Autor

Ferman

 

Data

Abril de 1984

 

Secção

Clube Xis [21]

 

Competição

Iº Campeonatos de Zona de Decifradores de Problemas Policiários e

IIº Campeonatos Regionais de Decifradores de Problemas Policiários e

IIIº Campeonatos Distritais de Decifradores de Problemas Policiários

3ª Jornada

 

Publicação

Clube Xis

 

 

Solução de:

A CAIXINHA DAS SURPRESAS

Ferman

Solução apresentada por Alva

Pois claro, foi roubo!

Para justificação, quase que por si só bastava o facto de o Franganote Alçapão ter mentido nas suas declarações, mas adiantemos um pouco mais em relação a isto.

Naquele dia de Finados, quando o Ferman partiu às 10 horas, caía uma chuva miudinha, ele ia a caminho da Praia de Odeceixe na “fronteira” do Algarve com o Alentejo. A meio do caminho, no entanto, o tempo melhorou e o céu começou a ficar mais limpo. No outro dia a chuva havia voltado.

Nas declarações dos suspeitos ouviu-se a justificação plausível de cada um:

ARISTÓTELES ALÇAPÃO – De manhã fora ao cemitério; almoçara em casa do Felismino Tuberculo; dispensou a criadagem até à noite; jantou em casa com o seu amigo Felismino Tuberculo; e, quando quis mostrar ao seu amigo algumas recordações, viu a caixinha arrombada.

FRANGANOTE ALÇAPÂO – Levantou-se bem cedo e, como não ia ter ninguém em casa, foi visitar uns amigos a uma terreola chamada Maria Vinagre, situada um pouco mais acima de Aljezur; o mau tempo não o deixou passar de Aljezur e ficou por lá; às sete e picos regressou a casa desiludido e encharcado. Quando chegou a casa, o pai deu-lhe a notícia do ocorrido; aquelas futilidades pertenciam à madrasta.

CANAPÉ ALÇAPÂO – Chegou à noite de uma viagem ao estrangeiro; os pertences eram de sua mãe.

ANTONIETA APARECIDA – O pessoal fora dispensado até às sete horas. Voltaram todos à tardinha; quando o Aristóteles deu por falta dos berloques, o pessoal desconfiou que ele desconfiasse deles; embora fossem de confiança.

FELISMINO TUBERCULO – Fez a romagem ao cemitério com o Aristóteles Alçapão e foi almoçar em sua casa mais o amigo; passaram aí o resto do dia e depois foram jantar a casa do Aristoteles Alçapão; quando o Aristóteles lhe quis mostrar uns botões de punho, deu pela ausência de umas jóias numa caixinha.

Perante estes depoimentos, já vimos quem foi o ladrão das jóias. Pois partindo do depoimento de Antonieta Aparecida, todo o pessoal está ilibado e a afirmação do Aristoteles Alçapão ao dizer que dispensava o pessoal até à noite, corrobora esta afirmação. Também as declarações do Felismino Tuberculo coincidem com o depoimento do Aristoteles Alçapão o que lhe vem dar uma óptima cobertura.

Quanto ao Canapé Alçapão, também ele não foi, pois o pai só o esperava nessa noite, o que ele confirma.

Assim, só o Franganote Alçapão poderia ter furtado aquilo que faltava na caixinha.

Antes porém de nos debruçarmos sobre o Franganote, existem ainda para limar umas pequenas arestas respeitantes aos depoimentos dos restantes suspeitos:

a) – Aristoteles Alçapão levou o amigo Felismino ao sítio onde guardava as suas mais importantes recordações e tinha todos os seus bens no seguro.

b) – Antonieta Aparecida diz que o Aristoteles deu por falta dos berloques.

c) – Felismino Tuberculo diz que o Aristoteles lhe quis mostrar uns botões de punho pelos quais nutria especial devoção.

Tudo isto é um pouco confuso mas que tem uma sequência lógica tem pois o facto de a Antonieta falar em berloques condiz com o Felismino, já que no dicionário sobre a palavra BERLOQUE se lê o seguinte: “Pequeno objecto pendente da cadeia do relógio ou pulseira; curiosidade de pouco valor.” E nós sabemos o que são uns botões de punho, uma coisa mínima no valor, à excepção se forem de ouro ou de grande devoção para o possuidor original, o que confina com o que Aristoteles diz; no entanto, nada no texto nos diz que foram os botões de punho uma das coisas desaparecidas.

No texto não se sabem quais as perguntas feitas aos suspeitos para nos podermos aquilatar das suas declarações verdadeiras. Pois, principalmente, o Canapé e o Franganote falam nas coisas desaparecidas, isto é, um diz que eram os pertences da adorada mãe e o outro, que eram futilidades da madrasta.

Por este motivo acho não serem estas declarações de grande importância, pois dá a entender que todos sabiam o que havia sido tirado da caixinha.

Agora sim, debrucemo-nos sobre o Franganote Alçapão:

Se ele se levantou bem cedo, quer dizer, antes do pai sair de casa, como sabia que não ia ter ninguém em casa? Se foi a caminho de Maria Vinagre e ficou em Aljezur devido ao mau tempo, voltando mais tarde encharcado, mente, pois o Ferman foi para os mesmos lados e não se molhou assim como ele diz. Basta verificar um mapa de Portugal e ver a localização das três localidades referidas no texto para ver que o Franganote Alçapão está a mentir e foi após ter ouvido o passeio do Ferman que o inspector Serôdio viu quem era o culpado, pois a chuva não havia sido tanta como o Franganote estava a “pintar” nas suas declarações.

É que a estrada que vai até à Praia de Odeceixe passa pelas outras duas localidades e temos como estrada principal desde Lagos ou Sagres, para quem se encontre em Alfambras, a obrigatoriedade de seguir por Aljezur, Rogil, Bunheiros, Maria Vinagre, Odeceixe e Praia de Odeceixe (este percurso, um desvio da estrada principal).

Assim, temos o ladrão da caixinha como sendo o Franganote Alçapão.

© DANIEL FALCÃO