Autor Data 1 de Agosto de 2017 Secção Competição Prova nº 5 Publicação Audiência GP Grande Porto |
Solução de: NÃO HÁ NADA PARA NINGUÉM Detetive Jeremias A desconfiança da tia
Judite tem sido alimentada pela sua paixão por livros policiais, mas este
interesse literário também a põe a par dos métodos e técnicas para assassinar
sem deixar vestígios. A consciência do interesse dos sobrinhos – únicos
legítimos herdeiros − e a sequência de alguns acidentes insólitos
deixaram-na mais vigilante. Embora pressentisse que apenas um dos sobrinhos
seria responsável pelos atentados contra a sua vida, nunca conseguira reunir
qualquer prova digna desse nome. Por isso, quando eles volteavam por perto
nunca baixava a guarda, porque “Cautelas e caldos de galinha, nunca fizeram
mal a ninguém”. A reação da tia Judite às
prendas, com o telefonema para um seu conhecido na Policia Judiciária e a
referência a análises toxicológicas, sugere que ela tinha fortes suspeitas de
que um dos sobrinhos lhe ofereceu literalmente um “presente envenenado”. Vejamos então sobre quem
recaíram as suspeitas da velha senhora, analisando o presente de cada um dos
sobrinhos, por ordem alfabética para não ferir suscetibilidades. O ramo de Clara tinha um
odor pouco habitual, sugerindo mesmo um veneno potente usado em diversas
circunstâncias. No entanto, a forma como este atua inviabiliza qualquer
possibilidade de um arranjo de flores perecíveis funcionar como arma do
crime. Clara limitara-se a perfumar os caniços da prenda com uma fragância de
amêndoa. José Alberto levou como
oferta um gelado que acabara de comprar. Apesar de o dia 15 de Agosto ser
feriado nacional, no Porto há gelatarias abertas. O gelado poderia estar
envenenado, mas a proposta de partilha feita por José Alberto coloca este
sobrinho no rol dos inocentes, por motivos óbvios. Rodrigo entregou à tia a caixa
de bombons. A descrição da caixa e do seu conteúdo – o “requintado sortido” −
e ainda a referência a “Ambrósio, apetecia-me tomar algo”, não deixam lugar a
dúvidas quanto à marca dos bombons. A afirmação de Rodrigo sobre a compra
efetuada na véspera põe a pulga atrás da orelha da tia Judite, porque ela
sabe bem que todos os produtos desta marca são retirados do mercado durante o
Verão. Foi por isso que decidiu tirar tudo a limpo e meteu a polícia ao
barulho. Judite pensou que o sobrinho poderia estar simplesmente a mentir
sobre o dia de compra, ou então a situação seria mais grave e a caixa de
bombons faria parte de mais um plano astucioso para a assassinar. A minha convicção é que
Rodrigo, que saiu de casa da tia com o rabinho a dar-a-dar, está neste momento
com o dito entre as pernas, porque a análise toxicóloga foi positiva para um
veneno letal e as perícias identificaram o autor da adulteração dos bombons. |
© DANIEL FALCÃO |
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