Autor

Dr. Aranha

 

Data

30 de Agosto de 1979

 

Secção

Mistério... Policiário [232]

 

Competição

Torneio “Detective Misterioso"

Problema nº 11

 

Publicação

Mundo de Aventuras [308]

 

 

A FOTO REVELADORA

Dr. Aranha

 

Sentado à secretária, puxando baforadas do cachimbo que gulosamente chupava, o inspector Mello pensava no caso, com a atenção fixada num ponto do tecto, embora este nada tivesse de especial. Mas era assim que muitas vezes ele conseguia encontrar o fio condutor que ligava os factos e que lhe permitia encontrar a solução de muitos casos que diariamente lhe passavam pelas mãos.

Sobre o tampo da secretária, várias fotos do local do delito, fornecidas pelo serviço fotográfico da polícia.

Numa delas, talvez a mais importante, era perfeitamente visível o corpo daquele que fora em vida um rico industrial e, agora, mais não era que um simples corpo caído no tapeie, onde uma mancha vermelha se destacava.

«Não há dúvida, monologava o Inspector, esta história das fotos quase instantâneas, a cor ou a preto e branco, foi uma rica ideia! Antes de mandarmos retirar o corpo temos a certeza que reproduzimos totalmente o ambiente. Antigamente, às vezes, lá falhava uma ou outra, lá se ia um ou outro pormenor, e depois… já não havia remédio…»

Noutra foto, grande plano do corpo, notavam-se sobre ele e em redor, pedaços dos vidros que brilhavam ao sol primaveril que naquela manhã aquecera a cidade.

Largou aquela e pegou noutra. Lá estava a larga porta envidraçada – agora só com restos de vidros – que recebera em primeira mão o impacto dos projécteis. Fora por ali que haviam passado as balas que haviam vitimado o industrial.

Pousou as fotos. Na verdade quase as conhecia de cor, de tanto as olhar. E voltando a fixar a atenção no tecto, rememorou as declarações dos suspeitos. Havia, no meio daquele nevoeiro, uma luzinha que ele não conseguiu enxergar. Mas havia de conseguir, ai isso havia…

 

E o inspector recordava…

Em primeiro lugar o que dissera um dos suspeitos, Francisco, sobrinho do defunto, rapaz ainda solteiro, cujo emprego nos escritórios da empresa do tio era mais nominal que outra coisa…

«Sim, uma vez por outra ia lá a casa. Dava-se razoavelmente com o tio, embora tivessem pontos de vista algo diferentes. O tio entendia que todo o tempo era pouco para se trabalhar, enquanto que ele… bem… enquanto o tio fosse vivo e não lhe faltassem as «massas», ia vivendo. Era o único herdeiro, claro, pois o tio era solteiro, mas preferia manter o «stato quo».

«Se ouvira alguma coisa? Sim, ele estava no outro lado da casa, escutara o estilhaçar dos vidros, logo a seguir às detonações. Passos? Talvez, mas não garantia. Como soubera? Ao chegar perto do gabinete do tio encontrara o sócio deste que lhe dera a notícia. E ficara chocadíssimo. Ladrões? Era bem possível! Pois o tio tinha sempre em casa alguns milhares… Se vira o corpo? Não. Até chegar a polícia ninguém, além do João entrara no quarto.

Recordou depois as declarações de João, o criado, que aliás pouco dissera, como todos os outros, também…

«Sim, ouvira os tiros; 3 tiros e ao mesmo tempo o tilintar dos vidros. Depois, um silêncio e, a seguir, um baque surdo. Correra para o gabinete de trabalho do patrão e vira o corpo na posição em que se encontrava.

«Como? Se alguém mexera no corpo? Não senhor. Via-se bem que o patrão devia estar morto. Não mexia sequer. E além disso ele sabia que a Polícia não gostava que se alterasse o local dos crimes».

«Não vira ninguém, nada mais ouvira sequer. Além disso estava um pouco distante do local».

E o Inspector fumava e fumegava, atenção concentrada no tal ponto vago que nada tinha de especial, tal como as declarações do criado…

Quanto ao sócio, Aldomiro, ainda menos dissera. Era surdo que nem uma porta. Fora o criado que lhe contara o sucedido, pelo método habitual: escrevendo uma frase no bloco que ele trazia sempre consigo.

«Sim, fora ele que dissera ao sobrinho do sócio. Como iam os negócios? Mas muito bem. Se havia dinheiro na secretária do sócio? Mas com certeza era hábito do morto ter sempre uns milhares em casa, pois às vezes proporcionavam-se negócios «de ocasião», com pagamentos a pronto, de modo que…

«Inimigos? Oh! Não… Era um tipo estupendo..».

E o Inspector continuava a rememorar…

Não fora encontrado dinheiro algum na secretária do industrial. O Relatório Médico da autópsia apenas informara que a morte fora provocada pela primeira bala. As outras tinham sido escusadas…

E o Inspector pensava e fumava. Ou melhor, deixara de fumar pois acabara o tabaco no cachimbo. E foi ao carregar de novo este que vislumbrou a luz que se encontrava lá… Pois claro… Se é verdade que… então havia uma mentira no caso. Tocou a campainha, chamou um agente e mandou preencher um mandato de captura para… pois era ele o culpado.

 

1 – Que nome mandou o Inspector inscrever no mandato?

2 – Justifique convenientemente.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO