Autor Data Maio de 1983 Secção Clube Xis [10] Competição Iº Campeonatos Distritais de
Decifradores de Problemas Policiários 4ª Jornada Publicação Clube Xis |
…E O TI JERÓNIMO SEMPRE VOTOU! D. Chicote Monchique, 26
– Ti Jerónimo, um velhote bem popular nesta vila, aguardava, ansioso, o dia das
eleições. Dizia a toda a gente que o seu voto iria por tudo como ele queria.
E, enquanto esperava, passava grande parte dos dias metido em casa,
entretendo-se com o seu passatempo favorito: paciências com paus de fósforo. Um dia destes,
na taberna, o Joaquim José, o Joel João e o Jaime Juve,
moços que ele conhecia de pequeninos e que, por isso, sempre tratava pelos respectivos diminutivos, disseram, bem alto, para quem
quisesse ouvir, que haviam de raptá-lo, de modo a não o deixar votar. Todos
pensaram tratar-se de brincadeira. Mas quando, já
às cinco horas da tarde de ontem, o tão aguardado dia das eleições, o Ti
Jerónimo continuava sem aparecer na mesa de voto, alguém estranhou a ausência
e resolveu ir a sua casa, ver se o homem se sentia bem. Quando lá chegou, viu
a porta aberta, sem ninguém em casa. Sobre a mesa, lá estava a caixa de
fósforos e, ao lado, quatro paus de fósforo, dois dos quais cruzados ao meio
e os outros dois, logo a seguir, tocando-se em baixo. Parecia uma mensagem. E
isso lembrou-lhe a ameaça dos rapazes, pelo que foi procurá-los. Encontrou logo
o Jaime Juve, que só então ia votar. Disse ter
passado o dia em casa, frente à televisão. Aproveitara para ver o «Bom Dia
Portugal», programa que não conhecia porque, nos outros dias, tinha de ir
trabalhar. Também se referiu, com agrado, ao filme de Disney sobre uns
garotos e um Jardim Zoológico, apresentado logo a seguir ao almoço. Depois
encontrou o Joel João, que disse ter sido o primeiro a votar, por ser
presidente de uma mesa de voto, onde estivera até as duas da tarde. Depois
foi para casa almoçar e descansar, voltando agora para a ponta final. Esteve, por
fim, com o Joaquim José. Também não fora votar antes porque, como disse, na
véspera tinha participado num comício, noutro concelho, e por lá ficara para,
de manhã, entrar num torneio de tiro aos pratos. Acrescentou que acabara de
chegar de comboio. Bastava de
mentiras. O outro pegou-o pelo braço e obrigou-o a revelar onde retinha o
velhote. Claro que quase não foi posta qualquer oposição. Ainda faltava uma
hora para fecharem as urnas e o que o moço queria era, apenas, brincar com o
velhote. Brincadeira de
mau gosto, diga-se de passagem. Mas o Ti Jerónimo, com a alegria de sempre
poder votar, depressa esqueceu o susto que apanhou e até nem ficou zangado
com o maroto do «raptor». Ao que parece, tudo acabou em bem. Apenas não
sabemos se o seu voto pós as coisas como ele queria… Pergunta: em
que é que se denunciou o «raptor»? Havia qualquer
outra pista que levasse até ele? |
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© DANIEL FALCÃO |
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