Autor

Ferman

 

Data

14 de Agosto de 1980

 

Secção

Mistério... Policiário [280]

 

Competição

Torneio “4 Estações 80” | Mini C – Verão

Problema nº 3

 

Publicação

Mundo de Aventuras [358]

 

 

O SOFÁ “ASSASSINADO”…

Ferman

 

A dona Margarida encontrava-se inconsolável… Não havia maneira de confortá-la por mais que se lhe dissesse ou fizesse. Pudera… Tinha encontrado um dos sofás de napa do conjunto da sala, todo traçado… Irremediavelmente traçado!

O senhor Paulino bem procurava acalmá-la, argumentando que, se o conjunto estava perdido, o remédio seria substituí-lo. Mas qual quê?... Nada a fazia demover do seu desalento.

Mas é melhor que se conte o que aconteceu para que compreendam o fio deste «drama caseiro»

Quando, como de costume, a dona Margarida chegou a casa por volta das 6 horas da tarde, ao abrir a porta da saleta, encontrou tudo num desalinho tremendo. Mas suplantando a salsada que reinava de papelame e bugigangas espalhadas ao Deus dará, o que mais lhe despertou a atenção foram as três enormes farpadas em forma de Z que «decoravam» um dos sofás… É claro que, a desarrumação, apesar de enorme, tinha remédio… Agora aquele «trabalhinho» no sofá deixou-a com o coração aos pés.

Encontrar hipóteses para justificar aquela «obra» não era muito difícil para quem tinha quatro diabretes em casa… Suspeitos em potência não faltavam! As provas… Bem, as provas pareciam estar também à vista: um corta-papel do tipo daqueles que se usam nas capas para livros escolares jazia mesmo no assento do maltratado sofá. Para mais, no cabo da «arma do delito» encontrava-se gravado um V em letra francesa.

Aqui fazemos uma paragem para vos apresentar algumas particularidades que a dona Margarida conhecia perfeitamente nos seus filhos, mas que vocês, muito naturalmente! Desconhecem:

Vita – 7 anos. Muito retraída e premeditada por natureza, apesar da sua tenra idade. O corta-papéis pertencia-lhe por direito. Adorava estar sozinha a brincar ou a sonhar viagens pelo mundo seu conhecido dos mapas…

Pedrinho – 9 anos, cheios de vida e imaginação. Era um doido por coisas do «Tarzan», «Korak», «Zorro», «Sandokan», «Super-Homem» e quejandos. Nunca parava em casa…

Tóquinha – 4 anos. A «menina-dos-olhos» da família, não tanto por ser a mais nova mas pelo seu encanto contagiante. «Herdara» do mano Pedrinho a sua vivacidade. Gostava do «Xarlou» (como dizia…) e dos «Bonecos animados»

Filipe – 12 anos. Um autêntico traquinas! Já tinha arranjado alguns problemas na vizinhança e era perito na especialidade do arremesso de pedras aos vidros alheios. As suas preferências inclinavam-se para o futebol e para o tiro-ao-arco. Forçosamente… Era fã do Armando Marques e do Robin-dos-Bosques

Posto isto, dou de novo o comando da acção à dona Margarida… Não estava ninguém em casa quando ela chegou. Pouco depois entrou o seu marido que, encontrando-a naquele estado de depressão, procurou confortá-la. Foi nessa altura que nós chegámos…

Ao tomar conhecimento dos factos que tanto preocupavam a dona Margarida, o marido achou que o melhor seria, tirando partido de um certo bichinho detectivesco que o acompanhava desde a sua juventude, procurar deslindar a «chave» com os dados já conhecidos e com uma pitada de interrogatório. Mas para isso tinha ainda de esperar pelo jantar, altura em que estariam todos presentes.

E assim foi. O jantar decorreu normalmente (com a mãe a esconder mal a sua incontida vontade de pregar uma valente sova a todos e com o pai a fingir uma artificial naturalidade… e os quatro petizes a comer, com muito propósito). Quando todos acabaram de lavar as mãos o senhor Paulino (o pai claro!) chamou-os e disse-lhes:

– Meninos e meninas, quero mostrar-lhes uma coisa. Venham comigo!

Claro que a reacção a este convite foi bastante diferente dentro daqueles quatro cerebrozinhos… Havia quem receasse o pior; havia quem morresse de curiosidade; havia quem achasse que estavam a roubar-lhe um tempo precioso para fazer umas traquinices e também havia quem estivesse com um sono terrível!...

Foram todos atrás do pai até à saleta e aquele convidou-os a entrar, dizendo-lhes:

– Meus filhos, o pai quer a verdade! Não castigarei o autor daquela obra – e mostrava o sofá «assassinado»… –, mas quero que me digam quem foi. Melhor, que o autor me diga confessando porque o fez e como o fez. Se ninguém se acusar, pagam todos! – Este método detectivesco não é muito académico, mas

Aquela maneira de ir directamente ao assunto repercutiu-se instantaneamente nos quatro suspeitos… e uma mãozita que cometera aquela «atrocidade» e que regressava ao local do crime perante condições tão extremistas, tremia que nem uma espiga de trigo em tarde de ventania… O pai não ficou insensível mas continuou:

– O que fizeram esta tarde?

Vita – Paizinho, eu fui para a escola e cheguei há bocado! Mas… olha! A minha faca do papel!!! Por isso eu dera pela sua falta!...

Pedrinho – Esta tarde… Ah! Tinha uma reunião no meu «Clube de Sandokans» e estive lá a tarde toda.

Tóquinha – Eu não fui, papá!... Quero ir «dolmir»!

Filipe – Eram aí umas quatro horas quando vim a casa, com o Paulo aqui do prédio, e estivemos a fazer uma nova fisga. Pareceu-me ouvir um sarrabulho aqui em casa mas não liguei, nem dei mais atenção, interessado como estava com a fisga. Saímos pelas 5 horas.

O pai nem pareceu estar a ouvir as desculpas… Para quê, se ele já sabia quem tinha sido o «assassino»?!...

 

PERGUNTA-SE:

1 – Quem acha que podia ter praticado aquela acto «violento»?

2 – Explique bem o seu porquê. Vá lá!...

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO