Autores Data 1 de Abril de 2022 Secção Correio Policial [548] Publicação Correio do Ribatejo |
RECORDAÇÕES DO INSPECTOR GONÇALVES Domingos Cabral Terminado
mais um dia de actividade, o Inspector
Gonçalves, sentado num sofá, em sua casa, ia beberricando um whisky enquanto
revia o seu dia de trabalho. Mais um, assinalado, por uma situação nova: a chefia
nomeara um novo elemento para a sua equipa de investigação, um rapaz novo,
recentemente entrado na P.J., que o acompanhou no caso para que, naquele dia,
fora escalado – bastante simples, por acaso, mas propício para testar o
“puto”, que revelou “pinta”. Situação
que agora o estava a conduzir para a evocação de um passado já remoto: também
a sua estreia na P.J. a primeira vez que saíra para, com o Inspector Janardo, colaborar na investigação de um caso.
Como as situações se repetem – semelhantes mas não iguais! Também bastante
fácil, resolvido quase na hora – um homicídio numa vivenda de Belém. Muito
tempo já passara, mas recordava-se bastante bem dos contornos do caso: o
proprietário daquela vivenda fora mortalmente por um tiro na cabeça, que lhe
provocou morte imediata. O
corpo encontrava-se caído junto à janela da sala de estar, no rés-do-chão. No
soalho, junto à cabeça da vítima, via-se uma significativa poça de sangue, e
sobre o corpo diversos fragmentos de vidro que na janela se mostrava
estilhaçado, por onde aparentemente fora do exterior disparado o tiro. Nada
mais fora da normalidade se vislumbrou no local, o que foi confirmado pelo
irmão da vítima, única pessoa que com ele ali vivia. Que,
quando interrogado sobre o que podia ajudar a esclarecer sobre o ocorrido,
declarou que se encontrava no primeiro andar, no seu gabinete de trabalho, e
no computador, avançando um estudo histórico no qual há algum tempo vinha trabalhando,
quando de súbito ouviu o som de um tiro, logo seguido do ruído de vidros a partirem-se
e do que lhe pareceu ser a queda de um corpo. Como só ele e o seu irmão
habitavam a casa, correu de imediato para o rés-do-chão, onde sabia que
aquele se encontrava, temendo que algo de grave pudesse ter-lhe acontecido.
E, infelizmente, não se enganara – ele estava caído, inerte, sangrando junto
à janela pela qual certamente fora baleado, pois o vidro estilhaçado naquela
não parecia deixar margem para dúvidas… Abrira-a, tentando vislumbrar o autor
do disparo, mas já não vira ninguém… Entretanto
constatara que o irmão estava morto. Dera, por isso, logo o alarme, e nada
mais sabia. Esperava que descobrissem rapidamente o culpado… Inquirido
se sabia de alguém que desejasse a morte do irmão, respondeu negativamente. E,
depois de uma nova inspecção ao local e ao corpo,
foi-lhe feita a vontade. De facto, a resolução fora fácil e rápida. Como a do
caso de hoje. E não é que o “puto”, recém-chegado à equipa, foi também pronto
a chegar à conclusão que o Inspector Gonçalves já extraíra
do caso – que o irmão da vítima era o potencial culpado? Perguntamos:
Qual das situações das seguintes alíneas o leitor acha que fundamentou tais
conclusões? a)
O tiro disparado do exterior não provocaria morte imediata; b)
As suas declarações não se compaginavam bem com o cenário encontrado na sala; c)
No primeiro andar não se podia ter escutado o tiro. |
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© DANIEL FALCÃO |
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