| Autor Data 1 de Abril de 1976 Secção Competição Policiário nº 10 Publicação Mundo de Aventuras [131] | Solução de: MENOS UM COELHO VIVO…  …NO TEMPO EM QUE OS ANIMAIS FALAVAM! Fong Si Yu Em
  primeiro lugar, e já depois de ver publicado o meu original no nosso «M. A.»,
  verifiquei que, nem com muita técnica e boa vontade, seria possível construir
  urna «caixa», sem fundo, nem tampa,
  com apenas quatro prumos, ou estacas, e quatro pedaços de arame… Creio que
  não deve passar pela cabeça de ninguém, tal coisa. Há ali uma valente «gralha»!... Onde está «pedaço de arame», devia estar, e
  portanto deve ler-se, «pedaços de rede
  de arame»! Outra
  «gralha» se verifica no «quadrado da caixa»… Mas creio que todos me
  perceberam, e desde já lhes presto justiça!, ciente
  de que, com a habitual e proverbial boa vontade dos solucionistas, tudo foi
  remediado, até porque, não será isso que vai influir para acertar, ou não, no
  criminoso… Tal
  como vocês, quando comecei aqui em «Mistério…
  Policiário», não percebia nada de nada deste género, nem hoje ainda
  percebo muito. No entanto, por pormenores espalhados nos comentários do «Sete» por aqui e por ali e nos textos
  de autores, e mais ainda nos solucionistas «veteranos» - já aprendi que não devemos ir atrás dos indícios ou
  das aparências que nos encaminham directamente a um
  ou vários dos suspeitos… Quando nos apontam directamente
  para A ou B, começo logo por desconfiar, e vou primeiro procurar outras
  coisas, e às vezes nada encontro… Aqui,
  neste meu «MENOS UM COELHO VIVO…», preocupei-me em deixar setas-indícios a apontar
  para dois presumíveis culpados e a dar, muito disfarçadamente, um «grito» para apontar para outro lado, com
  a adição dos pêlos cinzentos na parte superior do arame…
  Isto é, pretendi que a maioria, sem se preocupar com raciocínios e deduções «post», fosse
  logo de imediato encaminhada no seu subconsciente para dois dos prováveis
  criminosos, conhecidos, por antecedentes, como ladrões, vorazes e
  sanguinários… Casos do Furão e do Gato… Por outro lado, sabendo eu que o
  meu cão «Setter»,
  «velhote» de 18 anos, é um
  pachorrento e sonolento amigo, que para mais nada serve se não para dormir…
  não lhe dei qualquer oportunidade de entrar no âmago do problema. Assim, pela
  cor do pêlo, pela estreiteza do buraco e falta de
  campo para formar o salto e fazê-lo ultrapassar a rede de arame, de dentro
  para fora, pu-lo de parte… Mas… subrepticiamente, deixei ficar ali os pêlos
  cinzentos que, aliados ao «grito»
  da vitória de uma ave de rapina, também violenta e voraz nos vão dar a
  solução…  Mais,
  eu conto… e vou responder como vocês o deviam ter feito:  1
  – A Águia. –
  Aqui, vamos em primeiro lugar ilibar os três outros suspeitos.  Cão:
  não temos abertura para ele entrar e se não há para entrar, também não há
  para sair. (E porque é que não temos abertura?... O
  texto diz-nos somente: «Ora, ontem,
  descobri que junto à base de uma das estacas, o arame (rede) estava solto».
  Convém também esclarecer aqui, e desde já, que se entende por base, a parte da estaca que está junto
  ao solo, e não a sua ponta que está a um metro lá para o fundo do terreno…
  Tal e qual como quando se diz, ou escreve, a base do poste da baliza tal, no futebol, se quer dizer a parte
  junto ao solo, à relva e não aquela que está enterrada… Mas dizia eu que o
  texto nos fala em rede solta… Solta, despregada do poste, ou prumo, ou estaca…
  Por isso fui buscar martelo e pregos…
  Quero dizer que, não havia «buraco»,
  não «faltava rede»… Quero pois dizer que, um
  corpo, igual ao de um cão, não entraria ali… Como não entraria o de um gato
  corpulento… Porque se isso fosse
  possível, também já os coelhos tinham fugido…). Mas continuemos a falar
  do cão… Não entrava, logo não podia sair… E se o querem fazer saltar «para dentro»… Um
  mais novo, com campo de corrida à sua frente, é natural que o faça. Entra,
  mas não sai, pois não tem campo de corrida para formar o salto… Por outro
  lado, o criminoso não ia ficar com
  a vítima junto a si… E também não
  teria tempo de fugir lá de dentro, com o láparo, no espaço que medeia entre o
  grito e o meu aparecimento… Creio
  que todos concordam que o podemos ilibar! Vamos agora ilibar o  Gato: um gato
  vulgaríssimo de Lineus… Um daqueles tarecos que
  todos nós temos em casa. Nem muito grande, nem muito pequeno… Vulgar. Se
  fosse dos grandes anafados, não entraria… Tal como já explicamos acima… E
  volto a repetir: a rede tem de estar solta numa área ou superfície tal que
  não possa dar entrada nem ao cão, nem ao gato! E porquê?...
  Elementar, como já expliquei: se os de fora entravam… os coelhos, de dentro,
  também saíam!... Isto é – a coisa, tem de ser vista de tal maneira, que dê
  para os dois lados… Nada há, que nos diga, que só devemos ver o problema «pela entrada». Se essa espécie de
  abertura fosse suficiente para entrar o cão, ou o gato – seria suficiente
  para a saída de um ou vários dos «coelhos
  gigantes»! E também aí haveria pêlos
  cinzentos!...  Logo,
  o gato também não entra!... Mas, tentando
  fazê-lo entrar à força, como certamente alguns colegas vão propor e
  tentar… temos que: a) se se trata de coelhos gigantes (e para os menos prevenidos
  para aqueles que nisso nem sequer pensaram ou para aqueles que o desconhecem,
  informo que o coelho gigante, com 2
  meses – é o nosso caso, pois que comprei o casal há 3 meses e se descontar o
  mês da gestação, temos os láparos com, mais ou menos, 2 meses – mede,
  normalmente, 30 cm de comprimento e pesa… 2 quilos!) eu queria que me explicassem
  como é que um simples e vulgar gato, forçado
  a entrar por vocês, vai lutar com um animal daquela corpulência e peso…
  vai abocanhá-lo… vai transportá-lo… E se quiserem que ele vá por cima do
  arame-rede, como é que ele vai saltar?... (Fixem
  também que a rede para coelheiras de coelhos gigantes, tem, pelo menos, nos
  pentágonos ou exágonos, de que é formada, urna
  polegada de lado, o que nos vem a dar uma «abertura» de uns 4 a 5 cm). Não só pelo seu peso, como pelo peso
  que teria de transportar (que certamente não ia «às costas»…)
  onde é que ia meter as patas?... E quando chegasse lá acima, como faria?... E se houve o tal grito e eu vim logo a
  correr… Onde é que está o tempo para isso tudo?...
  Mais: como justificam esses que querem
  obrigar o gato a ser o criminoso que ele soubesse que eu ficara a ler o
  jornal? Qual é a possibilidade deste saber?... Só lá estando!!! E onde estava quando foi chamado?... Lá,
  a dormir no sofá!!! Ora se «esteve lá» e… «estava lá»… Se eu ouvi
  o grito e vim a correr – onde há
  tempo para o gato trabalhar? Mais,
  vocês já viram, ou são capazes de fazer com que um gato, ou mesmo um furão,
  suba urna rede daquelas na vertical?... Tentem, porque
  ganhariam enorme fortuna no «Barnum» ou no «Bill Smart»!  Quanto
  a ter sido acusado pelo furão… Aquele era dos tais que tinha a consciência
  tranquila; nada fizera; não era nada com ele; não cometera qualquer crime –
  pois então os «furões que ladrassem
  porque a caravana continuaria a passar…». Falar?...
  Levantar questões?... Para quê?...
   E
  postas todas aquelas ideias, vamos ilibar o gato – o meu Tareco!  Aparece-nos
  em terceiro lugar, o furão!  Furão:
  animal albino, não se esqueçam, que vê mal à. luz do dia… o furão é bom, é óptimo,
  na penumbra ou às escuras! Às claras, como se costuma dizer – à luz do dia –,
  falha! Primeira coisa, já: se ele andava lá pelo quintal à caça das
  ratazanas, andava, por certo, por lugares esconsos e escuros!... Certo! Via
  ali razoavelmente, caçava o que via… Como pode ele ter visto o gato entrar na
  coelheira?... Para o fazer se o tentasse, teria uma
  mudança brusca de luz nas pupilas! Se ele, já de si, vê mal à luz do dia, com
  a mudança da luz, veria muito menos! Mentiu!
  E mentiu, porquê?... Vamos lá a ver se justificamos
  os pêlos amarelos que estão na base da estaca, num
  prego, de onde a rede se soltou… Pois foi!... A rede soltou-se porque foi ali
  forçada… E forçada, de noite, pelo furão… de dia, nunca o faria!
  Simplesmente, ou por demora, ou porque de facto se tivesse «picado» bastante,
  ou pela presença de um dos outros, abandonou a ideia… Mas os pêlos ficaram lá! E porque não os tirara… mentiu!  Mas… Para aqueles
  leitores que o querem forçar a ser o
  criminoso, eu pergunto: se ele, como furão, entrou a raspar a pele pelo
  prego e rede, como vai sair, abocanhando um láparo com 30 cm e 2 quilos de
  peso… sem lá deixar ficar um único pêlo cinzento?... E também, pelo anterior, «ambos» não podiam sair por ali ao
  mesmo tempo! Por cima?... Também como já verificaram
  pelo anterior, impossível! Uma rede não é uma superfície lisa!...  Razões
  suficientes, para, tal como os anteriores, o
  ilibarem!  E
  pronto! Vamos, agora, já que sabemos as razões dos pêlos
  na base da estaca e de quem – saber a razão dos pêlos
  no cimo da rede e porquê!  Ilibados
  três dos animais, ficamos com o criminoso apontado para o quarto animal que,
  no nosso caso, é a águia.  Já  o
  afirmámos!... Já ilibamos os três outros!... Vamos agora, condenar o
  criminoso!  Só
  a águia pode ter retirado o coelho gigante de dentro da coelheira! Verificada
  a impossibilidade daqueles cerca de 30 cm e 2 quilos de peso, saírem por baixo,
  livremente, ou obrigados (e isto ainda menos!) só nos resta, fazê-los sair
  por cima, a raspar, a rasar a rede e a deixar lá ficar alguns pêlos cinzentos!  Verificámos
  a impossibilidade de ter sido o cão a fazê-lo, como verificámos que nem o
  gato, e muito menos o furão o conseguiriam… Peso demais para eles…
  Impraticabilidade na subida… Impossibilidade na transposição do cimo da rede…
  A aliar a tudo isto – FALTA DE TEMPO!...  A
  águia, tem todas as condições para o fazer… Faz
  várias tentativas, de quem anda atrás dos pardais e por isso se aproxima cada
  vez mais do quadrado que está lá em baixo e dentro do qual estão 3 láparos e
  os pais!... Numa das vezes, «peneira»
  ligeiramente, o ar mal bole, e ela vai ferrar as garras traiçoeiras e
  violentamente num dos láparos!... Ao sentir a presa fortemente cravada, lança
  o seu grito de vitória, que só
  acontece quando fila animais de grande porte! Eleva-se para sair, mas também
  para ela o espaço lhe foge e o coelho, suspenso nas garras aduncas vai raspar
  no arame-rede, ali deixando pelos… Após o grito da
  vitória, o contratempo da resistência oferecida pelo entrave da rede, são
  suficientes para a desencorajar a continuar e, inteligente, ou cautelosa, num
  voo rápido e rasante, deixa o láparo já sem vida junto ao cão… para que aquele
  aponte um outro criminoso!...  O
  resto é conhecido!  A
  águia continuou a disfarçar na perseguição aos pássaros e, para que não
  dissessem coisas, apanhou mesmo um… Aliás também ela fala verdade quando diz
  que lá em baixo, na coelheira, nada viu de extraordinário – o que houve, foi
  feito por ela!  E
  para finalizar aqui ficam as vozes
  dos animais que mais nos interessam para a resolução do problema:  Cão – ladra, late,
  rosna, uiva e caínha.  Gato – mia, rosna,
  sopra, bufa, ronrona e roufenha.  Furão
  – chia.  Pardal
  – chilreia., chilra, chia e chirla.  Rato – chia.  Coelho
  – chia e guincha.  Águia
  – grita!  Fui
  demasiado extenso!... As minhas desculpas! Não só o «Sete» diz que uma boa
  solução tem de ser extensa, como também já aprendi com as poucas que
  tenho visto e donde destaco as de Big-Ben e do Jartur.  Ao
  «Sete», o meu obrigado por permitir
  que escrevesse como desejei! Se as classificações não agradaram, sempre
  direi, que «nem sempre mel, nem sempre fel»… O melhor é combinar os dois!... (Máxima
  chinesa!)  | 
| © DANIEL FALCÃO | |
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