Autor

Daniel Gomes

 

Data

10 de Agosto de 2018

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [54]

 

Competição

Torneio "Solução à Vista!"

Prova nº 1

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

Solução de:

O ENFORCAMENTO DO VIGILANTE

Daniel Gomes

 

O inspetor Macunaíma desvalorizou os depoimentos recolhidos durante as investigações, que poderiam indiciar a possibilidade de se estar perante um caso de homicídio, caso não fosse completamente impossível alguém ter estado na fábrica naquela tarde, no momento do enforcamento do vigilante Ventura Marques. As portas que comunicam com a dependência onde se encontrava o cadáver estavam todas chaveadas pelo interior, com as chaves na fechadura, sendo impossível a sua abertura pelo lado contrário, sem arrombamento, como se verificou nas várias tentativas feitas pela polícia na porta que comunica com o exterior. Por outro lado, o inspetor constatou, através das bandeiras das portas, feitas de vidro transparente, a ausência de quaisquer pessoas ou a inexistência de algo que pudesse estar de algum modo associado à morte do vigilante.

Face ao acima exposto, a morte de Ventura Marques, mesmo que esteja de alguma maneira relacionada com as suas alegadas más relações com o colega Jorge Cunha ou com o seu suposto envolvimento amoroso com uma tal funcionária da empresa de congelados, de seu nome Leninha, não se ficou a dever a um qualquer ajuste de contas ou discussão de desfecho trágico, por via de um desses casos. Não se está, por isso, na presença de um crime de homicídio. Aliás, muito antes de ouvir os depoimentos que desvendaram esses casos de reprovável relacionamento, já se fizera luz no cérebro do inspetor Macunaíma sobre a forma como ocorrera a morte do vigilante, o que deixou toda a gente espantada face à sua rapidez de raciocínio. E a verdade é que passara pouco mais de quinze minutos desde a chegada do consagrado inspetor ao local da ocorrência!...

Vejamos, então, como ocorreu a morte do vigilante Ventura Marques. Os agentes da PSP deslocados para o local depararam com o pobre homem preso pelo pescoço a uma corda amarrada na tubagem da água que passa junto ao teto e com os pés a cerca de meio metro do chão, já sem sinais de vida, chamando de imediato os serviços de emergência médica, que se limitaram a declarar o óbito e a comprovar que a morte fora devida a enforcamento. Só que no chão, alagado de água, não havia à vista nenhum objeto, um banco, uma cadeira, um caixote, nada em que o infeliz Ventura Marques se pudesse ter empoleirado para cometer aquele seu desesperado ato. Mas o que passou despercebido aos olhos dos agentes da PSP, não escapou ao privilegiado cérebro e capacidade de raciocínio do inspetor Macunaíma: o chão alagado de água significava que o vigilante usara um cubo de gelo com 50 cm de altura para cometer o suicídio.

© DANIEL FALCÃO