Autor Data 15 de Abril de 2006 Secção Publicação O Almeirinense |
ACONTECEU COM A TEMPESTADE Figaleira O
magnífico iate onde os convidados do Barão W. se tinham reunido para um
cruzeiro mediterrâneo, lutava corajosamente contra a violenta tempestade que
se fazia sentir há três dias. Tentava
mergulhar-me na leitura de um livro mas o balanço do barco desencorajou-me.
Dirigi-me, então, à ponte de comando para falar com o comandante quando, a
meio do percurso, ouvi uma detonação. Conjecturando
o local de onde viera o som, retrocedi e entrei num pequeno salão para o qual
davam as portas de vários camarotes. Um
criado estava debruçado sobre o corpo de um homem. Nesse mesmo momento, um
fortíssimo balanço atirou-me de encontro à porta que acabava de fechar e tive
a maior dificuldade em equilibrar-me e aproximar-me da vítima. Esta
apresentava um buraco na testa e as queimaduras existentes à volta da ferida
mostravam que a bala fora disparada à queima-roupa. Sem
esperar que acalmasse a tempestade, pedi ao Barão W. que me ajudasse no
inquérito. Comecei por interrogar as pessoas que se encontravam mais perto do
salão onde aparecera o corpo. O criado que primeiro acorrera ao salão
declarou não ter encontrado ali ninguém. Georges,
conhecido banqueiro, foi interrogado a seguir. Fora uma das primeiras pessoas
a aparecer no salão. “Estava no meu gabinete a escrever uma carta” disse ele.
“Posso ver essa carta?” perguntei-lhe. Georges
voltou instantes depois e apresentou-me a carta aparentemente dirigida a uma
mulher, escrita com letra firme e elegante, que não estava ainda terminada. Seguiu-se
Marjorie, jovem cativante artista, que confessou: “Aterrada
com a tempestade, refugiei-me no camarote do meu noivo. Jean-Louis”. Esse
camarote era fronteiro do de Marjorie. Jean-Louis
confirmou o que a noiva dissera e acrescentou que se não saíra mais
rapidamente fora para não comprometer a noiva. No entanto, notei uma mancha
de sangue no casaco dele. “Feri-me esta manhã”, disse o rapaz com ar
embaraçado. Não
foi necessário prosseguir o inquérito. Pensei para mim que o criminoso já
tinha sido desmascarado. Pergunta-se:
Quem é o culpado? Como chegou a essa conclusão? |
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© DANIEL FALCÃO |
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