Autor Data 1 de Setembro de 2022 Secção O Desafio dos Enigmas
[147] Competição Torneio
"Solução à Vista!" – 2022 Prova nº 2 Publicação Audiência GP Grande Porto |
MATARAM O MAU-DIABO Detetive Ynpru Sedent Gazua
estava cansado. O ajudante Alavanka andava
preocupado com os resultados do futebol, sem se deixar afetar pela
intensidade do trabalho. A quantidade de casos a resolver, o crime violento e
não violento a aumentar. O comissário Lanterna elogiava o trabalho do agente
Gazua, sabia que no fundo ele o tinha em boa conta, embora o modo de o
mostrar não fosse o mais indicado. Gazua
olhou para o relógio, estava na hora de tomar o complexo vitamínico. Alavanka discordava da estagiária Maria, sobre o trabalho
do árbitro no derby decisivo para a conquista da
Liga. Foi nesse momento que o telemóvel tocou. Encontrara-se um cadáver
escondido, atrás de uns contentores de lixo, numa rua de um bairro
residencial. Gazua meteu-se no carro patrulha com o ajudante e foram de
imediato tomar conta da ocorrência. Um
grupo de curiosos rodeava o corpo a uma distância prudente. A rua era
estreita, meia dúzia de pessoas pareciam logo uma turba. Gazua acotovelou
quem estava a estorvar e chegou-se ao corpo estendido no chão. Tinha a
carteira com ele. Verificou a identidade. Nome, Silva da Selva, data do
nascimento 31 de julho de 1982, técnico de informática. Um buraco à altura do
coração. Fora morte imediata. Os curiosos debandaram com o antigo receio ‒
partilhado de geração para geração ‒ de lhes perguntarem algo sobre o
sucedido. A equipa forense chegou e começou a fazer o seu trabalho. Não se
encontrou a arma do crime. Contactou-se
a família. A esposa, chorando com o desgosto marcado na cara, disse que ele
fora a uma comemoração, feita por antigos colegas de escola secundária, a
propósito de uma viagem de finalistas à Suíça, corolário dos cursos concluídos.
Nada dissera ainda aos filhos. Cerca
de 13 convivas. Tinham-se portado bem, à parte um “agarro” inofensivo de
colarinhos, a propósito de um polémico resultado de futebol. Ouvidos um por
um, confirmaram a amizade que tinham pelo desditoso, nada faria prever que o
estimado Silva da Selva, acabaria assim. O
anfitrião, agora industrial, disse que nada tinha notado de estranho, embora
tivesse também observado da varanda, com a sua esposa, os colegas a
afastarem-se. O
grupo saíra para a rua sem novidade, dispersara aparentemente tranquilo, cada
um de regresso a sua casa. A
vítima não chegara a entrar no seu carro, fora abordado por alguém e atingido
antes. Inquirida a vizinhança ninguém ouvira o tiro ou barulho de briga. Sem
mais pistas até então, o agente Gazua e o ajudante Alavanka,
foram até a um café dos que não fecham a noite toda, onde, de uma mesa perto
da sua, escutaram uma conversa em que se comentava o crime. ‒
Havia ali um ódio de morte. ‒ Perceberam dizer sem nitidez. Reconheceram
alguns dos recém-interrogados. O Si, auxiliar administrativo, com uma
cicatriz na cara, resultado de um acidente, triste e divorciado. Lá,
engenheira do ramo alimentar, loura e bonita. Mi, arquiteto paisagístico,
despenteado mental, não se esquecia da cabeça por se encontrar agarrada ao
corpo. Fá, diretora de um estabelecimento de ensino ruiva, sardenta,
irrequieta, bela, capaz de ressuscitar um morto. Certos
que falavam do caso, sentaram-se junto dos interlocutores. Partilhavam
da mesma estima pelo colega falecido, mas sabiam de umas antigas altercações
com outros estudantes, de um estabelecimento de ensino rival, por causa de
andarem alguns a quererem a mesma rapariga. Não pareciam, no entanto,
discórdias que justificassem ou merecessem rancores e tal desfecho trágico. Intimaram-os para uma segunda audição. Dizia
a Fá que nesse tempo, o morto não a largava, falava-lhe de namoro, mas era de
tal maneira melga, que num dia daqueles, do mês de maior perturbação, o
regalou com um par de estalos. Mas daí, ele era apenas um sonhador, militante
do cristianismo libertário, leitor atento de Tolstoi,
despassarado, sempre a cravar tabaco. O
Si, declarou que à parte o mau hábito de pretender
constantemente roubar a mulher dos outros, não era mau diabo: ‒
Nada que não se emendasse, se o avisassem de modo a fazer ver as coisas. ‒
Saiu um pouco mais cedo? ‒ Perguntou-lhe Alavanka.
‒
Não, esqueci-me do telemóvel no carro, fui buscá-lo para acompanhar a malta
na sessão de fotografias. ‒
Não notou nada de estranho no exterior, alguém, algum vulto? ‒
Não, nada me chamou a atenção. Mas espere, houve sim, um vulto, que acelerou
o passo, quando olhei, a sair da área iluminada pelos candeeiros. A
Lá, encontrava-se com ele às escondidas, por causa
da severidade moral de seus pais, entendiam-se bem, mas, porque ele ganhara o
mau hábito de beber, começou a enxotá-lo o mais polidamente possível. O
Mi não o gramava nem com molho de tomate. Diz que ele era um fala barato, um arruaceiro de meia tigela, que não merecia
que se desperdiçasse nele qualquer tipo de munição, se usasse qualquer tipo
de arma, com ou sem silenciador, automática ou de carregar pela boca. Feito
isto, Gazua e Alavanka regressaram às suas
lucubrações. ‒
Parece não haver nos suspeitos o tal ódio de morte ‒ disse o Agente Gazua
a Alavanka ao reparar, que o comissário Lanterna ia
à frente da porta da esquadra, num passo nervoso e rosto descomposto. ‒
O tal vulto o esperara emboscado? Gazua
fez cara de pensativo, sem saber ainda qual dos suspeitos teria feito o
crime. Maria
que escutava a conversa disse: ‒
Eu sei. O
comissário Lanterna ouvira da entrada da porta, chegou-se à frente e
perguntou-lhe: ‒
Como foi que descobriste? ‒
Um passarinho bisnau me contou. Quem
seria: a)
Fá. b)
Si. c)
Lá. d)
Outro antigo companheiro de quem o narrador não fala, não convidado, talvez
por o Silva da Selva ser naquele tempo o melhor da turma, em vez de ele,
claro. Na sua opinião, quem matou
Silva da Selva? |
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© DANIEL FALCÃO |
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