Autor

Gil

 

Data

13 de Dezembro de 1979

 

Secção

Mistério... Policiário [247]

 

Competição

Torneio “4 Estações 79” | Mini C - Verão 79

Problema nº 5

 

Publicação

Mundo de Aventuras [323]

 

 

Solução de:

HOMICÍDIO…

Gil

 

1.o – Baseado unicamente no texto, Brito apenas poderia dirigir-se a casa dos pais de Mário.

2.o – O que iria ele lá fazer?

Brito ia dar uma boa-notícia. Mário nunca poderia ter sido o criminoso.

Porquê?

Porque um casal de olhos azuis nunca poderia ter um filho com olhos castanhos (matéria do 1.o ano complementar dos liceus), como o assaltante tinha olhos escuros, logicamente…

É claro que neste problema parte-se do princípio que Mário é filho legítimo do casal, portanto, só pode única e exclusivamente ter olhos azuis porque: Apoiado nos meus conhecimentos sobre hereditariedade, sei que todos os caracteres hereditários são transmitidos por genes (um par para cada carácter), os quais estão divididos em 2 grupos, Dominantes e Recessivos (ou dominantes). Os genes dominantes manifestam-se sempre, sejam quais forem as circunstâncias, enquanto que os Recessivos só se manifestam quando existem 2 genes iguais, pois reunindo-se um gene recessivo com um dominante, só se manifesta o dominante enquanto o recessivo se mantém oculto. Depois de alguns estudos os cientistas determinaram quais são os genes recessivos e dominantes; assim, sabe-se que o gene transmissor da cor azul dos olhos é recessivo, enquanto que o gene transmissor da cor castanha é dominante. Podemos concluir que, um indivíduo possuidor de olhos castanhos, tanto pode ter os 2 genes castanhos, como ter um azul e outro castanho, pois a cor dos olhos será sempre castanha. Contrariamente ao que se passa com os olhos castanhos, um indivíduo de olhos azuis só poderá única e exclusivamente ter os 2 genes azuis. Uma pessoa que case com outra também de olhos azuis, só poderá ter uma descendência de olhos azuis, porque em todas as combinações que se façam com os genes dessas 2 pessoas, só poderá haver em ambos os genes azuis e, logicamente, também os seus olhos serão azuis.

Apenas em casos excepcionais é que se pode dar uma mutação a nível de gene, o que iria provocar uma mudança na cor dos olhos, mas se isso acontecesse seria apenas em um deles, sendo muito rara a probabilidade de isso acontecer em ambos.

Resumindo: um casal de olhos azuis só pode ter filhos com olhos azuis. A possibilidade de se dar uma mutação para que a cor dos olhos do filho desse casal mudasse para castanho, é uma probabilidade muito afastada e portanto fora de questão.

E o criminoso?

Neste caso não existe criminoso, ou se quiserem, não existem provas suficientes que incriminem algum dos suspeitos.

Assim, quem afirmar que foi o Luís por dizer a frase: «Você está a acusar-me de um crime que não cometemos», não tem os 100% de razão que são necessários para fazer afirmações deste tipo.

O facto do Luís estar a falar no plural, não implica que também esteja a referir-se a Inácio, que passou a noite sozinho, sem álibi. Se no texto houve dados que permitissem tirar essa conclusão, aceitaria que indicassem o Luís como criminoso, porque se ele afirmasse que o Inácio não tinha sido o criminoso e se este não tinha álibi, logicamente ou o Luís sabia quem foi o criminoso ou teria sido ele. Tudo isto estaria muito certo se Luís não estivesse mais logicamente a referir-se ao seu amigo João, que, segundo ele, o tinha acompanhado na noite do crime. É claro que não existe nada que o prove, mas também nada há que o contradiga…

Até que não seria muito lógico ser Luís o criminoso, pois ele tem álibi; é claro que este podia ser forjado, mas quem o pode afirmar?...

E o Inácio?

É claro que vai haver alguém que ponha as culpas nele, baseando-se no facto de: na hora do crime, Inácio passeava pela vila e se a vítima deu um agudo e prolongado grito, Inácio deveria tê-lo ouvido, se ele não o menciona ao detective é porque estaria a mentir, e se estava a mentir…

Quem pensar assim não tem bases para se apoiar, porque: 1.o – Brito não pergunta directamente se ele ouviu ou viu algo de anormal durante o passeio, se Inácio ouviu o grito, o facto de ele não o mencionar não implica que esteja a mentir, pois como já disse, não foi feita nenhuma pergunta que o levasse a mentir. 2.o – No texto nada nos indica se a vila era grande ou pequena, se havia vento ou não, se Inácio passeava longe ou perto da vivenda, se esta estava situada no centro ou no perímetro da vila e nada nos indica, se no caso de haver vento, qual a sua direcção. Não havendo nenhuma destas indicações que apontei, não é possível concluir se Inácio ouviu ou não o grito da vítima.

Para terminar, aqueles que ilibaram o Mário baseados apenas no facto de ele à uma da manhã estar embriagado e por isso não poder ter sido o criminoso, pois não teria sido capaz de dominar a vítima e o guarda, já que não estava suficientemente lúcido para o fazer; aos solucionistas que assim pensaram, continuam a não terem bases onde se apoiar, pois o texto não diz em que momento Mário se embriagou… tanto poderia ter sido 5 minutos como 5 horas antes.

Neste texto existe apenas um pormenor incontestável: o assaltante tem olhos escuros. Mário tem olhos azuis; logo, Mário não é o criminoso. Tudo o mais, é pura especulação.

© DANIEL FALCÃO