Autor

Fransal

 

Data

Outubro de 1983

 

Secção

Mistério... Policiário [406]

 

Competição

Torneio “Do S. Pedro ao Natal” - 83

Problema nº 2

 

Publicação

Mundo de Aventuras [508]

 

 

UMA CORDA PARTIDA…

… UMA VIDA QUEBRADA!

Fransal

 

Quando o inspector chegou ao Nº 19 daquela rua, o vozear da turba anónima e morbidamente curiosa decresceu, para recrusceder em seguida. Ignorando-a, entrou na residência, deslizando qual enguia por entre seixos do leito de um rio em busca do local da desova, evitando contactos bruscos com as pessoas que a pé firme, e ainda que demasiado tempo tivesse passado sobre o incidente, os agentes uniformizados, não haviam conseguido demover para o exterior. Alcançada a porta de acesso ao apartamento, o inspector abriu-a, e depois de entrar e a fechar, o ruído atenuou-se nas suas costas.

O seu olhar atento captou de imediato dois pormenores: a grande secretária, postada no meio da enorme sala, por debaixo do lustre pomposo, para onde fora evidentemente, arrastada – e a cadeira almofadada, caída a cerca de metro e meio dela.

Cumprimentou com um ligeiro sorriso o sargento detective que o precedera no local e que se mantinha do lado oposto da secretária a olhar, meditativo. O perito procurava, afanosamente, sem desfalecer, indícios de análise laboratorial.

O cadáver, os fotógrafos da polícia e a imprensa, já tinham abandonado o local.

– Então?…

– Morto! – respondeu desnecessariamente o sargento-detective. E apontou um desenho a giz, no chão alcatifado, mesmo junto à secretária, o qual o inspector interpretou como sendo os contornos do cadáver, ainda na posição em que a polícia o achara…

Uma pausa. O sargento aproveitou-a para olhar o seu chefe, da esguelha.

– De borco… – acrescentou inesperada e azedamente. (O esboço mostrava a configuração de um homem estendido com os braços em arco, rodeando a cabeça.)

Mostrou ao inspector, de seguida, uma corda com aspecto de ser pouco resistente e já usada, com um laço corrediço.

– Partida? – perguntou o inspector.

O sargento não respondeu. Indicou o lustre, onde o inspector pôde ver o resto da Corda, presa no suporte do tecto alto.

– Rebentou… – concluiu o sargento.

O inspector deteve-se na contemplação da corda que voltava a espaços, nos dedos manchados de, nicotina. A extremidade por onde rebentara, apresentava-se esfiampada„ como se tivesse tentado aguentar um objecto demasiado pesado para a sua capacidade de resistência e, por último, cedido.

– Ferimentos?

– Uma circunferência violácea, quase negra, perfeitamente desenhada em volta do pescoço. Comparei a largura da equimose com o diâmetro da corda, e adaptou-se na perfeição!

O inspector guardou silêncio, movendo o laço entre os dedos perscrutadores…

– Ah, sim! – volve o sargento detective. – Uma ligeira fractura na parte posterior da cabeça, incapaz, segundo o parecer do médico legista de, por si só, lhe provocar a morte… E é tudo!

O «bruaá» do exterior eclipsara-se. O silêncio havia-se instalado como um novo personagem no ambiente, uma sombra interposta entre a linha de raciocínio dos dois homens e a verdade sobre o funesto acontecimento, que não tinham presenciado, mas que queriam ser racionalmente reconstituído.

 

E chegada a esta altura, cabe perguntar:

1 – Crime ou suicídio?

2 – Porquê? (Explique concretamente a razão da sua «escolha» anterior.)

 

SOLUÇÃO (não publicada)

© DANIEL FALCÃO