Autor Data 14 de Junho de 1979 Secção Mistério... Policiário [221] Competição Torneio
“Detective Misterioso" Problema nº 8 Publicação Mundo de Aventuras [297] |
CRIME OU SUICÍDIO… EIS A QUESTÃO Hal Foster Junto
da janela, Jack permanecia imóvel, ausente… Frank
depois de se certificar que Norah estava morta
deitou um rápido olhar pelo quarto, um olhar de profissional: a mesa de
escrever junto da parede com estante dos livros ao alcance da mão da
escritora. Outra mesa com gravador e um par de pequenos cadeirões a um canto
do quarto. Na
parede oposta, uma estante cobria-a toda; cheio de livros e nada mais. Ao
fundo um cadeirão extensível e sobre a mesa de trabalho algumas folhas de
papel e livros de consulta, em ligeira desordem. E no solo, junto do cadáver,
uma pistola. E mais longe uma cápsula. Uma
papeleira oculta pela mesa, completava a lista dos objectos. Outro pormenor que tão-pouco escapou, foi o calor existente. Um
calor realmente sufocante. Um
potente calorífero colocado junto do cadeirão extensível e meio oculto pelo
mesmo. –
Frank… este quarto estava fechado por dentro, no trinco. Impossível de abrir
pelo lado de fora. A janela também está fechada… mas só no fecho inferior… –
Mau! Isso levar-nos-á a hipóteses de suicídio… –
Henry Kovac? Jantou muitas vezes connosco. Era
conselheiro de minha esposa Norah – disse Jack –;
porque o perguntas? –
Bem, é que o tipo como escritor que é tem uma forma inédita de idealizar as
suas novelas policiais. Apresenta o criminoso como herói solitário, lutando e
vencendo toda a organização policial. Pode mesmo dizer-se, analisando
intimamente as suas obras, que odeia a Lei. Ridiculariza-a em todos os pontos
dos seus livros, através de formas floreadas e semi-ocultas. –
Bem, bem… Quer falar-me da minha pobre amiga Norah. –
Surpreende-me, mister Kovac. Não lhe falei disso na
minha conversa telefónica!... –
Não, certamente, mas é fácil de deduzir. Norah
suicidou-se. Você é um amigo da família, e polícia. Aos polícias agrada-lhes
fazer perguntas. Como vê, é fácil adivinhar porque veio, mister Jack. –
Porém, não venho como polícia… Descura a ideia de assassínio? –
Norah assassinada? – pareceu
meditar. – Não é possível! A última vez que a vi andava muito amargurada, com
um ar muito triste. Como sabe, o tema dos seus livros era muito melancólico,
no entanto… Algo
chamou a sua atenção. Não só de Jack como do polícia. Um ruído
característico, como de… Água
correndo. –
Ali – indicou Frank. Pela
porta contígua à do quarto da criada de Jack estava a sair água. –
É na casa de banho… Frank
atirou-se contra a porta, mas estava fechada. Carregou com violência para a
derrubar, porém, resistiu ao primeiro golpe. Também
não existia chave, mas, sim, fecho interior. Frank
voltou a carregar e desta vez conseguiu arrancar o fecho. Ao
abrir-se a porta, apareceu perante eles o que todos temiam… Mary,
a criada, estava dentro da banheira meio vestida e, evidentemente, morta. A
torneira da água quente continuava a deitar… Jack
tinha-se encaminhado para a pequena janela – bastante alta – que comunicava
com as traseiras da casa. –
Por aqui – disse Jack. – Deve ter entrado por aqui… –
Não toques em nada – advertiu Corrigan. –
Não toquei em nada – negou Jack. Frank
Corrigan acercou-se. –
Um momento… está fechada!... E apenas no fecho inferior. Jack
abriu os olhos, exclamando: –
Céus! É verdade… assassinaram-na, da mesma maneira que a minha mulher. Pelo
menos o procedimento tinha sido o mesmo. Um quarto fechado por dentro, com
uma janela também fechada e ambas sem possibilidade de serem abertas do
exterior. Tudo
indicava como anteriormente, suicídio. Averiguações
mais profundas, sobre possível legado na vida particular das duas jovens (Norah e Mary) soube-se que esta última tinha umas terras
incultas cujo valor nos últimos tempos havia subido, dado que uma sociedade
de milionários tinha em vista, nesses terrenos, montar um complexo de
veraneio. Isto, passa-se nos Estados Unidos onde existe o legado dos
bens às pessoas mais próximas. No caso da morte de Mary, a beneficiária seria
Norah, por inexistência de familiares da primeira. Kovac no momento do
assassínio de Mary encontrava-se no Comando da Polícia. Um seu empregado, Davy Reynolds, foi visto momentos após a morte da
servente, nas traseiras da própria casa onde teve lugar o crime, calçando
luvas. O
inspector tinha a sensação analisando Reynolds, de
este não ser de mentalidade completamente sã. Kovac interrogado
disse: –
Davy é capaz de fazer chantagem até com o seu próprio
pai; uma das suas fontes de receita é fazer fotos das raparigas meio
despidas; qualquer que seja a maneira como o consegue o que se sabe é que tem
sucesso em vendê-las… Frank
disse para consigo que todas as coincidências eram significativas. O próprio Davy dava a impressão, apesar de deficiente, de ter
imaginação e inteligência, embora, convenhamos, fraco de espírito e de
vontade pouco farte. Kovac era seu director. Depois
de tudo, convenientemente, analisado Frank formou uma teoria. No entanto as
hipóteses de ela se verificar eram mínimas, aliás, tudo indicava para o
suicídio em ambos os crimes. Verificados os compartimentos das duas cenas,
não se encontraram impressões digitais diferentes das que se esperavam. Mas
nós, para não maçarmos mais, perguntamos: a)
Acha que houve suicídio? b)
Porquê? Baseie a sua afirmação demonstrando e tentando reconstituir as duas
cenas mediante a sua resposta a a).
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© DANIEL FALCÃO |
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