Autor Data 10 de Setembro de 1988 Secção Sábado Policiário [140] Competição Prova nº 3 Publicação Diário Popular |
OS CAÇADORES Eureka Era
uma vez, no tempo em que o homem se encontrava no início da sua existência na
Terra e em que tinha de «sobreviver» sem a televisão, uma enorme região em
que era organizado regularmente um grande torneio de caça ao camelurso. O vencedor seria, até ao torneio seguinte, o
detentor de um título que lhe daria fama e muitos privilégios, o título de
«Grande Caçador». Como os candidatos ao título era muitos, tinham de ser feitas
várias eliminatórias para apurar os quatro finalistas, que teriam a honra de
travar a última batalha pela vitória final. Após
os encontros preliminares foram apurados para a final os seguintes caçadores:
–
Muscdrol, que era o mais forte dos quatro, media 6
pés e se tivesse vivido na nossa época poderia dizer-se que tomava um frasco
de vitaminas por dia. A sua inteligência era do tamanho da unha do seu dedo
mínimo. Os apostadores consideravam-no o grande favorito. –
Mentirodrol, media 5,7 pés
e afirmava ser o mais honesto dos quatro. –
Decentrodol, media 5,4 pés e era acusado pelos
outros de praticar jogo sujo. –
Astutdrol, apesar de ser o mais baixo, tinha altura
suficiente para poder jogar basquetebol, se naquele tempo ele existisse. A
inteligência era a sua grande arma. Todos
eles iriam no dia seguinte bater-se pela vitória. O público há muito que
havia chegado ao local, esgotando de imediato todos os alojamentos disponíveis.
O
regulamento da prova era muito simples. O primeiro a entregar a Juizodrol, presidente do Júri, uma garra de camelurso seria, depois de indicar onde estava o cadáver
do animal, proclamado vencedor. Uma vez iniciada a prova tudo era permitido,
mas antes disso, qualquer irregularidade tendente a colocar-se em vantagem
levaria à eliminação do infractor. Naquela
noite os quatro concorrentes, mais tensos do que os cidadãos de hoje nas
bichas dos autocarros em hora de ponta, ficaram
hospedados no Hotel Caverneritz. Tudo decorria
normalmente quando, a moio da noite, um grito quebrou o gélido silêncio que
pairava no hotel. Alertado
pelo grito, Juizodrol dirigiu-se imediatamente ao
compartimento de onde partira o som agudo. Era
o quarto de Muscdrol! Deitado,
imóvel, Muscdrol parecia que estava a sonhar;
coitado, tinha a cabeça a sangrar. Levantou-o para o interrogar, mas o pobre
diabo nem conseguia falar. Atirou-lhe água fria e isso resolveu o assunto. Muscdrol acordou e Juizodrol
perguntou-lhe o que se passara. Muscdrol disse que devia
estar a dormir quando, subitamente, lhe deram uma mocada na cabeça. Estendeu
o braço numa linha paralela ao chão e tocou levemente nas sobrancelhas do seu
agressor. Este, ao sentir a sua mão, assustou-se e fugiu. A pouca
luminosidade e o efeito da mocada não lhe permitiram identificar o fugitivo. Após
estas declarações Juizodrol observou cuidadosamente
o quarto. Notou que o agressor tinha de estar erecto
quando desferiu o golpe, e que ao fugir deixou cair a sua moca, que era igual
àquela que os quatro caçadores possuíam. A cama estava a 1,45 m do chão. Juizodrol resolveu então
interrogar os outros três caçadores, que, imediatamente após o grito, tinha
mandado trancar nos seus quartos, o que não lhes permitiu colocarem-se ao
corrente do sucedido. Quando lhes perguntou se tinham ouvido um grito e onde
estavam as suas mocas, responderam da seguinte forma: –
Astutdrol disse que não tinha ouvido o grito que Muscdrol dera ao ser agredido. Tinha a sua moca com ele. –
Decentodrol disse que não tinha ouvido o grito
porque tinha o sono pesado. Não sabia da sua moca e suspeitava que lha tinham
roubado. –
Mentirodrol ouvira o grito e tinha a sua moca na
mão. Resolvido
o mistério, a final teve lugar na data prevista e ganhou o concorrente mais
baixo dos que participaram no torneio. Pergunta-se:
1
– Quem foi o agressor? Como chegou a esta conclusão? 2
– Quem ganhou o torneio? Como chegou a esta conclusão? |
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© DANIEL FALCÃO |
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