Autor Data 10 de Agosto de 2018 Secção Competição Prova nº 1 Publicação Audiência GP Grande Porto |
Solução de: O ENFORCAMENTO DO VIGILANTE Daniel Gomes O inspetor Macunaíma
desvalorizou os depoimentos recolhidos durante as investigações, que poderiam
indiciar a possibilidade de se estar perante um caso de homicídio, caso não
fosse completamente impossível alguém ter estado na fábrica naquela tarde, no
momento do enforcamento do vigilante Ventura Marques. As portas que comunicam
com a dependência onde se encontrava o cadáver estavam todas chaveadas pelo
interior, com as chaves na fechadura, sendo impossível a sua abertura pelo
lado contrário, sem arrombamento, como se verificou nas várias tentativas
feitas pela polícia na porta que comunica com o exterior. Por outro lado, o
inspetor constatou, através das bandeiras das portas, feitas de vidro
transparente, a ausência de quaisquer pessoas ou a inexistência de algo que
pudesse estar de algum modo associado à morte do vigilante. Face ao acima exposto, a
morte de Ventura Marques, mesmo que esteja de alguma maneira relacionada com
as suas alegadas más relações com o colega Jorge Cunha ou com o seu suposto
envolvimento amoroso com uma tal funcionária da empresa de congelados, de seu
nome Leninha, não se ficou a dever a um qualquer ajuste de contas ou
discussão de desfecho trágico, por via de um desses casos. Não se está, por isso,
na presença de um crime de homicídio. Aliás, muito antes de ouvir os
depoimentos que desvendaram esses casos de reprovável relacionamento, já se
fizera luz no cérebro do inspetor Macunaíma sobre a forma como ocorrera a
morte do vigilante, o que deixou toda a gente espantada face à sua rapidez de
raciocínio. E a verdade é que passara pouco mais de quinze minutos desde a
chegada do consagrado inspetor ao local da ocorrência!... Vejamos, então, como
ocorreu a morte do vigilante Ventura Marques. Os agentes da PSP deslocados para
o local depararam com o pobre homem preso pelo pescoço a uma corda amarrada
na tubagem da água que passa junto ao teto e com os pés a cerca de meio metro
do chão, já sem sinais de vida, chamando de imediato os serviços de emergência
médica, que se limitaram a declarar o óbito e a comprovar que a morte fora
devida a enforcamento. Só que no chão, alagado de água, não havia à vista
nenhum objeto, um banco, uma cadeira, um caixote, nada em que o infeliz
Ventura Marques se pudesse ter empoleirado para cometer aquele seu
desesperado ato. Mas o que passou despercebido aos olhos dos agentes da PSP, não
escapou ao privilegiado cérebro e capacidade de raciocínio do inspetor
Macunaíma: o chão alagado de água significava que o vigilante usara um cubo de
gelo com 50 cm de altura para cometer o suicídio. |
© DANIEL FALCÃO |
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