Autor

De La Tierra

 

Data

20 de Setembro de 1992

 

Secção

Policiário [64]

 

Publicação

Público

 

 

XEQUE

De La Tierra

 

O Detective Cecílio é um homem de uma só paixão. Pensar. Principalmente, pensar sobre o crime. E fazer disso uma obsessão. De tal modo que, em vez de propor uma partida de xadrez às visitas mais íntimas, Cecílio joga com eles um desafio de intriga mental. Coloca frente a frente dois amigos seus e lança para o ar um enigma de morte e mistério. Cada jogador encarna uma personagem na história, tendo de se defender e contra-atacar para ser o primeiro a dar resposta a uma questão que o detective coloca no final. Vamos jogar?

“Há muito tempo atrás participei numa expedição ao Pólo Norte – uma terra fantástica.” Assim começa a história. “Éramos quatro homens. Dois dias depois de termos estabelecido um acampamento-base mesmo sobre o Pólo, os meus três colegas resolveram sair para pesquisas. Dois deles, juntos, nos primeiros momentos desse dia. O terceiro, o dr. Adams, duas horas depois. Os dois destinos eram diferentes e desconhecidos um pelo outro. Apenas se sabia que seriam para sul do acampamento.

“Eu estava a tratar dos últimos ingredientes para o jantar quando, finalmente, vi os meus companheiros regressarem. Foi uma cena consternadora. Eram apenas dois homens. As lágrimas sulcaram as minhas faces ao ver o corpo inerte de Adams, coberto por uma manta, sobre o trenó, e com um golpe profundo na têmpora esquerda. Uma morte no topo do mundo…

“Um dos homens, o jovem dr. Stenvesson, contou que estava a recolher amostras de neve à beira de uma fenda larga, com cinco metros de profundidade, enquanto o colega, o dr. Sokolov, se encontrava do outro lado da fenda, de costas e junto da mesma. Afirmou que a certa altura, para seu espanto, surge o dr. Adams, deslocando-se no trenó e, destemido, rasando a fenda na sua trajectória. Eis que, a um metro de distância de Stenvesson, o dr. Adams cai pela fenda abaixo. Tratar-se-ia, definitivamente, de um horrível desequilíbrio ou tontura. Stenvesson referiu ainda que só voltou a ver o dr. Sokolov dois minutos depois, junto de Adams, quando conseguiu contornar e chegar ao fundo da fenda.

“O dr. Sokolov contou mais pormenores, também muito interessantes. Disse que para descer a vertente da fenda demorou, praticamente, dois minutos, o que me pareceu plausível face aos seus 50 anos de idade. Encontrou o pobre dr. Adams inanimado no fundo, encostado à base da vertente. Uma massa de sangue cristalizado jazia junto da cabeça e mesmo ao lado estava um grande pedaço solto de gelo, com resíduos de sangue – estes dois factos foram confirmados por Stenvesson. Ah, falta uma coisa. Sokolov e Stenvesson acusavam o dr. Adams de ter plagiado tesses de ambos, para conseguir ganhar o Prémio Nobel.

“Hum… Simples, não?

“Agora eu pergunto-vos, caros amigos: houve um assassino, que esperou a vítima para a atacar mortalmente? Ou foi um acidente? Direi também que existem três razões muito próprias para a decisão correcta. Qual de vocês as enuncia primeiro?

“O prémio?... Bom, levo-os ao cinema para verem ‘Quem Tramou Roger Rabbit?’ e ofereço um gelado no intervalo…”

Mate!

 

SOLUÇÃO (não publicada)

© DANIEL FALCÃO