Autor

Daniel Falcão

 

Data

5 de Maio de 2023

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [163]

 

Competição

Torneio "Solução à Vista!" – 2022

Prova nº 10

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

UM DIA EXTRAORDINÁRIO!

Daniel Falcão

 

O muito aguardado dia tinha chegado. Ou não fosse um dia fora do normal por um bom par de razões, embora aquela que mais sobressaía, indubitavelmente, era o reencontro após muitos dias, muitas semanas, mesmo muitos meses de espera. A esplanada do Café-Restaurante Sítio do Costume, banhada por um iluminado dia de sol, com uma vista magnífica sobre um fabuloso mar azul do Norte de Portugal, fora o local do encontro escolhido para aquele fim de manhã dominical.

A conversa decorria já muito animada, embora se aguardasse pelo mais atrasado. Havia sempre alguém que se atrasava. Até que Gustavo Santos, o anfitrião, se apercebeu que este se aproximava em passo acelerado.

– Já estávamos a pensar que não irias comparecer!

– E acham que eu iria faltar? Se bem que uma investigação inesperada de última hora, caso não tivesse corrido tão bem, poderia mesmo ter-me obrigado a faltar.

– Conta-nos lá o que aconteceu.

– Tudo bem. Mas, já sabem, como se trata de uma investigação policial, devem guardar sigilo de tudo o que for dito. Então, aqui vai.

“Por volta das 2h15 da madrugada, recebi um telefonema solicitando a minha presença num endereço muito próximo de minha casa. Julgo que teriam passado pouco mais de dez minutos quando cheguei ao local. Acompanhado por um agente, entrei no escritório da vítima, situado no 1º andar da habitação, e deparei com o corpo recostado na cadeira, por trás da secretária, com um buraco de bala mesmo no meio da testa. Não restava qualquer dúvida que o disparo teria sido efetuado por alguém que, muito possivelmente, estivera sentado na cadeira que estava em frente à secretária.

“A vítima, Pedro Antunes, era responsável pela área financeira da empresa Sapato no Pé, ou como agora se gosta de dizer, era o CFO da empresa, mas estava referenciado como tendo uma outra atividade fora de horas na qual se dedicava à agiotagem. Só que desta vez, tudo o indicava, estes negócios paralelos deram para o torto e fora assassinado por um cliente insatisfeito.

“A médica-legista que me acompanhou naquela madrugada, já que estava comigo quando recebi o telefonema, ou não fosse ela minha esposa, depois de observar e analisar cuidadosamente o corpo da vítima afirmou perentoriamente que o agiota teve morte imediata e que esta ocorrera, no máximo, nos últimos noventa minutos. E, acrescentou, como já era hábito, que informações mais pormenorizadas só depois da autópsia. Reparei que eram 2h45!

“A busca efetuada no escritório, nas restantes divisões da casa e mesmo nas imediações da habitação, teria resultado totalmente infrutífera não fosse uma curta anotação numa folha branca encontrada sobre a secretária. Escrito nessa folha estava o algarismo cinco, repetido duas vezes, dentro de um círculo. Pelo que a interrogação que surgiu de imediato foi: será que, prevendo que algo de muito grave poderia acontecer, a vítima deixara uma pista que poderia conduzir à identidade do seu algoz?

“Bem, é verdade que em muitas ocasiões a primeira abordagem ao local do crime nos deixa um tanto desolados, mas não foi o caso desta vez. Nem imaginam o que encontramos numa casa vizinha que viria a constituir uma ajuda preciosíssima: uma câmara de videovigilância. Não só tínhamos imagens da entrada da habitação da vítima, como a existência de um candeeiro muito próximo permitiu identificar rapidamente as três pessoas que lá tinham entrado naquela madrugada, antes da chegada da polícia.

“Uma delas já era conhecida, de seu nome Artur Pires, já que fora a que ligara para a esquadra, passavam uns dez minutos das duas da madrugada. Recolhidas as suas declarações, ainda no local, afirmara que telefonara para as autoridades imediatamente após ter chegado ao local e deparar com aquele cenário. Depois disso, não tocou em nada e ali aguardou, tal como lhe tinham indicado ao telefone.

“As outras duas pessoas que passaram pelo local do crime foram rapidamente identificadas e às oito horas da manhã já estavam na esquadra para a recolha dos respetivos depoimentos. A primeira a ser interrogada foi Francisco Sousa que inicialmente recusou ter estado na habitação da vítima nessa madrugada, mas passados uns minutos cedeu e confirmou que tinha lá ido pedir um empréstimo, o qual lhe fora concedido. Inquirido sobre a hora a que chegara e o período de tempo que demorara a reunião, respondera 1h50 e dez minutos.

“Em seguida foi interrogado Luís Vilaça que imediatamente confirmou ter ido a casa da vítima, era uma e meia da manhã, para lhe fazer uma proposta de negócio. A conversa decorreu conforme o esperado e passados dez minutos saiu muito satisfeito pois tinham chegado a acordo.

“Todos os inquiridos afirmaram conhecer o código de acesso para a abertura da porta exterior da habitação, necessário para entrar sem perturbar o CFO agiota e dirigirem-se de imediato ao escritório. Pelas imagens recolhidas foi possível confirmar que nenhum deles faltou à verdade quanto à hora de entrada, assim como quanto ao período que lá estiveram, mas não só…

Enquanto observava os amigos que matutavam no que lhes fora descrito, Gustavo Santos começava a ter uma ideia do que sucedera naquela madrugada.

 

E o leitor tem alguma teoria sobre o que se terá passado naquela madrugada? Em caso afirmativo, desenvolva essa teoria, sustentando-a com os factos disponíveis. 

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO