Autor Data 14 de Fevereiro de 2016 Secção Policiário [1280] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2016 Prova nº 1 (Parte II) Publicação Público |
O MISTÉRIO DO CARRO DESAPARECIDO Ferra Hary Alécia olhou pela janela e procurou com os
olhos o carro que devia estar estacionado à sua porta, mas não o encontrou.
Resignada, recolheu-se e regressou à sala onde três rostos ansiosos a
aguardavam. – Vamos lá voltar ao mesmo
assunto: Qual de vocês levou o meu carro esta noite e onde o deixou, antes
que ligue para a polícia? Quero uma resposta rápida… Joca? – Não faço ideia, não fui
eu que o levei. Já disse que saí ainda não era meia-noite, mas fui a pé até à
esquina da avenida onde apanhei um táxi para o bar do Alex, para onde vou
muitas vezes curtir com amigos. Eu não mexi no carro, nem lugar há por lá
para estacionar, é sempre uma confusão… – Isso é uma linda música,
mas de outras vezes levaste o carro e até já me obrigaste a ir busca-lo à
polícia por ter sido rebocado do passeio ao pé do bar! Deves estar a brincar
para fazeres esse ar de quem jamais faria uma coisa dessas… Juca? – Eu… eu não fui. Há meses
que não entro sequer no carro… desde que fui contigo ao dentista, acho eu.
Sabes bem que não gosto muito de andar num carro que não é meu, pode
acontecer alguma coisa e depois é uma chatice. Ontem à noite estive a ver um
filme no meu quarto e depois fui até lá abaixo, à rua, fumar um cigarro… Não
mexi no carro! – Pois, pois, tão bonzinho
que o menino é! Era lá capaz de pegar no carro de alguém para ir para a
borga! É um espanto como se esquece das vezes em que levou o carro e me
obrigou a procurar outros transportes porque ia passear com a namoradinha e
esquecia-se de regressar a horas… E já agora, diga lá se ao sair para fumar o
cigarro, como diz, não se cruzou por alguém e lhe falou? Diga lá! – É verdade, sim. Cruzei-me
pelo Alex que ia a sair. Mas como não sou denunciante, não ia acusar o meu
irmão, não é? Não foi isso que nos andaste a ensinar estes anos todos? Não? E
falámos, é certo. – Muito bem, mas o carro
continua desaparecido… Alex? – Ó mãe, eu não quero saber
disso, eu não fui, ponto final. – Ponto final? Ponto final?
Então sai de casa quando o seu irmão, vindo de fumar um cigarro, está a
entrar… troca com ele umas palavras… que palavras? – Ora, nada de importante,
acho que ele pensou que eu ia sair no teu carro e disse-me que tivesse
cuidado porque a polícia estava a fazer stop na avenida e o teu carro tem uma
luz fundida. Foi isso, mais nada. Satisfeita? – Satisfeita? Achas que fico
satisfeita por ter três filhos que só me dão ralações e chatices? Afinal,
levaste o carro ou não? Se levaste, diz onde o deixaste e o que aconteceu, é pedir muito? – Já disse que não levei o
carro. Por acaso pensei levá-lo para não ter de ficar à espera do metro, de
noite circula-se bem e era muito mais rápido, mas depois do mano me ter dito
que havia polícia e a luz estava fundida, pensei melhor. Vim cá acima deixar
a chave no sítio dela e fui-me embora. Não faço a mínima ideia o que
aconteceu, mas se calhar roubaram-no! – Menino Juca? Afinal em
que ficamos? – Ora, mãe, ficamos em
nada! Já disse que não levei o carro, o que queres mais? Avisei-o para não
haver problemas, porque de dia a falha da luz não é problema, ninguém sabe
nem repara, mas à noite, ia dar chatice pela certa! Quer dizer, por bem
fazer, mal haver! – Coitadinho do menino, que
pena que tenho… Ficam a saber que vou chamar a polícia e denunciar o roubo e
se foi algum de vocês, já sabe o que o espera,
porque não vou mexer uma pena para safar quem quer que seja! Estou farta! Já
não vos consigo aturar… Pergunta-se, para ajudar
esta mãe, que bem precisada está, com os filhos que tem: Quem terá levado o carro
naquela noite? A – Joca? B – Juca? C – Alex? D – Um ladrão exterior à
família? |
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© DANIEL FALCÃO |
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