Autores Data 25 de Março de 2022 Secção Correio Policial [547] Publicação Correio do Ribatejo |
MORTE AO PIANO Domingos Cabral Por
determinação emanada da chefia, devia sair imediatamente com a sua equipa
para um determinado endereço em Belém, pois havia sido recebida a informação
de que, na sua residência, Ferdinando Lopes. Apesar
da sua já longa carreira, ao Inspector Gonçalves a
sua nomeação para mais um caso de homicídio não representava uma rotina, mais
um serviço. De facto, morrera um homem, assassinado, e para um humanista que
por natureza ele era, as situações em que o homem é carrasco do próprio homem
mexiam muito com a sua sensibilidade. Mas a vida é como é e não como cada um
desejaria que fosse, e ele era Inspector da
Judiciária, aquela era a sua missão… Sita
no rés-do-chão da moradia, a sala era ampla, agradável, decorada com gosto,
mas… neste momento destoava nela a presença de um cadáver. Do dono da casa.
Sentado ao piano, no qual aparentemente se encontrava a tocar, o seu tronco
estava agora dobrado para a frente, com a cabeça inclinada para o seu lado
direito, pousado sobre as teclas daquele instrumento. Na parte superior da
nuca exibia um ferimento provocado por uma bala, que saíra, derramando
sangue, ao lado do nariz, causa mais que provável do óbito. Nada de armas,
nem aparentemente algo fora do seu lugar habitual. Tudo a indicar que a
vítima fora atingida em plena actividade do seu
ensaio. Em
casa, na ocasião, encontrava-se apenas a sua mulher, uma vez que o filho se
havia deslocado a Madrid. Interrogada, aquela prestou o seguinte depoimento: Estava
no primeiro andar procedendo à selecção e
arquivamento de umas fotografias, quando, de súbito, ouviu o ruído do que lhe
parecera ser de um tiro, logo seguido do súbito silenciamento do piano.
Estranhando, até porque seu marido estava a tocar ainda há pouco tempo e costumava
fazê-lo mais demoradamente, descera ao rés-do-chão, alarmada, e deparara com
aquele horrível cenário. Vendo
que o marido estava morto, correra ainda para as janelas, na tentativa de
conseguir ver o atirador fugindo, mas infrutiferamente. Seguidamente
telefonara para a Polícia. O
Inspector subiu, depois, ao primeiro andar,
inspecionando-o com atenção, não tendo encontrado nada que pudesse reputar de
anormal. Desceu ao rés-do-chão e, enquanto os seus colegas continuavam a
buscar indícios e a fotografar o local, afirmou, convicto, o seguinte:
____________________________________. Pergunta-se:
Que acha que terá dito o Inspector? |
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© DANIEL FALCÃO |
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