. Cada
reunião, em que imperava sempre a sã camaradagem e a salutar troca de ideias,
estava organizada em três partes distintas. Na primeira parte, a nossa
atenção concentrava-se em mais um majestoso jantar em que os pratos regionais
portugueses, acompanhados por prodigiosos vinhos, são reis. Findo o jantar,
era chegada a ocasião dos digestivos. Nesta segunda parte da reunião, a
acompanhar os digestivos propriamente ditos, era tempo de centrar a atenção
na decifração do mistério que havia sido proposto no final do jantar
anterior. Refira-se, de passagem, que este período, em muitas ocasiões, era
repleto de verdadeiros momentos “antidigestivos”. Cabia a cada confrade,
periodicamente, a preparação de um mistério a apresentar durante a reunião, o
qual deveria ser (ou tentar ser) decifrado por todos os restantes elementos.
Por fim, na sua última parte, a reunião terminava com a apresentação, ou
leitura, do mistério do dia que iria perdurar até à reunião seguinte. Assim chegamos ao momento
da reunião em que, volvido o jantar e o profuso debate em torno do mistério
que havia sido posto em cima da mesa na reunião anterior, vos vou contar o
mistério que preparei para esta ocasião. Estava eu na minha visita
de rotina a um alfarrabista conhecido, quando reparei que, embora muito
discretamente, ele me chamava a atenção. – Pode chegar aqui ao meu
escritório? – perguntou-me, quase sussurrando. O escritório, ou melhor, o
que ele chamava de escritório, era um pequeno cubículo de quatro metros
quadrados, com uma cadeira e uma secretária repleta de livros, uns com aspeto
se derem bastante antigos, outros bem mais recentes. – Senta-se nessa cadeira,
por favor – disse ele, enquanto abria a gaveta central da secretária com a
chave que tinha acabado de tirar do bolso das calças. Depois de algum tempo,
pouco por sinal, a rebuscar na gaveta, espetou-me, literalmente, nas mãos, três
manuscritos que pareciam ser muito, mas mesmo muito, antigos. Numa primeira observação,
reparei que, enquanto um deles estava escrito em português, embora num
português diferente do que usamos nos dias de hoje, os restantes estavam
escritos em francês, um deles, e em inglês, o outro. Naturalmente, comecei por
ler o que estava escrito em português. Em seguida, iniciei a leitura do
manuscrito escrito em francês. Muito antes de concluir a leitura,
surpreendido, voltei a olhar para o manuscrito em português e, de imediato,
comecei a ler o manuscrito escrito em inglês. Estava verdadeiramente
espantado! Findas as leituras cheguei, como é óbvio, à conclusão a que havia
chegado o alfarrabista. O conteúdo dos manuscritos era rigorosamente o mesmo,
com exceção do idioma em que foram escritos e das datas que identificavam o
momento e o local em que haviam sido redigidos. Olhei para o alfarrabista,
ele olhou para mim e, com curiosidade, questionou: – Qual é a sua opinião
sobre os manuscritos? Deixem-me acrescentar que
as letras dos manuscritos eram muito semelhantes, assim como as assinaturas
que os encerravam. A diferença mais notória entre eles marcava presença na
primeira linha: o manuscrito redigido em português, começava por “Lisboa –
Domingo, 17 de Outubro de 1582”; enquanto o que estava redigido em francês,
iniciava-se por “Paris – Domingo, 25 de Novembro de 1582” (em francês,
claro); e, por fim, o manuscrito escrito em inglês, apresentava “Londres –
Domingo, 30 de Dezembro de 1582” (em inglês). A curiosidade do
alfarrabista, como podem aperceber-se, devia-se ao facto de ele não ter a
certeza de estar perante manuscritos, potencialmente, verdadeiros. A curta
conversa que tivemos em seguida permitiu dissipar as suas dúvidas. O que o autor quer que nos
diga, atendendo aos elementos conhecidos, é se:… a) Apenas a data do
manuscrito redigido em Lisboa está correta; b) Apenas a data do manuscrito
redigido em Lisboa está incorreta; c) Ambas as datas dos manuscritos
redigidos em Lisboa e em Paris estão corretas; d) Todas as datas dos
manuscritos estão corretas. |
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© DANIEL FALCÃO |
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