Autor Data 6 de Julho de 1978 Secção Mistério... Policiário [173] Competição Problema nº 10 Publicação Mundo de Aventuras [249] |
Solução de: CRIME EM NOITE DE CHUVA… Durandal Solução de
autor não identificado O
crime não foi perpetrado por estranho à casa, vindo de fora e entrando pela
janela, porque: a) o «sistema da vidraça partida», é de dentro para fora; b) não há sinais de luta – era de
confiança da vítima; c) a alcatifa não está molhada nem suja. Os
criados não foram, porque: a) não têm motivo, antes pelo contrário; b) tínhamos
de considerar o conluio entre os 4, o que é difícil, pois não se trata de um
grupo de malfeitores; c) Carmelinda diz que o marido lhe abriu e porta –
logo, não havia criados em casa; d) Graciette confirma que Jorge emprestara o
carro aos criados – todos a essa hora ainda lá estavam! Graciette
também não foi, porque: a) é excluída pelo depoimento de Carmelinda e b) era
a que menos ganhava com a morte de Jorge. Carmelinda também não foi, porque: a) a
questão do divórcio, por morte do marido, não parava; b) fazendo desaparecer
as acções (nacionalizadas!...) chamava sobre si as atenções; c) na partilha,
aquando do divórcio, poderia ir buscar o que muito bem entendesse Júlio
Seixas, não tem nada com a «chave»… É uma boa «bucha» do Produtor (que não
tenho o prazer de conhecer, mas que mostra saber disto!...), metendo-o no
texto só para nos vir dizer o que desapareceu… Resta-nos
Carlos Pinto e foi ele o criminoso! Este «nabo» tem dois erros de truz. Um,
nós apanhámo-lo por intercepção dos depoimentos. Trata-se do caso da luz…
Para afastar de si as suspeitas e não sabendo quem lá tinha estado
anteriormente nem a que horas viriam os criados, mente, dizendo que não havia
luz… E pelo decorrer da acção nós sabíamos que havia! O outro erro, é um erro
técnico, o que me leva a pensar que Durandal está muito ligado a coisas
forenses… Trata-se de, na Relação, não haver depoimentos de testemunhas!...
porquanto, só nos casos especiais do art.o 712.o do
Código do Processo Civil, a Relação pode alterar a matéria de facto fixada na
1.a instância… Estes os dois erros fundamentais – visto já termos
tratado na sua montagem do cenário, do vidro partido… Solução
de autor não identificado 1
– O assassino de Jorge Neves foi Carlos Pinto. 2
– Em primeiro lugar há que procurar se o assassino foi alguém das relações da
vítima ou alguém estranho à casa, e que lá tivesse ido com a mira do roubo. Para
ser alguém de fora, teria de haver arrombamento de portas ou janelas, e o
único indício que verificamos nesse sentido é a vidraça partida recentemente,
e irregular, junto ao puxador que abria a porta-janela que deitava para a
varanda. Em face disto, não restaria qualquer dúvida de que o assassino teria
de ser um estranho, só que, a fina alcatifa bem cuidada, não apresentava
vidros partidos, o que logo nos garante que o vidro não foi partido de fora
para dentro, e consequentemente, que aquela vidraça não fora partida por
alguém para entrar, logo, o assassino não foi ninguém estranho à casa… Por
outro lado, a ser um estranho o assassino, a alcatifa apresentaria vestígios de
chuva e possivelmente de lama, uma vez que o crime se verificou quando já
chovia, e eu não creio que um malfeitor tenha o cuidado de limpar os sapatos
quando entra numa casa para matar ou roubar. E
que dizer da vítima deixar que um estranho, que lhe parte um vidro para
entrar, se aproxime de modo a desfechar-lhe um tiro à queima-roupa?... Não
tentaria tudo para o evitar, corno, por exemplo, lutando?... Creio que sim, e
isso mais prova que o assassino era alguém conhecido da vítima, pois nada nos
indica ter havido luta, bem pelo contrário. Chegados
a este ponto, temos de procurar o assassino entre as pessoas relacionadas com
a vítima, assim temos: Em
relação aos criados, temos a veracidade das suas declarações através das
confirmações de Carmelinda, ao dizer que o marido lhe foi abrir a porta, e se
tal aconteceu, é porque em casa não se encontravam os criados para o fazer, e
Graciete, que diz que o Neves lhe chamou um táxi em virtude de ter emprestado
o dele aos criados e estar o chover. Assim,
para ser um criado o criminoso, teria de ter a conivência dos restantes, o
que seria muito arriscado. Graciete,
porque a sua visita ao Neves, foi anterior à de Carmelinda, e porque esta diz
que o encontrou vivo, fica de imediato ilibada. Aliás, ela nada beneficiaria
daquela morte, uma vez que em breve, logo após o divórcio, se tornaria mulher
do Neves. Carmelinda,
já que reivindicava publicamente as acções, já que a acção de divórcio,
estava para breve a sua resolução, seria estupidez assassinar o marido, pois que,
após o divórcio transitado, haveria lugar à partilha, e então reclamaria para
o seu quinhão, as acções que pretendia, isto no caso da Relação sancionar o
divórcio, pois em caso contrário ela continuaria a ser legítima herdeira dos
bens do casal. (?) O
secretário Júlio Seixas, não tem no seu texto, ponta por onde se pegue paro o
acusar. Chegamos
finalmente a Carlos Pinto, que se incrimina ao dizer que às onze horas da
noite, não viu qualquer luz, acontecendo que, quando os empregados chegaram,
essa luz estava acesa, o que será dizer, que ela (luz), nunca foi desligada,
e como a janela da sala onde o João Neves foi assassinado, dava directamente
para o caminho de acesso, por onde viera o Pinto, logo ele teria,
forçosamente, de notar a luz acesa. Por
outro lado, o assunto que ele diz que motivou aquela visita, é descabido
(acertarem pormenores do depoimento que Pinto devia prestar), uma vez que
essa sessão teria lugar na Relação, onde já não têm lugar depoimentos, pois
eles foram todos feitos na 1.a Instância. Acrescento ainda, que na
Relação, é feito apenas análise documental do processado. Pelo
exposto, não resta qualquer dúvida ter sido Carlos Pinto, quem assassinou
Jorge Neves, quem sabe se, por pretender cobrar mais «algum», além daquele
que já tinha recebido quando do seu falso testemunho na 1.a
Instância. Como Neves se teria recusado a esse pagamento, o Pinto não foi de
cerimónias, saca da arma e mata o amigo com um tiro à queima-roupa. Depois
foi a encenação, partir o vidro, para dar a aparência que quem entrou teve de
o fazer; violar o cofre, tirar as acções e as moedas de ouro, dando assim a
entender que teria sido um vulgar ladrão ou quem sabe, se tentando incriminar
a mulher da vítima uma vez que ela reivindicara as acções publicamente. Disse
eu, quando tentei justificar não ter sido ninguém de fora, que se o tivesse
sido, o alcatifa apresentaria vestígios de chuva e lama. Assim sendo, porque
é que a referida alcatifa não apresenta esses vestígios, deixados pelo
calçado de Carmelinda e de Pinto, se ambos estiveram no vivenda já depois de
ter começado a chover? Muito
simples, é que ambos teriam entrado pela porta principal (o porta-janela do
salão onde a vítima foi encontrada, não era a entrada principal do casa), e
como é lógico em pessoas normais, teriam limpo os sapatos no tapete da
entrada da casa, logo, quando estiveram no salão, o seu calçado já não deixou
marcas. |
© DANIEL FALCÃO |
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