Autor

Luís Pessoa

 

Data

22 de Agosto de 1992

 

Secção

Policiário [53]

 

Publicação

Público

 

 

NO REINO DO CONDE BRUGES

Eduardo Oliveira

 

No dia 31 de Julho de 1992, pelas 10h30 da manhã, o Necas foi preso por dois agentes da autoridade perto da barraca em que habitava nas Galinheiras. Conhecido na zona como passador de droga, tinha estado nos últimos três anos a cumprir pena pelo tráfico, tendo sido libertado há menos de dois meses, encontrando-se em liberdade condicional. Ao ser algemado mostrou-se muito surpreendido.

“Porque é que me estão a prender? Eu não fiz nada! De que é que me acusam?”

Um dos polícias ao empurrá-lo para dentro do carro deu-lhe a resposta: “És acusado de ter assassinado o conde Bruges, um traficante internacional de drogas”.

E o carro arrancou velozmente em direcção à esquadra.

O inspector Garcia tinha acordado muito mal disposto naquele dia e queria despachar aquele caso tão simples o mais rapidamente possível. Inquiriu rispidamente o seu ajudante: “Horácio, dá-me os pormenores deste caso, para eu interrogar o suspeito.”

“Por volta da meia-noite o conde Bruges foi assassinado em sua casa com um tiro na cabeça. Alertados pela vizinhança, mandámos uma patrulha que procedeu às respectivas investigações. Não encontraram qualquer pista e os vizinhos não viram ninguém. Apenas sabemos que o conde era uma personagem conhecida no tráfico de drogas internacional e há algum tempo que o tínhamos sobre vigilância, através da equipa do sub-inspector Machado.”

“Afinal como é que o Necas entra no caso?” – perguntou o inspector.

“Acontece que o sub-inspector Machado estava de vigilância e tirou uma foto do Necas a entrar ontem à noite no prédio do conde. Depois de ter ouvido o tiro tentou apanhá-lo, mas parece que o Necas conseguiu fugir por uma porta que dava para as traseiras. Eis a foto.”

O ajudante Inácio retirou dum envelope uma fotografia que entregou ao seu superior. Nela, via-se o Necas a entrar num prédio antigo situado numa ruela escura do Bairro Alto. O luar permitia distinguir perfeitamente a fisionomia do Necas.

O inspector sorriu satisfeito. “O Necas está tramado. Esta foto vai comprometê-lo irremediavelmente. Manda-o entrar.”

O preso entrou e foi imediatamente posto perante a evidência apresentada na fotografia.

“ Necas, confessas o crime?”, perguntou-lhe o inspector Garcia.

“Eu estou inocente!”, gritou o acusado. “Passei a noite anterior em minha casa e não sei nada do conde.”

“A sério?! E alguém te viu em casa? É que esta fotografia demonstra claramente onde estavas ontem à noite!”

“Eu juro que estive sempre em casa! Ninguém me viu durante a noite mas eu não saí de lá. Onde arranjaram essa fotografia? Isso é uma falsificação…”

“Negas que conhecias o conde Bruges?”

“Bem… eu…quer dizer…”

“Necas, já que não tens nenhum álibi parece-me que vais apanhar uma boa dezena de anos na cadeia.”

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO