Autor

Helder Martinho

 

Data

9 de Março de 1978

 

Secção

Mistério... Policiário [156]

 

Competição

Torneio “Sete de Espadas"

Problema nº 2

 

Publicação

Mundo de Aventuras [232]

 

 

Solução de:

FOI APÓS O LEITÃO ASSADO…

Helder Martinho

 

Primeiro que tudo, haveria que situar o dia da semana…

Diz-nos o autor que «Num domingo, ao jantar (…) encontraram-se os três sobrinhos e o tio à mesa…»

Sabemos que é em Portugal, como o autor nos informa na abertura do problema e que «no dia seguinte»… foi depois do passeio «para melhor conhecer Lisboa»… que um dos sobrinhos, «José, precisando de falar com o tio», ao chegar a casa o vai procurar à biblioteca, encontrando-o morto…

Portanto, o tio foi morto na segunda-feira…

O autor afasta o suicídio, por impossibilidade de não haver ali arma, nem cápsula, e encaminha-nos para 3 suspeitos, que são, afinal os sobrinhos: José, João e Joaquim…

Sabemos, porque o autor também nos diz, que todos eles tinham motivos «para ver desaparecer o tio, por morte», pois iriam tripartir metade da herança, que bem necessitados estavam, pelos casos apontados, de dinheiros frescos…

– João para pagar as dívidas, e continuar na sua vida nocturna

– José para, no seu jogo da Bolsa, reerguer-se da ruína…

– Joaquim, para o maior empreendimento da sua vida: montar uma fábrica de cerveja…

Entretanto, e pelo texto, o autor vai-nos entregando pistas:

a) enquanto dois dos primos «precisavam» de dinheiro, um, o Joaquim «precisava urgentemente»…

b) os dois primos, João e José «tinham ido passear», mas Joaquim «dissera que tinha ido…».

Como se verifica, há diferenças fundamentais e estas duas alíneas encaminham-nos para uma só pessoa –o Joaquim!

Mas há mais…

c) os três suspeitos, e primos entre si, conheciam mal Lisboa…

– João diz que foi «fazer compras na zona da Baixa» – pois podia, e nada há, no tempo e no espaço, que o pudesse impedir. Naturalíssimo que em tão vasta zona ele procurasse algo…

– José, «tinha ido passear para as bandas de Alvalade…» – pelo antecedente, também nada havia que o impedisse de ir até Alvalade, ao «Solar dos Leões», ou ao bairro…

– Joaquim, entre os três, é o único que menciona, para o seu álibi, um «local exacto e determinado» a Torre de Belém…

Logo, e também por esta alínea, o autor nos amarra ao «sobrinho Joaquim»… Lá iremos à Torre…

d) mas… psicologicamente, quer afastar-nos dele, porque escreve referindo-se àquele sobrinho do morto: «O Joaquim era um homem honesto, fiel seguidor de seu tio e estava a prosperar cada vez mais no ramo industrial…» Pois era… Simplesmente, esta última parte traz-nos logo à ideia aquele indivíduo «glutão» a quem o dinheiro cega..., porque cada vez quer mais dinheiro e mais poderio… Aquele indivíduo a quem a ambição descontrolada oblitera o pensamento e nele os valores morais, razão por que, a ele se podem aplicar uma série de máximas que todos conhecem e que não vale a pena perder tempo a repetir. Mas é mais um elemento/pista para dele se desconfiar…

e) também, e como pista, o autor, por alguma razão, escreve: «O inspector veio com o seu amigo Jacinto – intérprete de profissão e bastante conhecedor da cidade de Lisboa».

e vamos verificar que isto deve ter muita utilidade quando, no texto, é o próprio Jacinto quem bota a última fala: «Já sei quem é o assassino. Porque é que não me teria lembrado mais cedo! Até é fácil…»

Isto quer dizer apenas que, no texto, há dados que levam um técnico de turismo a ver, primeiro que qualquer outro, um erro… ou falsa declaração de um dos suspeitos, dentro do seu ramo.

e já vimos que só um localiza o seu álibi: «nessa manhã tinha ido visitar a Torre de Belém…» Repare-se: «visitar» e não «ver» ou «admirar»

Aqui está o busílis… O «assassino» não fora visitar a Torre, porque esse tempo foi para cometer o crime… Porque, se tivesse ido à Torre, teria verificado que a mesma encerrava às segundas-feiras! O tal dado que qualquer leitor poderia obter através de publicações turísticas nacionais ou estrangeiras… e não só!

© DANIEL FALCÃO