Autor

Faraó

 

Data

8 de Março de 2015

 

Secção

Policiário [1231]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2015

Prova nº 2 (Parte II)

 

Publicação

Público

 

 

AS RIQUEZAS DESAPARECIDAS

Faraó

 

A mansão era imponente, situada em lugar de relevo, no cimo de um cabeço cuidadosamente arrelvado, rodeado de vegetação luxuriante e bem tratada.

Foi construída por um nobre de ascendência inglesa, um viajante inveterado que se apaixonou pela ancestral cultura egípcia, tendo andado em escavações algures pelo Nilo, até a idade o conduzir até este local repousado, onde fez construir a mansão e terminou os seus dias.

Agora eram os filhos quem a habitavam, tendo mantido praticamente toda a traça original e a decoração que o pai introduzira, com baixos-relevos egípcios, peças artísticas e objectos de gosto duvidoso, todos vindos da terra das pirâmides, provavelmente à revelia das autoridades.

No cofre, situado na biblioteca, a fama fazia constar que havia documentos e preciosidades que ultrapassavam a imaginação e todas as pessoas que passavam pela mansão, em trabalho ou em visita social, eram levadas a acreditar que havia uma enorme fortuna por detrás daquelas portas pesadas e resistentes, praticamente inexpugnáveis para quem não dispusesse da chave milagrosa e do segredo.

Naquele dia, Jack regressou de Londres, fez uma paragem em Lisboa, para efectuar algumas compras que programara, antes de se dirigir para a mansão, onde foi saudado pelos irmãos, John e James. Mas a vedeta maior deste reencontro foi o cãozito, ainda pequenote que Jack trouxe, adquirido numa loja de Lisboa.

– Olhem só para este cão e vejam se não vos desperta nenhuma recordação…

– Jack, é igual aos cães que aparecem nas tumbas que o pai estudava!

– Tal e qual! Tinha de o trazer, parecia que me pedia para o adoptar! Digam olá ao Enji!

Nessa noite, cálida e serena, depois do animado jantar, servido pela velha criada que já vinha dos tempos do pai, cada um foi à sua vida. A criada recolheu à cozinha, depois de levantar a mesa; John foi para a sala de estar, assistir a um programa televisivo que não pretendia perder; James subiu ao seu quarto, no piso superior, porque queria ver se uns e-mails urgentes haviam chegado; Jack instalou a coleira no Enji e levou-o a passear pelo relvado.

Algum tempo depois, uma gritaria irrompeu do escritório. A velha criada viu o cofre aberto, vazio e alguns papéis espalhados pelo chão e viu logo que alguma coisa de anormal se passava, porque sabia que “os meninos” eram muito organizados e, em tantos anos, nunca vira tal coisa.

Um a um, foram chegando, primeiro John, que estava na sala ao lado, depois James, alertado pelos gritos e finalmente Jack, com o Enji.

As jóias, os objectos de ouro, o dinheiro, tudo desapareceu. Só os títulos e escrituras ficaram espalhados pelo chão.

Não havia marcas de arrombamento no cofre ou nas janelas, que estavam todas fechadas por dentro.

John: Estive na sala de estar a ver o meu programa de televisão favorito. Quando acabou, fui um pouco até lá fora, apanhar o ar fresco e vi o Jack a passear o Enji, saindo o portão com um saco do lixo na mão. Fiquei algum tempo lá fora, ao fresco e quando o Jack já fechava o portão, ouvi os gritos da Maria e corri para a biblioteca. Ela estava em pranto por ter visto o cofre vazio e os papéis espalhados. Vi logo que houve um roubo. Cada um de nós tem uma chave do cofre, que anda sempre connosco e sabe o segredo. Como é que o ladrão entrou e abriu o cofre, não sei. É muito estranho.

James: Estava no meu quarto a consultar e-mails e a navegar na net quando ouvi os gritos da Maria. Desci as escadas e ao chegar à biblioteca já lá estava o meu irmão John. É claro que tenho chave, que anda sempre comigo e sei o segredo, tal como os meus irmãos. Não percebo como é que algum ladrão conseguiu abrir o cofre, ou então alguém se esqueceu de o fechar, mas não eu porque há muito tempo que não o abro.

Jack: Fui passear o Enji. Aproveitei para levar um saco com lixo para meter no contentor que fica do outro lado da rua. Lá, o Enji ouviu alguma coisa e desatou a latir. Ouviu alguma coisa e agora vejo que se calhar era o ladrão a fugir, mas custa a acreditar. Quando estava a fechar o portão, vi o John à entrada da casa e logo depois vi-o correr para dentro. Ao entrar, vi a agitação na biblioteca e soube do roubo. Não sei bem o que lá estava dentro. Estive estes dias em Londres, mas o meu irmão já me disse que as jóias, os objectos de ouro e o dinheiro desapareceram. A chave está sempre comigo e conheço bem o segredo, tal como os meus irmãos.

Nenhum deles sabia bem se o seguro cobria ou não os danos, porque ainda era do tempo do pai. Mas a convicção de todos era que não, porque alguns dos objectos de ouro eram muito valiosos, mas obtidos pelo pai de modo pouco claro, trazia-os das escavações e por isso não acreditavam que uma companhia de seguros aceitasse coberturas assim.

O visionamento das filmagens, das câmaras de vigilância, que controlavam o jardim, não revelou qualquer presença estranha, se bem que houvesse um ou outro ponto morto.

Quem terá roubado o conteúdo do cofre?

 

A – John

B – Jack

C – James

D – Um ladrão do exterior

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO