Autor

El-Junhocas

 

Data

19 de Julho de 1979

 

Secção

Mistério... Policiário [226]

 

Competição

Torneio “4 Estações 79” | Mini C - Verão 79

Problema nº 3

 

Publicação

Mundo de Aventuras [302]

 

 

O CASO DO CORPO AO LADO DA CAMA

El-Junhocas

 

Ao lado de uma pequena cama de madeira roída pelo caruncho, mas com uma colcha bonita, muito bem posta na cama, sem rugas, e com os quadrados de cores muito bem matizados, encontrava-se o corpo ensanguentado.

Dois tiros, cujas balas lhe tinham penetrado nas entranhas, uma atingindo o coração e a outra o pulmão, tinham sido a causa da morte.

Uma televisão em cima de uma pequena mesa, duas cadeiras, um tamborete; na cómoda, com espelho, uma gaveta aberta – exactamente a que contivera a dinheiro… logo, o intuito do crime fora o roubo, pormenor que se guardara em sigilo – eram o resto do cenário daquele quarto simples, pobre, mas limpo, onde um homem fora assassinado.

O extraordinário deste caso foi o grande número de testemunhas, nada menos que nove!, todos suspeitos, claro!, e onde, para maior complicação, quatro apresentavam depoimentos coincidentes…

E neste grupinho, precisamente duas delas já tinham cadastro criminal: o Luís e o Santos!

Mais tarde, já no dia seguinte, e depois da «técnica» se ter debruçado sobre o quarto, seus móveis e vítima, nas indispensáveis buscas e exames, comecei por ouvir os suspeitos.

E os primeiros, foram, precisamente, o tal grupinho de quatro: o Mário, o Luís, o Santos e o António.

– Bem… Eu queria dizer-lhe, inspector, que nós fomos os últimos a ver a vítima em vida… além do assassino, claro! A nossa história resume-se apenas a isto: estivemos ali, no quarto da vítima, primeiro a conversar e depois a ver televisão. E mais nada – dizia o Mário, tendo todos os outros elementos do grupo confirmado aquele depoimento.

Depois deles, foi a vez de ouvir o cobrador da luz, o Manuel, que, com ar bastante irritado, me disse:

– Era já à tardinha. Cheguei ali, fui ver o contador da luz e nada mais vi, nem sei!

Seguiram-se mais duas das testemunhas-suspeitos, mas nada retirei delas que nos viesse o interessar. Estes é que me pareceu não ter quaisquer dúvidas em ilibá-los.

Finalmente, a penúltima testemunha e em princípio suspeito, como todos os outros, foi o Lopes, um amigo da vítima que me disse:

– Estive aqui por volta das nove horas e demorei cerca de uma hora a falar com a vítima sobre negócios. Nada de especial aconteceu. Quando saí, deixei-o vivo.

Por fim, o Carlos, irmão da vítima:

– Cheguei aqui, talvez pelas dez e dez, mais coisa menos coisa… Vim pedir-lhe que me emprestasse uns dinheiros, mas ele recusou-se e até me ofendeu dizendo que não sustentava vadios. Aqui é que eu fiquei irritado, mas para não estar com mais coisas resolvi sair. E é tudo!

Depois destes ligeiros apontamentos, continuei no meu gabinete a ver se tinha uma ponta por onde pegar… As horas, referiam-se todas à noite, claro… A morte, dissera-me o médico a correr, ainda sem dados precisos, ter-se-ia verificado entre a meia-noite e a uma da madrugada… O corpo, ao ser atingido pela bala no coração, deve ter tido morte repentina e caído para o lado, onde fora encontrado. Por isso a outra bala já o apanhara noutra direcção. As roupas não estavam chamuscadas… Não fora encontrada arma… A luz estava acesa e a televisão apagada… Aquilo dava-me volta ao miolo e eu resolvi voltar a ouvir o tal grupinho, mas agora em separado…

– Alguma vez se separou do grupo enquanto lá esteve em casa? – perguntei ao Luís.

– Não! Creio que não… a não ser… É isso! Eu e o Santos saímos primeiro que os outros. Moramos mais longe…

– Não ouviu nenhum tiro, ao sair, ou enquanto estavam perto da casa?

– Não!

A seguir mandei chamar o Santos que me confirmou toda aquela declaração.

– Já sei que o vosso grupo se separou, já que o Luís e o Santos saíram primeiro – disse eu para um dos outros. Posso saber se você e o Mário se separaram alguma vez?

– Não! Não nos separámos – respondeu-me o António, que acrescentou: – Não acha, inspector, que o roubo foi extraordinariamente bem planeado?

Tive de concordar…

Todo este depoimento me foi confirmado pelo Mário que também me veio com a tal história do roubo bem planeado.

Fiz os meus relatórios juntei os resultados da «técnica» e tudo aquilo foi a tribunal… Tempos depois, quando entrei de férias dois deles entraram para a Penitenciária… Um com dez anos e o outro com vinte e cinco!

 

Percebe-se que aquelas foram as penas aplicadas, em anos de prisão, a dois dos suspeitos… e nós vamos perguntar:

1 – Quantos e quais os «crimes» que foram ali cometidos?

2 – Quais os seus autores? (Exponha convenientemente a sua opinião.)

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO