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Autor Data 1 de Novembro de 2025 Competição Torneio do Cinquentenário de
“Mistério… Policiário” Problema nº 11 Publicação Blogue A Página dos Enigmas |
O GORRO VERMELHO Fotocópia Ouviu-se o
apito que sinalizava o fim da partida. Bocas abriam-se
proferindo gritos, alguns de apoio outros de escárnio, mantendo o ambiente
infernal. Mãos batiam palmas, umas celebrando a vitória outras de
agradecimento pelo esforço dos derrotados, ainda que pelo meio umas
preferissem mexer certos dedos simbolizando felicidade ou injúria. Vozes
roucas, gargantas roxas, juntavam-se ao som de tambores, cornetas e outros
objetos que servissem para fazer barulho.
Era nesta
envolvente frenética que se procedia aos habituais cumprimentos entre os
intervenientes no final do jogo. Jogadores, treinadores, delegados, árbitros
entre outros, trocavam palavras e gestos, uns mais quentes que outros, em que
os companheiros mais pacientes acalmavam os ânimos. Um dos árbitros chegou a
libertar as mãos enrolando o apito no seu cordel para tirar o cartão vermelho
do bolso, mas acabou por não o mostrar a ninguém tendo a situação sido
regularizada sem a intervenção dos juízes. Emoções! O que
seria o desporto sem elas? A desordem
ruidosa ia terminando, ficando pequenos grupos de adeptos que ainda
deambulavam pelas bancadas. A equipa de arbitragem, chateada e cansada deste
jogo renhido difícil de ajuizar, terminara já as suas funções e apressava-se
para o seu balneário. Um deles pegara nas suas coisas com rapidez tal que metera
tudo na sua mochila sem ordem, deixando a mala mal fechada ficando à vista o
que pareciam uns cordéis a baloiçar para fora do fecho. Passaram pelos homens
da limpeza, um muito mais velho do que o outro, que estavam encostados à
parede da entrada que ligava o campo aos balneários. – Boa noite e
boa sorte, isto ficou em pantanas. – Diziam os árbitros de fugida aos homens
da limpeza enquanto ainda levavam com apupos de dois adeptos da casa que
permaneciam na bancada. Um com uma t-shirt com o número 7 nas costas, outro
com um gorro que continha duas espadas cruzadas em “X” na zona da testa como
símbolo, não respeitavam os avisos dos seguranças. – Senhores
árbitros… – balbuciou de forma sucinta, em jeito de cumprimento, o velho
puxando ligeiramente a parte da frente do seu gorro para baixo com o polegar
e indicador. Muito vira naquele clube e aguardava impacientemente, com o sua
esfregona encarnada e pano encardido, que todos saíssem do recinto para
iniciar o que fizera inúmeras vezes. Os Los Rojos, equipa visitante, tinha vencido. Motivo de
grande alegria que faziam questão de a demonstrar no balneário cedido pelo
clube visitado. Cânticos eram proferidos, – Vamos levar daqui umas
lembranças… lembranças daqui vamos levar… – ao som de palmas que ecoavam pelos
corredores dos vestiários, chegando o som abafado, mas ainda audível ao
balneário dos derrotados. – Oiçam-nos! – dizia o treinador da equipa visitada dirigindo-se aos seus
jogadores – o que pensam disto? Foram eles que ganharam ou nós que perdemos?
Estou a ver que a alegria dos Rojos vos é indiferente… Alguns
elementos ainda apresentavam olhos enervados e visão turva, faces rubras do
esforço físico. Outros misturavam essa cor com a vergonha por terem perdido
em casa contra o rival. – Não foi nada
disto que trabalhámos… o que aconteceu no jogo? – continuava
o treinador, estando ele próprio abalado pelo desenlace da partida. Entre este
balneário que continha um monólogo e o outro que continuava em festejos,
encontravam-se os dois homens da limpeza que tinham iniciado a sua labuta. – Tolos, todos
eles, quero lá saber disto, só me dão é trabalho desnecessário… estávamos bem
era no Rouge a virar uns tintos – referindo-se ao bar Maison
Rouge situado não muito longe dali, sempre com clientes azarados, taciturnos
ou ambos. – Isso é que
era. – concluía o homem da limpeza mais novo. – E
aquele idiota do capitão… – Ainda por cima não recebemos nada de especial… o que vale
é que de vez em quando compenso com estes cinco dedos, não é verdade minha
encarnadinha? – dirigindo-se à sua esfregona,
fazendo no ar um gesto circular com o pulso e dedos em que, à sua vez, cada
falangeta tocava na palma da mão, começando pelo mindinho e terminando no
indicador. O homem mais
novo ria-se baixinho em concordância quando é interrompido… – Com licença!
– exclamou o delegado da equipa, quase pontapeando
os baldes cheios de água e detergente.
– Eh lá… –
exclamou o velho num misto de surpresa e comprometimento – onde vai com tanta
pressa? – continuou. O delegado
deixo-o sem resposta dirigindo-se à porta da sua equipa. Ainda com a
respiração ofegante rodou a maçaneta, abrindo-a. O treinador, virou-se de repente para trás, num misto de surpresa e
repreensão. Não gostava que entrassem assim no balneário, muito menos quando
ele falava com a equipa. – Peço
desculpa, mas estava a arrumar o material de jogo e deparei-me com a falta de
bolas de jogo, balizas fora do lugar, garrafas estragadas, quadro tático
rachado, toucas desaparecidas… – disse com aflição o delegado. O clube não
andava bem de finanças e após a derrota não era este tipo de notícias que se
desejava ouvir no seu seio. – Quando… –
respondia o treinador. – Nós podemos
dar uma ajuda quando sairmos daqui – interrompeu o capitão da equipa num
misto de coragem e oportunismo. O treinador
olhou para ele… passou rapidamente os olhos pela restante equipa. Percebeu
que o discurso que transmitia à equipa talvez tivesse de o fazer sozinho para
consigo… tinha de se debruçar sobre as verdadeiras razões destes
comportamentos da equipa em jogo, limpar a cabeça. Tudo o que dissesse agora
não ajudaria ninguém. Parou o olhar novamente no capitão, dizendo afirmativamente: – Equipa, vamos
respirar fundo, paremos por aqui. Vamos ajudar o nosso staff
a encontrar o material. Amanhã dou folga, voltamos na terça-feira em força! Alguns
jogadores entreolharam-se. Este comportamento não era comum no treinador,
embora alguns não tivessem gostado da intervenção do capitão (andavam fartos
das suas presunções, especialmente o guarda-redes suplente), outros sorriram
timidamente para o capitão em forma de agradecimento. Finalmente estavam
libertos daquele ambiente de cortar a respiração. Já no cais da
piscina… – Obrigado maltinha – felicitava o
delegado a alguns jogadores – obrigado pelas bolas, vocês agora vão ver o
resto ali…, Ò guarda-redes, os dois, vocês venham
cá, preocupem-se com os vossos gorros. – ordenava. – Olhe,
desculpe lá, tinha o meu gorro pendurado aqui com os cordéis atados no
fato-de-banho e com isto tudo nem dei conta. Mas está aqui! – Ok “redes”, o
gorro número 1 já está, vão lá encontrar o outro, por favor. – respondera o delegado.
Percebendo a
nova azáfama no cais da piscina o velho homem da limpeza e o seu parceiro
pararam com os seus afazeres, retirando-se rapidamente, desta feita para o
balneário dos árbitros que já se tinham ido embora, aproveitando para
limpá-lo… Assim que
terminava um jogo, era costume todos ajudarem a arrumar o campo e o material
de jogo nesta modalidade amadora. No entanto, devido às circunstâncias do
ardente jogo, praticamente todo o material foi deixado espalhado, à
mercê… Já poucos
permaneciam no local de jogo. Praticamente só estava a equipa da casa a
colocar tudo no devido lugar, juntamente com o restante staff
e treinador. Os homens da limpeza já se encontravam noutra parte do recinto e
dois últimos seguranças da empresa Às Sete Espadas faziam uma última vistoria
aos corredores e acessos aos balneários e bancadas. Esta empresa de segurança
tudo fazia para manter a ordem, “Seguro Às Sete Espadas”, era o lema. Por
sinal, estes dois seguranças já tinham enfrentado problemas com adeptos da
própria casa pois o capitão constantemente os instigava, tendo depois os
seguranças de sossegar a cólera dos torcedores. De repente
ouvem-se passos rápidos e curtos! Dois homens entram no balneário onde estava
o capitão. – Ei! Oi! O que
é isto?! – pergunta o capitão espantado. Este tinha se escapulido da tarefa de ajudar de arrumar o cais
da piscina e já se encontrava a tomar banho sozinho, quando foi surpreendido… – Era mesmo
isto que queríamos, apanhar-te sozinho, enquanto a equipa está ali entretida…
esta é por tudo aquilo que já nos fizeste passar… – berraram os infratores
enquanto davam uma surra ao capitão. – Olha-me para
este com uma tatuagem da carta 7 de espadas no ombro… – dizia um. – Deve ter a
mania, nem que fosse um ás, levava na mesma… – vociferava o outro. Os ainda
presentes na piscina ouviram a vozearia e acorreram ao balneário encontrando
o capitão sozinho deitado no chão em posição fetal derramando sangue de uma
das têmporas. Enquanto o
treinador ligava para o 112, o delegado ligava ao médico do clube que tinha
acabado de entrar no seu escarlate Porsche no parque de estacionamento, em
vista a que ele pudesse acudi-los. – Inconsciente,
mas vivo. – reitera o médico acalmando a restante
equipa, continuando com os cuidados médicos.
– Mas quem terá
feito este horror? – diz um dos jogadores. Entretanto
chegam ao balneário os dois seguranças.
– Vínhamos para
aqui, mas ao cá chegar vimos dois indivíduos a fugir do balneário… um deles
com uma t-shirt com um sete nas costas. – relata o
primeiro segurança, agarrando o outro adepto endiabrado pelo braço esquerdo. – E este
“menino” aqui era o outro delinquente. – continuando
o segundo segurança agarrando o braço direito do suposto agressor. – Larguem-me eu
não fiz nada… – gritava o adepto endiabrado enquanto esperneava. Os ânimos
exaltavam-se! Os outros jogadores estavam sedentos por agredir o pilantra! – Acho que eram
estes dois que só vinham aos jogos para cometer delitos, desde roubos e
ofensas a todos: árbitros, treinador e até ao capitão da própria equipa…
ainda há pouco acho que eram estes dois que insultavam os árbitros. – refere o primeiro segurança. – Admito! Eu e
o meu “sócio” viemos aqui roubar, esperámos até que estivesse menos gente e
menos seguranças…, mas não batemos em ninguém. – grita
o torcedor. – Roubar o quê?
– pergunta o delegado da equipa – penso que não haja
aqui nada de grande valor… – Tudo serve…
grão a grão… – diz em risos o de gorro com um símbolo de espadas em “X” na
zona da testa, esquecendo-se da dor causada pelos seguranças que lhe torciam
os braços. – Levaram
alguma coisa? – exaltando-se o treinador com todo
aquele teatro. – Só aquele
“capacete” vermelho que alguns de vocês usam, nunca percebi muito bem, só
venho para aqui beber e divertir-me com os meus “manos”, mal sei as regras –
soltando uma gargalhada – … estava no balneário dos árbitros… – sorria –
infelizmente não deu para mais nada, pois ouvimos uma gritaria do outro
balneário, parecia que estavam a matar alguém… e fugimos. Não fossem estes dois
“gorilas” terem surgido tão rapidamente… e terem me
apanhado logo e tinha fugido também com o meu “sócio”. – Nem mais uma
palavra… estás a mentir! – dizia o segundo segurança
enquanto lhe torcia mais o braço. – Amigos… –
interrompe o velho homem da limpeza – confirmo a versão desse infeliz. Eu e o
meu colega limpámos o balneário dos árbitros e vimos o gorro vermelho lá, nem
sabemos como foi lá parar…, mas ficou lá, nem lhe tocámos… – Não acredito
que o deixaram lá, não sabiam que estávamos a arrumar? – responde
efusivamente o delegado. – Queremos lá
saber! – grita o velho. Continuando o
homem de limpeza mais novo – Se não fossem estes jogos aos domingos à tarde,
já nos estávamos a divertir há muito… no… – Rouge? – interpela um dos jogadores a rir provocando reação
semelhante aos colegas de equipa. – Calem-se! – remata o velho. – Sim… –
mudando de assunto um dos seguranças – nós também vimos lá essa touca com nº
12 quando fizemos a ronda…, mas não ligámos muito… pedimos desculpa por isso. – Pois, ainda
pegámos nela e vimos bem a marca e o número para perceber se era da nossa
equipa, mas depois ouvimos passos rápidos no corredor e fomos investigar,
deixando lá a touca – diz o outro segurança. – Passos
rápidos deviam ser os vossos próprios, quando saíram do balneário onde estava
o capitão… – gargalhava o adepto já ajoelhado forçosamente pelos seguranças. – Vamos todos
permanecer serenos e aguardar pela polícia. – acalma
o treinador, trocando olhares com o delegado e a restante equipa,
questionando-se – porque é que eles teriam feito isto? – referindo-se
ao crime que acabara de acontecer. O treinador só não compreendia a causa,
mas já sabia quem era o par culpado. Ele, o delegado e os jogadores estavam
dispostos a serem testemunhas e a dizer quem eram os culpados à polícia. 1) Que
modalidade desportiva está subentendida no texto? 2) Quem é o par
culpado que o treinador, delegado e jogadores dirão à polícia? 2.1. Como chegaram a esta conclusão? 3) Por que
motivo esse par espancou o capitão? |
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© DANIEL FALCÃO |
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