Autor

Detetive Jeremias

 

Data

1 de Agosto de 2017

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [28]

 

Competição

Torneio Policiário 2017

Prova nº 5

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

Solução de:

NÃO HÁ NADA PARA NINGUÉM

Detetive Jeremias

 

A desconfiança da tia Judite tem sido alimentada pela sua paixão por livros policiais, mas este interesse literário também a põe a par dos métodos e técnicas para assassinar sem deixar vestígios. A consciência do interesse dos sobrinhos – únicos legítimos herdeiros − e a sequência de alguns acidentes insólitos deixaram-na mais vigilante. Embora pressentisse que apenas um dos sobrinhos seria responsável pelos atentados contra a sua vida, nunca conseguira reunir qualquer prova digna desse nome. Por isso, quando eles volteavam por perto nunca baixava a guarda, porque “Cautelas e caldos de galinha, nunca fizeram mal a ninguém”.

A reação da tia Judite às prendas, com o telefonema para um seu conhecido na Policia Judiciária e a referência a análises toxicológicas, sugere que ela tinha fortes suspeitas de que um dos sobrinhos lhe ofereceu literalmente um “presente envenenado”.

Vejamos então sobre quem recaíram as suspeitas da velha senhora, analisando o presente de cada um dos sobrinhos, por ordem alfabética para não ferir suscetibilidades.

O ramo de Clara tinha um odor pouco habitual, sugerindo mesmo um veneno potente usado em diversas circunstâncias. No entanto, a forma como este atua inviabiliza qualquer possibilidade de um arranjo de flores perecíveis funcionar como arma do crime. Clara limitara-se a perfumar os caniços da prenda com uma fragância de amêndoa.

José Alberto levou como oferta um gelado que acabara de comprar. Apesar de o dia 15 de Agosto ser feriado nacional, no Porto há gelatarias abertas. O gelado poderia estar envenenado, mas a proposta de partilha feita por José Alberto coloca este sobrinho no rol dos inocentes, por motivos óbvios.

Rodrigo entregou à tia a caixa de bombons. A descrição da caixa e do seu conteúdo – o “requintado sortido” − e ainda a referência a “Ambrósio, apetecia-me tomar algo”, não deixam lugar a dúvidas quanto à marca dos bombons. A afirmação de Rodrigo sobre a compra efetuada na véspera põe a pulga atrás da orelha da tia Judite, porque ela sabe bem que todos os produtos desta marca são retirados do mercado durante o Verão. Foi por isso que decidiu tirar tudo a limpo e meteu a polícia ao barulho. Judite pensou que o sobrinho poderia estar simplesmente a mentir sobre o dia de compra, ou então a situação seria mais grave e a caixa de bombons faria parte de mais um plano astucioso para a assassinar.

A minha convicção é que Rodrigo, que saiu de casa da tia com o rabinho a dar-a-dar, está neste momento com o dito entre as pernas, porque a análise toxicóloga foi positiva para um veneno letal e as perícias identificaram o autor da adulteração dos bombons.

© DANIEL FALCÃO