Autor Data Abril de 1984 Secção Clube Xis [21] Competição Iº Campeonato Nacional de
Decifradores de Problemas Policiários e IIº Campeonatos de Zona de
Decifradores de Problemas Policiários e IIIº Campeonatos Regionais de
Decifradores de Problemas Policiários e IVº Campeonatos Distritais de
Decifradores de Problemas Policiários 3ª Jornada Publicação Clube Xis |
ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA… Detective Misterioso A
Santa venerada na capela era o orgulho do povo daquela aldeia Beirã. Todos
os que entravam no Templo não se cansavam de admirar a bela imagem que,
apesar de moldada em gesso, resplandecia beleza! O seu rosto irradiava um
sorriso enternecedor e, só de o ver, as pessoas sentiam um bem-estar e grande
felicidade dentro de si. As suas vestes, também moldadas, eram de um lindo
azul-celeste e o manto, cravado de muita pedraria, cujo brilho penetrava no
olhar de quem nele fixasse a vista, maior beleza dava à sua configuração. Imagem
muito antiga, levava o povo a dizer que todas aquelas pedras deveriam valer
uma fortuna!! Até
que um dia foi o pandemónio e a estupefacção na aldeia… Todas as pedras do
manto da Santa tinham desaparecido. A indignação foi tanta que alguns diziam
à “boca cheia”, se apanhassem o ladrão, fariam justiça pelas próprias mãos. Ora
aconteceu que, em gozo de férias numa aldeia vizinha, se encontrava o Agente
Prata e, a pedido dos seus familiares que o albergavam no seu mês de merecido
lazer, concordou dar um jeito no assunto… Assim,
ele aí vai a pé com o seu familiar Joaquim Serrano, para lhe indicar o
caminho (o Agente Prata não tem carro, utilizando sempre os transportes
públicos ou os carros dos amigos), até à aldeia onde o caso se passou. Aí
chegado, e depois de se identificar, foi conduzido ao Templo pelo encarregado
da sua conservação e abertura ao povo nos dias de culto. Pelo
caminho, o Raúl Silva (assim se chamava o homenzinho), foi dizendo ao Agente
Prata que, naquela manhã, quando entrou na capela para proceder à sua
limpeza, algo de estranho notou. Havia qualquer coisa que não estava certo
com o ambiente habitual, até que verificou faltar o faiscar da pedraria do
manto da Santa. Pressentindo
o pior, correu para a imagem, tendo constatado que a toda a pedraria tinha
desaparecido e no seu lugar só se viam as cavidades onde as pedras
anteriormente tinham estado fixas! Na véspera, quando ao anoitecer, tinha
estado na capela e nada faltava, disso tinha a certeza… Chegados
à capela, o Agente Prata verificou que a porta não apresentava vestígios de
arrombamento. Percorrendo toda a área à volta do Templo, averiguou a
existência, na terra amolecida, de muitas pegadas sobrepostas e em vários
sentidos notando-se, no entanto, junto a uma janela que dava para o interior,
algumas pegadas bem visíveis, de botas cardadas, no sentido da entrada. A
referida janela também mostrava sinais de ter sido forçada. No
interior do Templo e junto à figura da Santa, o investigador, com a ajuda de
uma pequena lupa, verificou que as entradas dos orifícios onde as pedras
tinham estado embutidas, apresentavam riscos e falhas de gesso e no interior
dos mesmos, partículas prateadas estranhas ao material da imagem. As pegadas
de botas cardadas, eram visíveis em vários sentidos no interior da capela, e
mais nada digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou
só para si todas as suas descobertas. Dos
nomes fornecidos pelo Raúl Silva, de alguns suspeitos, baseando-se nas
pessoas que diziam constantemente que a pedraria da Santa faria muitas
pessoas felizes, o investigador ouviu: Marquinhas,
uma rapariga de 30 anos, vestindo na altura roupa de trabalho de campo e
calçando botas de borracha, declarou nada saber do roubo nem de quem o teria
praticado. Não negou ter, por mais de uma vez, mencionado o possível valor
das pedras que ornamentavam o manto da Santa. Alberto
Costa, homem por quem os 60 anos há muito tinham passado, tez curtida pelo
sol no seu labutar diário na árdua faina do campo, vestindo roupa de trabalho
e calçando botas cardadas, nas quais eram bem notados pedaços de terra húmida,
declarou: –
“Chamam-me o “Rei Herodes” por eu nunca ir à Missa. Porque já me habituei a
esse tratamento deixei de ligar a isso. No entanto, o facto de não ir à Missa
não me levaria a roubar os valores da imagem, tanto mais que sei respeitar
qualquer casa de Oração.” Também
não negou a referência feita ao valor das pedras. Manuel
António, 35 anos, trabalhador da construção civil, usando roupa domingueira,
disse: –
“Na verdade tenho-me referido frequentemente à felicidade que aquela pedraria
faria a uma casa de família, mas não fui eu que roubei as pedras preciosas. Já
há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas.” António
Galvão, trinta e poucos anos, mal vestido, quase descalço, pouco amigo de
trabalhar, não sendo bem visto na aldeia, devido aos frequentes roubos que
fazia, nos galinheiros e não só… prestou as seguintes declarações: –
“Na verdade, disse por mais de uma vez que, com todas aquelas pedras na minha
mão, não necessitaria de voltar a “trabalhar”… mas nunca me passou pela
cabeça roubá-las! Mas
olhe aí “Sr. Doutor”, eu ontem, quando o sol se estava a pôr, vi o “Rei
Herodes” andar perto da capela!…” Neste
momento, o Agente Prata, pensou como tinha sido fácil descobrir o ladrão das
pedras da Santa. Sorriu e voltou a pensar como adorava que os seus grandes
amigos e colegas de profissão, Inspector Rodriguinho e o seu ajudante
Lumafero, estivessem ali com ele para juntos gozarem aquele momento
hilariante… Sim, é que a pedraria roubada não tinha valor algum, visto todas
as pedras serem falsas! E
já imaginando o valente copo de “tintinaite”, do bom vinho do “Dão”, que
beberia logo que chegasse à sua aldeia (por empréstimo), lá foi ele de
regresso a casa dos seus parentes… Antes, porém, deixou três perguntas no ar: 1ª
Como soube ele que as pedras eram falsas? 2ª
Quem foi o autor do roubo? 3ª
Como se teria passado o caso?
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© DANIEL FALCÃO |
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