Autor

Falco

 

Data

15 de Outubro de 1986

 

Secção

Sábado Policiário [51]

 

Competição

Torneio de Outono

Problema nº 2

 

Publicação

Diário Popular

 

 

Solução de:

UM CRIME PARA LÁ DA JANELA

Falco

 

– «Afrodite», não podia ter sido ela, porque nesse caso não haveria nenhuma marca de um sapato cá fora, nas ervas do jardim. Vivendo com a tia saberia que o cofre estava vazio. O testemunho da vizinha, quanto à arma, também é a seu favor.

– O «Fera», apesar de tudo, nunca viu a tia. Não podia conhecer o local nem a vítima. Ilibe-se.

– O «Ricaço» é o instigador do crime, proporcionando ao seu executor todas as facilidades que o levariam a cometer o acto.

– O «Louco» observava, da sua janela, tudo o que se passava na casa da vítima. Quanto à topografia do local, o «Ricaço» forneceu-lhe os dados indispensáveis.

Se o crime ocorreu «nas mais profundas trevas», só o seu autor poderia fazer um relato tão pormenorizado do que se passara. Ele guarda «na memória a visão não partilhada de um crime». Só o autor do crime pode afirmar isto.

Todas as explicações circunstanciais se aceitam, mesmo a não cumplicidade do «Ricaço», no que respeita ao crime.

Qualquer dos dois tinha motivo para assassinar a tia:

– O «Ricaço» esperava colher alguns lucros do investimento que estava a fazer com o alojamento do «Louco» naquele local. O seu suicídio demonstra que ou ficou desesperado por afinal o cofre da tia se encontrar vazio ou apenas quis fugir à responsabilização que lhe seria imputada, pois ninguém sabia da existência do «Louco» e todas as pistas apontavam na sua direcção.

– O «Louco» coligia troféus de caça (que troféus?): seria aliciado pelas armas que juntaria à sua colecção ou a própria vítima constituiria mais um troféu? De um louco tudo se pode esperar. Por outro lado, ele não hesitaria em ajudar o seu único «amigo», aquele que lhe proporcionava todos os meios para viver fora de uma instituição destinada às vítimas da sociedade, aos rejeitados.

Quanto ao facto de ele não fazer parte da lista de suspeitos isso nada nos afecta a linha de raciocínio, pois não é ele quem «descobre» os suspeitos, mas sim a Polícia. Ele sabe quem é o criminoso! Ele não mente!

© DANIEL FALCÃO