Autor

Dr. Acéfalo

 

Data

25 de Outubro de 1992

 

Secção

Policiário [69]

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

QUEM MENTE MAIS?

Dr. Acéfalo

Solução apresentada por Tommy & Tuppence

Quem matou?

O filho mais velho!

De facto, o caso encontra-se recheado de falsos testemunhos com o intuito de “sacudir a água do capote”. Dos sete suspeitos, três deles parecem-nos logo afastados do crime – as noras e o neto. As declarações de uma das noras imediatamente descartam de responsabilidades estas três personagens.

Relativamente aos remanescentes quatro suspeitos, nada nos leva ao comprometimento do filho mais novo, que fez papel de espectador desatento (ou eventualmente de cúmplice, embora não existam dados para o confirmar).

O problema resume-se, claramente, aos restantes três suspeitos: o filho mais velho, o mordomo e a cozinheira.

Quem mente mais (e pior) é o filho mais velho, senão vejamos: “Como ninguém respondeu, empurrei a porta…”, o que corresponde a um erro demasiado infantil para quem deveria saber que a porta não podia ser empurrada, mas sim puxada (“foi então que o Duplicado avançou impetuosamente para o escritório, abrindo a porta com tanta força que por pouco não colhia com ele os presentes no corredor.”).

Mas há mais! De facto, ficámos a saber que este “artista” reconhecia o sangue do pai e, mais do que isso, pressentia a sua morte. Como se tal não bastasse, a atitude de fugir para o “hall” e esperar pelo mordomo é o melhor que se poderia imaginar. É óbvio que nada disto faz qualquer sentido, pelo que o depoimento do mordomo apenas pode ser interpretado como destinando-se a encobrir o verdadeiro assassino.

Na realidade, o mordomo tentou por todos os meios “defender” o “menino”, tanto mais que nem sequer referiu que a faca lhe tinha chamado a atenção por ser “igual à da Josefina”. E não o fez porque lhe pareceu preferível que fosse alguém, que não ele, a denunciar essa situação, desviando assim as suspeitas para cima da cozinheira.

Quanto à cozinheira, é óbvio que ela mente quando insinua que o mordomo fora buscar a faca à cozinha a meio da tarde. É claro que quem levanta a mesa e tem livre acesso a todas as divisões e a todas as horas, se quisesse uma faca, não teria necessidade de se denunciar daquela maneira, a não ser que fosse estúpido.

Finalmente, apenas um pormenor corrói os nossos espíritos, e acerca do qual eu (Tommy) e a minha parceira (Tuppence) temos opiniões ligeiramente diferentes. Segundo o Tommy (eu próprio), não parece lógico que o mordomo se tenha defendido tão asperamente da acusação feita pela cozinheira, tendo ficado impassível perante acusação idêntica formulada pelo filho mais velho. Por outro lado, a Tuppence acha isso relativamente natural, entendendo que o mordomo quereria a “toda à força” ilibar o “menino”, mas não suportaria o ultraje que seria a acusação feita pela “eles”" da cozinheira. São opiniões.

Parece-nos, no entanto, que independentemente da solução para este pequeno pormenor, o lógico é que quando A pretende defender B, o faça sem grande prejuízo próprio, originando um álibi e/ou uma acusação sobre C. A situação de A tentar ilibar B, mas vir depois a ser acusado por B, adicionado ao facto de C acusar A e A imediatamente reagir, parece-nos uma cena com demasiada carga masoquista.

© DANIEL FALCÃO